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Mário de Oliveira |
Temos de
meter ao fundo a Europa do euro. Já. Nunca ela haveria de ter nascido. E, em
seu lugar, erguer/construir a Europa dos povos, das mulheres, dos homens dos
múltiplos países deste velho continente. Ou metemos ao fundo a Europa do euro,
ou desaparecemos. Aliás, nunca existimos verdadeiramente, até hoje, como Europa
dos povos, como continente plantado de seres humanos, sororais, livres,
autónomos. E, então, desde que o cristianismo se fez, ele próprio, a Besta do
império, no lúcido dizer do Livro do Apocalipse, escrito para o denunciar e
meter ao fundo, numa altura em que essa mesma Besta era oficialmente
apresentada/cultuada como Deus, e todos porfiavam em ter a marca dela no seu
corpo, nunca mais a Europa conheceu a Sororidade, a Liberdade, menos ainda, a
Igualdade. Sempre temos sido joguetes do Poder e não sabemos sequer de nós
próprios, muito menos dos que nos rodeiam. Que o cristianismo e todas as outras
religiões suas congéneres têm esse condão: apoderam-se das mentes dos povos e
eles tornam-se povos alienados, sem saberem deles próprios, nem de quantos os
rodeiam. E sem saberem do planeta que pisam e sobre o qual navegam,
ininterruptamente, em volta do sol. De tão alienados que são-vivem, acabam
reduzidos a um enorme rebanho, carne para canhão, eternos sacrificados aos
diversos deuses que se alimentam de gente, servos da gleba, proletários,
assalariados por conta de múltiplos outrem, estes mesmos, assalariados também, mas
por conta do Capital, o Dinheiro.
Os governos
das nações da Europa do euro, são constituídos pelos mais cegos. Só assim têm a
confiança do Dinheiro, Poder financeiro. Os povos da Europa pensam que escolhem
os governos das nações, mas não escolhem. Os governos das nações são todos escolhidos
pelo Dinheiro, o Poder financeiro. Que escolhe sempre os mais cegos, em cada
nação, porque só os mais cegos lhe servem para ele pôr como guias à frente dos
respectivos povos. Só com governos assim, é que o Dinheiro, Poder financeiro
tem sempre garantido que os seus interesses são salvaguardados acima de tudo o
mais. Inclusive, dos interesses do planeta e dos interesses dos próprios povos
das nações. Mas, porque os mais cegos sabem-se governos das nações, têm-se na
conta de que são os que mais vêem. E quanto mais convencidos de que são os que
mais vêem, ou, até, os únicos que vêem, não hesitam em avançar sobre toda a
folha, para agradarem ao Dinheiro, Poder financeiro, que os escolheu e colocou
nesses lugares de destaque, cheios de privilégios, como pequenos deuses
caseiros, aos quais os povos sempre obedecem, ainda que uns quantos milhares deles
protestem nas ruas. Protestam, mas também eles obedecem e acatam as leis, as
decisões que os governos impõem.
Os povos, por
sua vez, possessos que têm estado, de geração em geração, pela
ideologia/idolatria do cristianismo e de todas as outras religiões suas congéneres
– até os ateus são religiosos, isto é, religados, egoísta e corporativamente,
do topo à base da pirâmide social, nunca religados, gratuita e maieuticamente,
ao modo de vasos comunicantes – vêem nos governos das nações, os escolhidos por
deus, aos quais sempre se deve obedecer, mesmo que as decisões deles lhes levem
o couro e o cabelo, os deixem na penúria, lhes tirem as filhas, os filhos, para
o serviço deles, inclusive, lhes exijam o sacrifício das suas próprias vidas. A
tudo os povos das nações estão dispostos, porque, depois de sacrificados/mortos
pelos governos das nações, são proclamados por eles como heróis nacionais ou
como santos.
Perguntaremos:
Mas como abandonar a Europa do euro, e tornarmo-nos a Europa dos povos,
gratuita e maieuticamente, religados uns aos outros ao modo dos vasos
comunicantes? A nós, povos das nações, cabe tomar tão importante decisão. À
revelia dos respectivos governos e seus aliados. O acto de decidir em
consciência pode ser mais ou menos rápido. A realização histórica dessa decisão
leva gerações. Importa, entretanto, estarmos conscientes de que a realização
histórica da decisão de meter ao fundo a Europa do euro, e, em seu lugar, erguer/construir
a Europa dos povos, passa sempre pela crescente dissidência/desobediência civil
aos governos das nações, pelo virar costas ao cristianismo e a todas as outras
religiões suas congéneres, e, simultaneamente, por um progressivo regresso a
Jesus, o de antes do cristianismo, à sua mesma Fé maiêutica, ao seu Projecto
político, e à sua Ruah/Sopro maiêutico, que trabalha dia e noite na edificação
de um mundo de povos sempre com Deus, mas também sempre sem Deus, povos de
olhos das mentes bem abertos, povos economia/política praticada, que
criam/produzem riqueza e muitos outros bens, segundo as suas capacidades, mas
só gastam/consomem, segundo as suas reais necessidades, para, deste modo, todos
podermos continuar a criar/produzir, segundo as nossas capacidades, sempre sem
nada acumular/concentrar, tudo repartir/partilhar.
Utopia? Não!
Simplesmente, a realidade/verdade que sempre nos é escondida e bloqueada pela
presente Ordem Mundial do Dinheiro, Poder financeiro. E que, ao ser
praticada/protagonizada pelos povos da Europa e do mundo, nos faz livres,
sororais, autónomos, Eu-sou!