Uma pessoa escreveu-me entre outras coisas:
“(...) tinha guardado nos meus arquivos este e-mail abaixo (Entrevista de um professor chinês de economia, sobre a Europa, o Prof. Kuing Yamang, que viveu em França), na altura achei-o e continuo a achar bastante real e muito sério.
“(...) mas tenho uma dúvida, toda esta máquina económica tem por detrás uma coisa, matéria prima, e valor humano (embora este seja muitas vezes desprezado) que vem do nosso planeta, quando ele se esgotar, aonde vamos buscar…? Seja pais desenvolvido, em vias de desenvolvimento ou mesmo subdesenvolvido (...)”
E eis a minha resposta:
“O desenvolvimento espiritual da humanidade acontecerá em três épocas: 1º comportamento
instintivo animalesco, 2º comportamento linear sob o lema: o que serviu ontem, também há-de
servir hoje e 3º pensar e comportamento em espiral. Com o comportamento espiral começará
a reunificação entre natureza, homem e técnica e com ela a época mais nobre da humanidade.”
Professor Pannikar, catedrático para a filosofia hinduista da Universidade de Benares (Frankfurter Allgemeine Zeitung, 22.01.69)
O professor de economia chinês tem toda a razão com a sua análise magistral e sobretudo com o seu vaticínio: “Vão (os europeus) direitos a um muro e a alta velocidade...”. Bom, sendo ele bastante apodíctico com o seu vaticínio, poderá acontecer que consigamos dar a volta por cima às coisas no último momento e a profecia acaba por não ter lugar. Já sabes: “até ao lavar dos cestos é vindima. Contudo, de momento tudo indica que vamos directamente contra um muro.
Quanto à tua dúvida: não te preocupes, a matéria prima nunca nos faltará, mesmo que prossigamos linearmente como até aqui. Porque neste caso continuaremos a ser corrigidos compulsivamente até, por força dos acontecimentos, ganharmos uma visão diversa do mundo. E esta nova visão consistirá em vermos – extrovertidamente – primeiro as necessidades do nosso grupo-alvo e não mais produtos, matérias primas e processos de produção. Por outras palavras: quando a viragem (voluntária ou involuntária) ocorrer, toda a nossa reflexão em relação ao nosso próximo e/ou cliente se resumirá em perguntar: “quais são as necessidades básicas constantes do meu grupo-alvo?” A partir de então –Structure follws Strategy (S.C. Chandler) – começa a concepção e o desenvolvimento de um produto/serviço que se rege estritamente pelas necessidades alheias em constante mudança.
Dois exemplos de necessidades básicas constantes: iluminação e cozinhar. E aqui existe um caso concreto, a Casa Hipólito* de Torres Vedras, já fechada. Em fins dos anos 80, quando esta empresa já se encontrava em grandes dificuldades, tive uma entrevista com o então presidente da empresa e expliquei-lhe: “se vocês continuarem teimando em fabricar as vossas lamparinas e fogareiros a petróleo exclusivamente com a matéria prima cobre, se vocês, em vez de se reger pelas necessidades mais urgentes do vosso grupo-alvo, obedecerem mais às necessidades do vosso accionista maioritário, uma empresa mineira e fabricante da matéria prima cobre que quer vender esse cobre, então sucumbirão. O presidente desta outrora grande indústria nacional, que chegou a empregar 1.200 trabalhadores, disse-me então que não acreditava em mim. O resultado é conhecido. A orgulhosa Casa Hipólito que não quis mudar o seu comportamento linear, fechou em 1990 e hoje as suas antigas instalações estão transformadas num parque de estacionamento, em prédios de apartamentos e numa grande superfície. “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é FADO”.
E qual teria sido a alternativa dinâmica-sistémica, qual era o meu conselho, a minha proposta de estratégia? Fácil: as lamparinas e fogareiros a petróleo que na altura já eram exportadas principalmente ao terceiro-mundo, deviam ser modificados de modo que funcionassem, p.ex., com energia solar térmica e/ou fotovoltáica; a matéria prima cobre apenas seria aplicada onde fosse absolutamente necessário. Na altura, até tinha um potencial investidor alemão com a correspondente tecnologia. De nada serviu, a ordem do accionista maioritário – escoar o cobre – tinha que ser cumprida. E o referido “valor humano”? Bom, este, isto é, a energia e capacidade inovadora humana, nunca se esgota. Sofre apenas baixas sob o cómodo mas estúpido comportamento linear mas recupera grandemente logo que este comportamento for travado pelas resistências sociais e as crises daí resultantes. Necessity is the mother of invention!
Moral da história: seria bom que as milhões de “Casas Hipólito” deste mundo mudassem os seus logótipos no sentido de indicarem em lugar de produtos, tais como lamparinas e fogareiros a petróleo, a designação da sua competência-chave, ou seja, soluções de iluminação e de cozinhar para campismo e/ou em zonas rurais sem redes de energia – mudando ao mesmo tempo o respectivo modo de pensar e agir, claro. Também “tudo isto existe” mas não é “triste” e não é “Fado.
