03/07/2006

MINISTRA,PROFESSORES e SINDICATOS

Joaquim Jorge*

Gostava de vos dizer que não pensava tão cedo voltar a falar de Educação, mas perante a sobranceria menosprezadora e a mensagem que a Ministra procura passar de que os professores são uma classe com vantagens exclusivas, não resisti. Aproveito para vos informar que não pertenço a nenhum sindicato.
Os professores marcaram uma greve para o dia 14 de Junho, 4ªfeira, sendo feriado nacional no dia 15 de Junho e na área de Lisboa, no dia anterior, dia 13 de Junho.
A Ministra, em vez de procurar perceber, os sinais desta insatisfação e indignação, por esta classe amesquinhada e depreciada , em que parece que só tem obrigações e não tem direitos, faz uma fuga para a frente, acusando os sindicatos de marcarem a greve, para dar azo a umas mini-férias.
Quando alguém marca uma greve procura ter o maior número de aderentes. Isso é inquestionável. A Ministra que semeou ventos e colheu tempestades, não deve vir a terreiro, procurar minimizar os efeitos do êxito desta iniciativa, em defesa de alguns parcos direitos e não de regalias, que eu não sei onde estão! Se alguém me quiser explicar e dizer agradeço! O desconhecimento do que se tem passado ao longo destes anos nas escolas, demonstra que o país tem que se virar para a educação por bem e não contra os professores, que sempre foram vitimas do sistema.
Tentar contrapor que o importante é discutir os efeitos da paralisação, para os outros professores, que não fizeram greve e para os alunos é uma falácia, só falta dizer que os professores que não aderiram à greve vão ser premiados na avaliação do desempenho.
Sra. Ministra o direito à greve é inalienável, consagrado na Constituição, e saiba que se os professores não aderiram mais, foi porque o dinheiro descontado nesta forma de protesto, pesa no fim do mês, pois são dos corpos especiais da função pública, os mais mal pagos. Ainda não percebeu que não se pode conquistar pessoas com luvas de boxe? Arrepie caminho e perceba as indicações dadas pelos professores, que estão com boas intenções e claro, há muitas coisas que têm de ser mudadas na educação, a começar pelo funcionamento do Ministério.
Apercebendo-se que a proposta de avaliação dos professores pelos pais e a que os professores que são doentes crónicos (incapacitados para dar aulas mas aptos para outras funções respeitando as suas habilitações), iriam para o desemprego, não caiu bem nos portugueses . O respeito pela saúde deve ser entendido duma forma humana e socialmente aceite. Ninguém está livre de ficar doente, inclisivé os nossos governantes. Faz-me lembrar a Alemanha de Hitler, que praticava a eugenia e eliminava os mais fracos.
Daí toca a desdobrar-se em entrevistas quer na radio e jornais, por coincidência ou não, procurou desviar a atenção do essencial e informou a comunicação social, que existem muitos professores a trabalhar nos sindicatos. Eu e os portugueses gostaríamos de saber quantos professores trabalham no ministério da educação e nas direcções regionais pagos pelo erário público? O dever da Ministra, é preocupar-se com a qualidade da educação e não com os sindicatos!
É necessário que se saiba que todos os corpos especiais da função pública, como médicos, enfermeiros, polícias, militares, etc. , progrediam nas suas carreiras de uma forma semelhante à dos professores, não tendo estes, nenhumas prerrogativas extras.
A ideia que passa, que os professores são uns beneficiados, só tem eco numa minoria sedenta de revanchismo ou de alguns professores que se julgam os melhores. O grau de excelência ou bom há muito que está consagrado no estatuto porém nunca foi regulamentado. Mas temos que entender, que existem professores que procuram ter um comportamento normal, empatia com os alunos, ensinando (que eufemismo!), não sendo por isso, que deverão ser arredados de progredir na sua carreira.
Com atitudes de inflexibilidade, o Governo de Cavaco, teve passagem para sair de S.Bento (o buzinão na ponte e o feriado do Carnaval). A história repete-se, eu lembro-me de ver um primeiro-ministro, defender os seus ministros de uma forma alheada do real e depois foi o que se viu...
Uma coisa eu sei, os professores são-no sempre e os ministros não.

*Biólogo
· jota.jota@sapo.pt
· Escreve no JANEIRO, quinzenalmente, às segundas-feiras