10/08/2012

Pensar e Refletir . Sonhar e Viver!



O meu olhar calcava a doce maresia que se encontrava à minha frente. O cheiro a mar, no fim da tarde, é tão intenso que nos faz levar para uma outra dimensão. Uma espécie de “entre mundos” onde o espírito livre de cada um do ser humano, transporta dentro de si, a capacidade de reagir com o sobrenatural, e os mais breves gostos e cheiros nos levam ao lugar mais incansável e imaginário da nossa própria imaginação.

De facto, o que imaginamos não traduz mais que simples viagens à nossa pequena sensibilidade criativa, e, podemos, com uma certa nostalgia, acreditar que o fruto da nossa imaginação consegue descobrir os pequenos remendos de uma pequena jornada no que foi feito ou sentido, numa questão de segundos, ou até milésimos de segundo, como o nosso olhar nos transmite.
Enquanto, simplesmente, continuava a debruçar o meu olhar para o extenso manto azul que presenciava, bem à minha frente, a tonalidade do céu mudava. O que havia sido um espelho da água durante todo o dia estava agora a ser consumido por um violeta avermelhado, como que a galáxia se resumisse a uma única estrela, e que essa conseguisse atravessar milhões de milhares de obstáculos para um prazer que todos podiam vivenciar. Um jogo de sensações e cores reinavam naquele final de tarde, que eu, sozinho, saboreava, como se fosse um gelado de emoções tocantes e que, de certo modo, afectasse o meu coração, fazendo-o suspirar.

Subitamente, desviei o meu olhar, até então enternecido, para o lado. A poucos metros de mim, estava mais uma pessoa que desfrutava das mesmas sensações que eu. Era uma jovem e pela aparência na casa dos 20 anos. A sua pele deu-me mais afogo ao coração. O vermelho acastanhado invadia o seu corpo, confundindo-se com a areia, naquele final de tarde escaldante mas inesquecível.

Fiquei sem reacção, quando a vi, imaginei um outro ser, uma outra jovem e, por breves momentos, troquei a face daquela rapariga que me “acompanhava” naquele rico entardecer, por um rosto que não fugia de mim, que não se aposentava nem um segundo da minha memória… nem do coração.
Incrível como um simples olhar nos pode levar ao ilusório realístico. A dona do rosto que imaginava estava longe, mas continuava perto… dentro de mim. Galvanizava sensações, e para ser sincero, sempre que me recordo, daquele rosto quando não estou próximo dele, desperta em mim uma saudade enorme, uma frustração inimaginável... que o meu corpo, pesado e contraído, se arrasta para um infinito próximo sem uma meta possível de atingir.

Quando entrei de novo para a realidade, no indescritível final de tarde que presenciava, a rapariga sorriu. Sorriu momentaneamente, sem eu saber o porquê. Levantou-se e abriu os braços.
- Sinto-me livre – Gritou, com um sorriso que não só valia ouro como, também, uma pureza interior infindável.
Perplexo e quase sem reacção, acabei por espelhar o gesto da rapariga, e sorri. No preciso momento que o faço, a jovem baixa os braços e lança um olhar sobre o mar, o poente e todas as espécies que podiam estar a observá-la, sussurrando só para si, embora eu a tenho ouvido.

- A vida é um retrato do que nos rodeia. É uma extracção de acontecimentos. É a dúvida de questões, e incertezas de muitas das respostas. – Suspirou, continuando – Todos têm um fim. Apenas o tempo é dono do infinito. Nós somos apenas uma amostra que tem a oportunidade de vivenciar a beleza do mundo, a beleza que cada um quer ver. Os mais insignificantes momentos marcam uma vida, e a vida… - parou por segundos, até que eu continuei o seu pensamento.
- e a vida, embora curta, oferece-nos o tempo necessário para absorver o paladar de todo o desconhecido que queremos desvendar.

A jovem abanou afirmativamente com a cabeça, e voltou a sorrir. Um sorriso que transmitia uma serenidade inabalável e, sobretudo, contagiante, porque, eu, quando menos esperava, dava por mim a sorrir também.
Não trocámos nem mais uma palavra, nem gesto, nem olhar… absolutamente nada! Cada um, como no princípio, focou-se no esplendor de final de tarde. Na praia, quase deserta, e com um espectáculo natural ao alcance de apenas quatro olhos. Os meus e os daquela rapariga.

O pôr-do-sol deu lugar à luminosidade da Lua. A noite caíra, a temperatura descera, o silêncio era ainda mais intenso… mas eu, eu recusava-me a sair dali, não sei bem porquê, simplesmente não fazia parte do meu pensamento, levantar-me e deitar para trás das costas aquele espectáculo que a natureza me tinha proporcionado naquele dia e, agora, naquela noite.


Rui Fernandes
 estudante