04/11/2013

A Europa concorda com Salazar

Miguel Mota 
        Salazar, talvez por ter visto o que foi o parlamentarismo português nos 16 anos após a implantação da república, que levou o país a uma situação quase tão má como a que vivemos em 2013, decidiu que a Assembleia Nacional não deveria ser um poder legislativo independente do executivo, mas apenas um areópago para aprovar o que o governo decidisse. Cometeu o ''erro'' de deixar qualquer cidadão candidatar-se a deputado e viu-se “obrigado” a pôr variados entraves às  eleições, não fosse o caso de irem para a Assembleia Nacional alguns deputados ''inconvenientes''.
Os que fizeram a actual Constituição tiveram o cuidado de evitar esse risco e, pura e simplesmente, proibiram os cidadãos de se candidatarem e só os autorizam a 
votar nas listas (com ordem fixa e imutável!) elaboradas, tão ditatorialmente como as da antiga União Nacional, pelas chefias dos partidos, os actuais ditadores. E, assim, há a certeza de que não estará na Assembleia da República qualquer deputado ''inconveniente''. Com essa garantia, pode deixar-se o povo protestar à vontade. As pessoas vão para casa satisfeitas porque puderam protestar e, por essa razão, pensam que estão em democracia. A outra é que era ditadura, que nem as deixava protestar!
A Europa pretende que o parlamento - o antigamente ''legislativo'' - seja apenas um carimbo para dizer ''Aprovado'' a tudo o que o governo desejar. (Ver “Onde está o Legislativo?”, Público de 20 de Agosto de 2013).

Como nos outros países da Europa os cidadãos  ainda têm eleições mais ou menos livres - Portugal está mais “adiantado”... - quando Merkel ganhou as eleições sem o seu partido ter maioria absoluta, vinha nos jornais a pergunta ''com quem ela irá governar?'' Na Europa, se o governo não tem o parlamento ás suas ordens, considera-se que o país é ''ingovernável''. Era essa, precisamente, a opinião de Salazar.