20/11/2010

PS/PSD: da “União Sagrada Patriótica” à Não-perda da “Alma Socialista e Social-Democrata”!


Publiquei há dias (03 de Outubro de 2010), no Jornal “Expresso”, um brevíssimo ensaio com o título voluntariamente provocatório: “O PSD português nunca existiu!” e que terá sido, sem nenhum fundamento como adiante se verá, por alguns interpretado como hipoteticamente hostil ao “Partido Social-Democrata”. Na realidade, a minha única intenção era a mesma desde que, em 1991, criei a 1ª licenciatura portuguesa de Ciência Política e afirmei que “a Política não é tudo mas tudo é político sobretudo o que e quem pretende não sê-lo”, a saber, introduzir o máximo de racionalidade e de modernidade na Sociedade Portuguesa. Até porque a adesão à União Europeia, com a felizmente inevitável progressiva europeização de Portugal, tornará cada vez mais anacrónica a terrível sentença: “Vérité en-deça des Pyréneés, fausseté au-delà”, “Verdade aquém dos Pirenéus, falsidade além…” ou vice-versa… E sinto-me tanto mais à vontade quanto fui dos primeiros a chamar a atenção quer para o que então designei como a “doença infantil do europeísmo luso” (que, paradoxalmente, se tornaria a “doença senil do luso patrioteirismo anti-europeu”) quer, sobretudo, para o facto de que “Portugal só poderá ser interessantemente Europeu se for plenamente Lusófono e interessantemente lusófono se for plenamente europeu” (entenda quem puder e aja quem dever!).
E se tentássemos fazer um pouco de elementar “ciência político-partidária”, dando um salto ao Parlamento Europeu para vermos qual é o panorama geral e onde se situam (ou foram situados) os nossos partidos? Ao contrário do que a voz corrente ou o senso comum pretendem, e fazendo também aqui a rotura epistemológica que Bachelard efetuou para a ciência em geral, a grande linha divisória político-partidária continua a ser a linha Esquerda/Direita, sendo que, neste momento, o grande pólo da(s) Direita(s) está nos “Partidos Populares/Partidos Liberais e Partidos Democratas-Cristãos” (onde se situa ou foi situado, não obstante o seu nome, o “PSD” português…) e o grande pólo da(s) Esquerda(s) está nos “Partidos Socialistas e … Social-Democratas”! Claro que, ao lado do pólo da grande Direita, existem várias outras direitas mais ou menos radicais e mais ou menos conservadoras (e até abertamente racistas e xenófobas) como também, ao lado do pólo grande Esquerda, existem (ainda bem, pensam muitos, até como estímulo, aguilhão e remorso da Esquerda Sociológica geral…) várias outras Esquerdas mais ou menos puristas e mais ou menos arqueológicas… Claro também que, no caso português, todos sabemos que muitos dos nossos “socialistas” ou “sociais-democratas” são-no, simplesmente, por acaso de circunstâncias geográficas e quejandas… Como ainda sabemos que os mais lúcidos (alguns diriam, os melhores…) membros do PSD há muito e recorrentemente têm tentado inscrever o seu partido na “Internacional Socialista (e Social-Democrata)”, sempre também com a oposição (que não provém só nem sobretudo de grandes e nobres “razões políticas”) do Partido Socialista Português, que, assim, tem mantido o PSD na companhia, para muitos dos nossos Sociais-Democratas obviamente indesejada e imposta, da grande Internacional da Direita Popular, Liberal e Democrata-Cristã…
Com toda a franqueza (e também com todo o louvor global): quem mais “Socialista”, mais “Democrata” e mais “Social-democrata” que o fundador do “Partido Socialista Português” e, de algum modo, do nosso atual regime político, Mário Soares (a que não ouso juntar o nome do “social-democrata” Francisco de Sá Carneiro, porque lhe não foi dado o “tempo” necessário para cumprir o seu destino histórico)?
Não resumindo mas concluindo, direi apenas: no momento em que as mais altas instâncias políticas do regime e as mais profundas aspirações do Povo Português fazem apelos mais ou menos explícitos a uma espécie de “União Sagrada Patriótica” face à crise que sobretudo outros (“louros e de olhos azuis” como metaforicamente disse o Presidente do Brasil Lula da Silva referindo-se aos grandes agentes do “Capitalismo neoliberal selvagem”) provocaram em Portugal e no Mundo, também eu me permito lançar ao PS e ao PSD Portugueses um apelo tão simples como decisivo: uni-vos e não percais a vossa alma socialista e social-democrata, para que a Europa não deixe morrer e não mate a sua ideia e o seu ideal ecuménicos da Democracia de todos os Direitos Humanos e do Desenvolvimento Económico e Social de todos os Homens. Assim deixaríeis de ser acusados de pantanoso “Centrão” para vos tornardes o grande “Esquerdão” dos tempos futuros.



Fernando dos Santos Neves
Criador da 1ª licenciatura portuguesa em Ciência Política
Reitor da Universidade Lusófona do Porto