22/07/2006
Esta alteração na vida dos professores explica-se, porque além de serem uma classe numerosa, é o elo mais fraco de todas as classes públicas.
JOAQUIM JORGE
Li no Público, que a proposta de revisão do estatuto da carreira docente dos educadores e dos professores dos ensinos Básico e Secundário consagra a possibilidade das notas dos alunos e apreciações dos pais poderem vir a pesar na avaliação dos professores.
Eu fiquei estupefacto, não com o medo de ser avaliado, mas pela ideia em si não ter nexo nenhum. Os professores são indivíduos que professam ou ensinam ( uma ciência, uma arte, uma língua, etc),com uma especificidade marcante e com uma panóplia de tarefas, no projecto educativo da escola: actividades de complemento curricular ;informação e orientação educacional dos alunos, em colaboração com as famílias e com as estruturas escolares ;participação em reuniões de natureza pedagógica ;participação em acções de formação ;substituição de outros docentes ;realização de estudos e de trabalhos de investigação que visem o sucesso escolar e educativo; serviço de exames. Mas existem, outras que não se enquadram no âmbito das suas habilitações literárias, como fazer matrículas e muitas vezes substituir o pessoal auxiliar, por insuficiência de pessoal, etc.
A mais importante de todas ,são as chamadas reuniões de avaliação, realizadas depois dos alunos irem para casa de férias, ficando os professores na Escola, em constantes reuniões, dependendo do número de turmas. Todavia a maioria dos portugueses, pensam erradamente que os professores, também vão para casa e que tem muitas férias. Mentira! Pouca gente, dá ênfase às tarefas que os professores tem, para além de ensinar e estarem fisicamente numa sala de aula.
Não vou enumerar aqui, todas as lamúrias de uma classe vilipendiada e demonizada, de alguém que foge ao trabalho ou às suas responsabilidades.
A autonomia de um professor é nula, não escolhe os manuais escolares, não escolhe os alunos, não escolhe os pais, só muito tarde é que consegue leccionar na escola elegida. Para dar notas, no conselho de turma, o professor propõe a sua nota que pode ser alterada pelos restantes professores. Tudo é questionado, a falta de autoridade e credibilidade é posta em causa por tudo e por todos. Já não chegava a exclusividade desta profissão escrutinada por toda a gente, desde pais, colegas da escola, alunos , restante intervenientes escolares e ministério. Digam-me uma profissão, no funcionalismo público que já tenha tanto controle por via directa e indirecta?
Esta alteração na vida dos professores explica-se, porque além de serem uma classe numerosa, é o elo mais fraco de todas as classes públicas. Se querem controlar, ainda mais os professores, façam-no também para os médicos ( os doentes que os avaliem ),enfermeiros ( os doentes que os avaliem),juizes ( os advogados, queixosos e arguidos que os avaliem ) ,professores universitários( igual aos do secundário),os pais ( devem ser avaliados pelos professores),os alunos ( além da avaliação escolar deve ser pesada a sua educação e postura) e por fim os responsáveis do ministério da educação (devem ser avaliados pelos professores) .Já passaram pelo ministério muitos governantes incompetentes e nada lhes aconteceu que mudam as regras do jogo a seu bel- prazer , não existe em Portugal desígnios nacionais e o mais importante deveria ser o da Educação.
Eu não aceito que uma escola seja dirigida, como uma empresa ,com planos meritocráticos, como sugere José Manuel Fernandes em recente editorial, e não aceito que passe para a opinião pública que os professores faltam muito como já várias vezes sugeriu Miguel Sousa Tavares. Se querem uma cultura de avaliação, de exemplo e de prática, clara e transparente, do domínio público, que seja para todos as classes, incluindo a dos jornalistas.
Institucionalize-se uma ordem de professores e que lhe seja permitido definir com critérios selectivos a entrada na profissão ,antigamente qualquer um era professor,dava jeito ao sistema.Os professores não são os desprezíveis e os energúmenos, se querem avaliar e pôr em causa tudo façam-no de uma forma biunívoca ( os pais também devem ser avaliados na sua conduta e penalizados por não acompanharem os seus educandos) e garantias no processo de avaliação. Por mim podem contar- quem não deve não teme.
Docente