18/11/2010

O “PSD” português nunca existiu!



Pelo menos desde que, em 1991, criei a 1ª licenciatura de Ciência Política nas Universidades Portuguesas, várias vezes, em privado e em público, tenho afirmado, para surpresa e escândalo de muitos, que “O PSD português nunca existiu!”
“Eppur si muove!...”, “E no entanto ele continua a andar por aí e de que maneira!”, respondem galilaicamente logo alguns, recordando toda a história e todas as “estórias” do “PSD” na Democracia Portuguesa.
Aliás, mais exato do que dizer “O PSD português nunca existiu!” seria talvez dizer que tal nome é uma ilusão e uma mentira político-terminológica e nem foi por acaso que o seu nome original de batismo não foi “PSD” (Partido Social-Democrata) mas sim “PPD” (Partido Popular Democrático)! E bastará, também aqui, olharmos para a Europa e irmos até ao Parlamento Europeu para descobrir que, afinal, o “PSD” português se encontra, obviamente e naturalmente, arrumado não no grupo dos “PSDs”, mas sim no grupo dos “PPEs”! Parece que quisemos, uma vez mais, dar razão (Hélas!) à tristemente célebre sentença gaulesa: “Vérité en-deçà des Pyrénées, fausseté au-delà”! (Verdade aquém dos Pirenéus, falsidade além, ou vice-versa!).
Mas, no fundo, a questão é outra e é, precisamente, de “ciência política”…, a qual nunca pode deixar de dizer duas coisas essenciais:
a) A primeira é que a Política não é tudo, mas que tudo é político, também, senão principalmente, o que parece ou pretende não sê-lo;
b) A segunda é que, sem cairmos na admissão e aplicação simplistas da afirmação do filósofo Alain: “Se alguém me diz que não é de esquerda nem de direita, já sei que é de direita!”, as noções de “Esquerda” e “Direita” continuam a ser noções e realidades fulcrais distintivas e estruturantes das sociedades contemporâneas e que vale a pena traduzir modernamente uma e outra mas não, numa implícita e inconsciente homenagem do vício (“Direita”) à virtude (“Esquerda”), negar as respetivas diferenças teóricas e práticas…
Com todas as suas fraquezas e cedências, os Partidos Socialistas e Social-democratas Europeus continuam a ser, não diria a esquerda possível e ainda menos a única, mas a grande esquerda sociológica real e só os muito distraídos, os muito ignorantes ou os muito sabidos é que continuam a identificar o atual “PSD” português com as ideias e os ideais das Esquerdas Socialistas e Social-Democratas Europeias… Aqui é que seria caso para dizer que “as coisas são como são” e nem o taumaturgo Prof. Marcelo Rebelo de Sousa conseguirá realizar esse milagre…
O “PSD” português nunca existiu nem interessa que continue ilusória e falsamente a existir como Partido da Esquerda que não é, aquém dos Pirenéus e provavelmente em breve apenas aquém dos rios Minho, Douro, Caia ou Guadiana. Mas no seu justo sítio europeu de partido da direita, como hoje se diz, mais ou menos moderada e com o seu verdadeiro nome original, nada impedirá que tenha o seu lugar no âmbito de qualquer “regime democrático” que, como é comummente admitido e constantemente repetido depois de W.Churchill, continua a ser “o pior dos regimes políticos, mas só depois de excetuarmos todos os outros”. E sobre esta e muitas outras afins questões, ser-me-á permitido chamar atenção para a brilhantíssima tese de doutoramento que acaba de ser defendida pela Prof.ª Ângela Montalvão Machado, atual diretora da Faculdade de Ciência Política, Lusofonia e Relações Internacionais da Universidade Lusófona?


Fernando dos Santos Neves
Reitor da Universidade Lusófono do Porto
Criador da 1ª Licenciatura portuguesa em Ciência Política

+ texto escrito com o novo acordo ortográfico