Rolf Dahmer
“(...) tinha guardado nos meus arquivos este e-mail abaixo (Entrevista de um professor chinês de economia, sobre a Europa, o Prof. Kuing Yamang, que viveu em França), na altura achei-o e continuo a achar bastante real e muito sério.
“(...) mas tenho uma dúvida, toda esta máquina económica tem por detrás uma coisa, matéria prima, e valor humano (embora este seja muitas vezes desprezado) que vem do nosso planeta, quando ele se esgotar, aonde vamos buscar…? Seja pais desenvolvido, em vias de desenvolvimento ou mesmo subdesenvolvido (...)”
E eis a minha resposta:
“O desenvolvimento espiritual da humanidade acontecerá em três épocas: 1º comportamento
instintivo animalesco, 2º comportamento linear sob o lema: o que serviu ontem, também há-de
servir hoje e 3º pensar e comportamento em espiral. Com o comportamento espiral começará
a reunificação entre natureza, homem e técnica e com ela a época mais nobre da humanidade.”
Professor Pannikar, catedrático para a filosofia hinduista da Universidade de Benares (Frankfurter Allgemeine Zeitung, 22.01.69)
O professor de economia chinês tem toda a razão com a sua análise magistral e sobretudo com o seu vaticínio: “Vão (os europeus) direitos a um muro e a alta velocidade...”. Bom, sendo ele bastante apodíctico com o seu vaticínio, poderá acontecer que consigamos dar a volta por cima às coisas no último momento e a profecia acaba por não ter lugar. Já sabes: “até ao lavar dos cestos é vindima. Contudo, de momento tudo indica que vamos directamente contra um muro.
Quanto à tua dúvida: não te preocupes, a matéria prima nunca nos faltará, mesmo que prossigamos linearmente como até aqui. Porque neste caso continuaremos a ser corrigidos compulsivamente até, por força dos acontecimentos, ganharmos uma visão diversa do mundo. E esta nova visão consistirá em vermos – extrovertidamente – primeiro as necessidades do nosso grupo-alvo e não mais produtos, matérias primas e processos de produção. Por outras palavras: quando a viragem (voluntária ou involuntária) ocorrer, toda a nossa reflexão em relação ao nosso próximo e/ou cliente se resumirá em perguntar: “quais são as necessidades básicas constantes do meu grupo-alvo?” A partir de então –Structure follws Strategy (S.C. Chandler) – começa a concepção e o desenvolvimento de um produto/serviço que se rege estritamente pelas necessidades alheias em constante mudança.
Dois exemplos de necessidades básicas constantes: iluminação e cozinhar. E aqui existe um caso concreto, a Casa Hipólito* de Torres Vedras, já fechada. Em fins dos anos 80, quando esta empresa já se encontrava em grandes dificuldades, tive uma entrevista com o então presidente da empresa e expliquei-lhe: “se vocês continuarem teimando em fabricar as vossas lamparinas e fogareiros a petróleo exclusivamente com a matéria prima cobre, se vocês, em vez de se reger pelas necessidades mais urgentes do vosso grupo-alvo, obedecerem mais às necessidades do vosso accionista maioritário, uma empresa mineira e fabricante da matéria prima cobre que quer vender esse cobre, então sucumbirão. O presidente desta outrora grande indústria nacional, que chegou a empregar 1.200 trabalhadores, disse-me então que não acreditava em mim. O resultado é conhecido. A orgulhosa Casa Hipólito que não quis mudar o seu comportamento linear, fechou em 1990 e hoje as suas antigas instalações estão transformadas num parque de estacionamento, em prédios de apartamentos e numa grande superfície. “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é FADO”.
E qual teria sido a alternativa dinâmica-sistémica, qual era o meu conselho, a minha proposta de estratégia? Fácil: as lamparinas e fogareiros a petróleo que na altura já eram exportadas principalmente ao terceiro-mundo, deviam ser modificados de modo que funcionassem, p.ex., com energia solar térmica e/ou fotovoltáica; a matéria prima cobre apenas seria aplicada onde fosse absolutamente necessário. Na altura, até tinha um potencial investidor alemão com a correspondente tecnologia. De nada serviu, a ordem do accionista maioritário – escoar o cobre – tinha que ser cumprida. E o referido “valor humano”? Bom, este, isto é, a energia e capacidade inovadora humana, nunca se esgota. Sofre apenas baixas sob o cómodo mas estúpido comportamento linear mas recupera grandemente logo que este comportamento for travado pelas resistências sociais e as crises daí resultantes. Necessity is the mother of invention!
Moral da história: seria bom que as milhões de “Casas Hipólito” deste mundo mudassem os seus logótipos no sentido de indicarem em lugar de produtos, tais como lamparinas e fogareiros a petróleo, a designação da sua competência-chave, ou seja, soluções de iluminação e de cozinhar para campismo e/ou em zonas rurais sem redes de energia – mudando ao mesmo tempo o respectivo modo de pensar e agir, claro. Também “tudo isto existe” mas não é “triste” e não é “Fado.
Rolf Dahmer