Será que a Verdade fica condenada ao isolamento impotente e a Política à mentira e à prepotência? A Verdade é incómoda para o Poder. No choque com o poder, a Verdade sai derrotada, mas conserva a força que é seu apanágio. A persuasão e o medo podem destruir a Verdade mas não podem substituí-la. A Verdade e a Política sempre estiveram de más relações. A Verdade tem um estatuto precário nos regimes constitucionais. Como diz Sócrates, filósofo grego: «é preferível sofrer o mal que praticá-lo».
As mentiras políticas dos nossos dias lidam eficazmente, com coisas que não são segredo nenhum, mas estão acessíveis praticamente a toda a gente. Isto é flagrante, no caso da reescrita da história contemporânea, à frente dos olhos que a testemunham mas também é verdade na produção de imagens e simulacros de todos os géneros com que os factos estabelecidos e conhecidos podem ser negados, esquecidos ou mistificados, se são susceptíveis de atentar contra essas imagens.
Ora, este sucedâneo da realidade, por acção das novas técnicas e dos mass media , torna-se mais apelativo do que o original.
Na óptica da Verdade, a Política é um jogo de interesses em disputa, mas que não deve esquecer a nobreza da actividade política. O político é grande, nobre e digno. O conflito entre a Verdade de facto e a Política só se agudiza, ao nível mais baixo dos assuntos humanos. Como escreveu o filósofo alemão Kant: «a verdadeira política não pode dar nenhum passo sem render homenagem à moral».
Em Portugal é preciso uma Revolução Moral. Realização da justiça. Cultura de solidariedade pela vivência da liberdade (que não de libertinagem ou anarquia). Cultivo de valores da honestidade e transparência verdadeira, de modo a criar confiança nas instituições e dar crédito ao Estado. Renovando as instituições existentes e não apenas mudando-lhes o nome. O primado do ser sobre o ter, da cultura sobre a economia, da comunidade sobre a sociedade. Combater os vícios-avatares, tendo quatro objectivos: desburocratizar; desideologizar; desclientelizar; descentralizar.
A esta revolução de mentalidades é necessário que se opere uma verdadeira palingenesia através de uma nova educação, capaz de prevenir os «sebastianismos endógenos» e os «imitacionismos exógenos», capaz de dar a Portugal um caminho próprio e natural.
A Política é a arte de governar, arte de dirigir e associa-se a astuto, esperteza, maquiavélico, cortesia, urbanidade, civilidade e cerimónia. Mas a verdadeira Política é honesta. Muitas vezes os políticos fazem inúmeras promessas para atraírem a si a estima e o suporte dos eleitores, mas se eles quiserem que as pessoas gostem deles e os apreciem, o mais importante é serem honestos e exprimirem as suas convicções com sinceridade.
Se as pessoas mudarem e as suas palavras mudarem em função das circunstâncias, os cidadãos vão dar-se conta e recordá-lo. A franqueza é uma qualidade essencial.
O importante em democracia não é os governantes que dela emanam mas sim o acordo da população e o respeito. A maioria deste governo quer que se governe sem discussão. Os portugueses horrorizados com algumas decisões deste governo, nomeadamente na educação começam a sublevar-se contra elas e o que virá a seguir. O general Garcia Leandro alertou, o documento da Sedes reforçou e as manifestações genuínas de professores aí estão. A seguir será a população em geral… A vitória resulta do que defendemos que está certo. Essa é a vitória.
Artigo publicado este sábado no jornal Público . Este texto foi baseado na minha intervençâo aquando da presença de Ana Gomes no Clube dos Pensadores.