Clube dos Pensadores, na Maia, levou grandes temas a discussão
O debate para lá dos partidos
Nasceu na Maia e tornou-se num encontro mensal incontornável para o debate, político e não só, para lá dos partidos. O Clube dos Pensadores já tem preparada uma nova temporada a partir de Setembro, conforme explicou o seu mentor, Joaquim Jorge.
Por: Filinto Melo
Manuel Alegre é o primeiro convidado da nova temporada do Clube dos Pensadores, tertúlia criada na Maia este ano para debater sem preconceitos, sobretudo partidários, temas da actualidade e assuntos de fundo da sociedade portuguesa. A escolha do
candidato presidencial independente para abrir os debates mensais no que falta deste ano é sintomática do que é o próprio Clube dos Pensadores e o tema - Cidadania e Formas de Participação Cívica - paradigmático. “Apesar de eu ser do PS, o Clube dos Pensadores não é socialista, é de todos os quadrantes partidários”, diz a O PRIMEIRO DE JANEIRO Joaquim Jorge, o mentor destes debates que reuniram, ao longo dos último meses, num hotel maiato, nomes como Luís Filipe Menezes, Narciso Miranda e Vicente Jorge Silva.O programa previsto de Setembro a Dezembro inclui igualmente nomes de vários quadrantes políticos. Depois de Manuel Alegre, que participará no dia 18 de Setembro, pelas 21h30 no Hotel Egatur, surgirá Manuel Monteiro, o presidente do Partido da Nova Democracia, que é o convidado para a sessão sobre “Partidos e Sistema Político”, a decorrer no dia 2 de Outubro. Seguem-se Paulo Morais, em Novembro, num debate sob “Corrupção”, que não deixará de ter como pano de fundo o livro do social-democrata ex-vereador da Câmara Municipal do Porto. Em Dezembro, o tema será “Televisão versus jornais”, com a presença prevista de José Leite Pereira e José Marquitos. Mas Joaquim Jorge diz que o Clube dos Pensadores é para manter durante 2007: “Já tenho os debates até Junho do próximo ano”, conta, e além da política e comunicação social, serão abordadas áreas como a Educação, Justiça e Economia, por exemplo. Mas pode estar também na calha um debate que se pretende leve, mas sério, sobre o “sexo e o poder”. Nesta temporada estão previstos outros convidados que, com o fundador, ajudaram ao debate, nomeadamente Joana Felício, vereadora da Câmara de Matosinhos, e Miguel Leão, antigo presidente da Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos. A principal mudança será, contudo, o agendamento do encontro do clube para as segundas-feiras, pois “há que ter em conta os jogos das equipas portugueses nos palcos europeus [Champions League e Taça UEFA]”.
A partidarite
Em quatro meses, o Clube dos Pensadores tem conseguido manter uma média por sessão de mais de meia centena de participantes e Joaquim Jorge acredita que grande parte do sucesso se deve naturalmente aos convidados - que participam sem contrapartidas - mas também à metodologia: “A plateia é de alto nível e todos, sem excepção, podem participar no debate. As opiniões da plateia não são ouvidas com menor atenção do que as dos convidados ou da mesa”, explica. Aliás, um dos princípios do clube é deixar cargos e honrarias, “ninguém se trata por doutor!”.O facto de todos terem o “direito a falar e dar a sua opinião é altamente gratificante”, diz o mentor do clube, pois “é muito agradável ver ali pessoas falar à vontade, até de forma irresponsável, sem estarem preocupadas com a imagem ou em agradar ao chefe partidário... essa é uma das grandes limitações: não se dá cargos políticos”, ironiza. “É preciso debater” é a frase-chave de Joaquim Jorge quando fala do Clube dos Pensadores, quando fala do PS ou genericamente da vida política. “A minha força ali, e a minha maior virtude e que é o meu maior defeito em política, é que eu penso pela minha cabeça. E ali vão pessoas que pensam pela sua cabeça”, sublinha satisfeito.Reclamando a presença de mais “povo” no encontro mensal, não deixa de mostrar a vantagem do encontro face ao debate que acontece, por exemplo, dentro dos partidos. Consciente que o debate de ideias é a base da política - e sustentando que a diferença no Clube dos Pensadores é exactamente a metodologia - não pretende comparações com os recentes encontros dos ministros socialistas com as bases do Porto (a Universidade de Verão e os plenários “Respostas do PS aos desafios da sociedade portuguesa”). Confrontado com a abertura que, neste caso, o PS estava a fazer, Joaquim Jorge afirmou não entender a presença exclusiva a militantes, porque embora estes escolham o secretário-geral “quem escolhe o primeiro-ministro são os eleitores”, nem percebe as reuniões à porta fechada: “Porquê? A transparência é tudo. O que queriam esconder? Que nem todos os militantes estão contentes? E qual é o problema?” Apesar das críticas, considera que estes encontros e outras formas de abertura dos partidos “são muito importantes”.
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Quem é
Configura
Apesar de ser conhecido apenas como Joaquim Jorge, ou “jota jota”, o nome completo é Joaquim Jorge Costa Ribeiro. É licenciado em Biologia pela Universidade de Ciências do Porto e foi professor na Escola Superior de Enfermagem, mantendo-se como professor do ensino secundário. É militante socialista e foi membro da Comissão Política Concelhia do PS Porto. Foi membro da Comissão de Honra da candidatura de Manuel Alegre e participou em algumas reuniões da comissão política da candidatura. Actualmente é colaborador habitual de O PRIMEIRO DE JANEIRO, onde escreve a crónica Configuras, e na revista Focus, no Contraponto. Colaborou ainda com o jornal Público e Comércio do Porto. Mantém o blogue http://clubedospensadores.blogspot.com.