15/01/2011

Malangatana



Sabia, de Malangatana, apenas que era um pintor moçambicano e das suas pinturas só conhecia algumas reproduções, pois nunca tinha tido conhecimento de qualquer exposição de quadros seus. Só o conheci pessoalmente no dia 11 de Fevereiro de 2010, quando assisti ao seu Doutoramento Honoris Causa, na Universidade de Évora. Fiquei a saber algo da sua vida quando o seu padrinho, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, numa excelente e bem documentada exposição, algo emocionada pela grande amizade existente entre padrinho e afilhado, descreveu a multifacetada actividade de Malangatana, que ia dos mais modestos e variados trabalhos, passando por contador de histórias e bailarino, até atingir a estatura dum escultor, ceramista e pintor de tão alto nível.
Devo dizer que, quando recebi do Reitor o convite para a cerimónia e fiquei a saber quem era o padrinho, a primeira impressão foi de estranheza. Só depois reparei que, ao tempo, o governador de Moçambique era o Dr. Baltazar Rebelo de Sousa e que, quando o seu filho, então um jovem estudante na Faculdade de Direito, o visitava, teria contactado Malangatana, como foi confirmado e como foi o início duma grande amizade.
No discurso de agradecimento que o novo Doutor Honoris Causa deve fazer, todas as excelsas qualidades que tinham sido descritas foram confirmadas e ampliadas. Falando para uma tão erudita assistência, ignorando o papel que levara, com enorme descontracção, juventude e alegria, a todos encantou com a vivida descrição dos pontos mais relevantes da sua vida e coloridos comentários de muitos factos.
Depois da cerimónia, junto de alguns dos seus quadros em exposição num dos claustros da universidade ou ao almoço, no belo refeitório, a sua conversa mostrava o mesmo encanto do discurso que proferira na Sala de Actos. Foi com tristeza que recebi a notícia do seu falecimento, em 5 deste mês (Janeiro de 2011), aos 74 anos e quando ainda muito se poderia esperar do seu labor. Paz à sua alma.

Miguel Mota