Vamos ter eleições para a AR no dia 5 de Junho e, consequentemente, um novo governo. Já sei que vou ter a mesma frustração de sempre, antes e depois do 25 de Abril. Estou limitado a escolher a que me parece "menos pior" das péssimas "listas" de candidatos em que me dão licença de votar. Nunca, antes e depois do 25 de Abril, quis candidatar-me a qualquer cargo político. Mas não tolero não ter esse direito, um mal agravado por ver os meus concidadãos, incluindo ilustres politólogos, a chamarem a tal sistema "democracia" e a considerarem que temos "eleições livres".
Tive a felicidade de poder viver e trabalhar, durante alguns períodos, em três países estrangeiros, todos democráticos, embora com alguns aspectos um tanto diferentes. Em todos eles há partidos políticos, mas não como órgãos de poder ditatorial, como no nosso país. Naturalmente, como associações cívicas de carácter político, têm algum peso nas eleições mas em nenhum deles têm qualquer poder exclusivo, como em Portugal nas mais importantes de todas as eleições, as que elegem os deputados e donde emana o governo.
Em Inglaterra, se um membro do parlamento deixa de o ser (por morte ou porque se demite), não entra qualquer senhor do partido, que estava em "lista de espera". Faz-se nova eleição no seu círculo eleitoral (uninominal, claro) e o novo membro do parlamento até pode ser de outro partido. (Aliás, em Portugal, para as autárquicas, já sucedeu algo parecido, no caso de Tavira. Se Macário Correia (PSD) tivesse desejado continuado a presidir à Câmara de Tavira, seria certamente eleito. Como foi para Faro, Tavira elegeu um PS. As pessoas são bem mais importantes do que os partidos, ao contrário do que nos impuseram).
O mesmo sucede nos Estados Unidos. Quando um membro do Senado morre ou se demite, faz-se nova eleição no seu estado, para o substituir. Não há o caso dum senhor "suspender o mandato", deixar o Senado e voltar depois, quando lhe apetece. Nem o Presidente da República (que ali também tem as funções de Primeiro Ministro) alguma vez "consulta os partidos" quando há algo a decidir. Nem qualquer chefe de partido, que não seja membro do Senado, dá "ordens" aos senadores e decido qual é a posição dos senadores do seu partido.
A Suécia, o primeiro país estrangeiro onde vivi e trabalhei, era, no princípio do século XX um país pobre e de grande desequilíbrio social. Com governos do partido Social Democrata (autêntico, não apenas de rótulo), começando com o Primeiro Ministro Hjalmar Branting, depois Per Albin Hansson e depois Tage Erlander, que esteve vários anos no poder, empreendeu as reformas necessárias e pelo meio do século já era o país com o melhor PIB per capita, com um nível de vida geral de meter inveja a muitos, com todo o ensino totalmente gratuito e o custo da saúde limitado a umas taxas moderadoras, como tive ocasião de o comprovar pessoalmente. A diferença entre a Suécia e Portugal ficou bem expressa no diálogo entre Otelo Saraiva de Carvalho e o então Primeiro Ministro Olof Palme. Quando Otelo, ufanamente, lhe disse que "em Portugal já acabámos com os ricos", ouviu de Palme que "na Suécia acabámos com os pobres".
Miguel Mota
Tive a felicidade de poder viver e trabalhar, durante alguns períodos, em três países estrangeiros, todos democráticos, embora com alguns aspectos um tanto diferentes. Em todos eles há partidos políticos, mas não como órgãos de poder ditatorial, como no nosso país. Naturalmente, como associações cívicas de carácter político, têm algum peso nas eleições mas em nenhum deles têm qualquer poder exclusivo, como em Portugal nas mais importantes de todas as eleições, as que elegem os deputados e donde emana o governo.
Em Inglaterra, se um membro do parlamento deixa de o ser (por morte ou porque se demite), não entra qualquer senhor do partido, que estava em "lista de espera". Faz-se nova eleição no seu círculo eleitoral (uninominal, claro) e o novo membro do parlamento até pode ser de outro partido. (Aliás, em Portugal, para as autárquicas, já sucedeu algo parecido, no caso de Tavira. Se Macário Correia (PSD) tivesse desejado continuado a presidir à Câmara de Tavira, seria certamente eleito. Como foi para Faro, Tavira elegeu um PS. As pessoas são bem mais importantes do que os partidos, ao contrário do que nos impuseram).
O mesmo sucede nos Estados Unidos. Quando um membro do Senado morre ou se demite, faz-se nova eleição no seu estado, para o substituir. Não há o caso dum senhor "suspender o mandato", deixar o Senado e voltar depois, quando lhe apetece. Nem o Presidente da República (que ali também tem as funções de Primeiro Ministro) alguma vez "consulta os partidos" quando há algo a decidir. Nem qualquer chefe de partido, que não seja membro do Senado, dá "ordens" aos senadores e decido qual é a posição dos senadores do seu partido.
A Suécia, o primeiro país estrangeiro onde vivi e trabalhei, era, no princípio do século XX um país pobre e de grande desequilíbrio social. Com governos do partido Social Democrata (autêntico, não apenas de rótulo), começando com o Primeiro Ministro Hjalmar Branting, depois Per Albin Hansson e depois Tage Erlander, que esteve vários anos no poder, empreendeu as reformas necessárias e pelo meio do século já era o país com o melhor PIB per capita, com um nível de vida geral de meter inveja a muitos, com todo o ensino totalmente gratuito e o custo da saúde limitado a umas taxas moderadoras, como tive ocasião de o comprovar pessoalmente. A diferença entre a Suécia e Portugal ficou bem expressa no diálogo entre Otelo Saraiva de Carvalho e o então Primeiro Ministro Olof Palme. Quando Otelo, ufanamente, lhe disse que "em Portugal já acabámos com os ricos", ouviu de Palme que "na Suécia acabámos com os pobres".
Miguel Mota