Mário Russo |
Quem, como eu, tem andado por
diversos continentes, chegará à conclusão que muitas coisas que temos no nosso
país são de excelente qualidade e o setor da saúde é um deles. Por experiência
própria posso assegurar isso mesmo porque constatei ao acompanhar familiares queridos, cujo atendimento foi
sempre muito bom. Espantava-me ouvir pessoas reclamarem de alguns atrasos, como
se diante de uma situação concreta, o médico tivesse de estar atrás de uma
porta para atender. Nem no privado isso acontece. Há que ter isso em atenção.
Mas muito se fez em matéria de modernização do SNS, com possibilidade de fazer
marcações por internet, evitando as filas nos centros ou hospitais,
receituário, etc. Mas muita gente ainda prefere, sobretudo os mais idosos, a ir
ao local presencialmente apenas para fazer uma marcação de consulta.
Isto quer dizer que está tudo
bem? Não, porque há sempre possibilidades de melhoras nos serviços. Por outro
lado, há casos confirmados de negligências que são inaceitáveis. No entanto,
não se pode, também neste caso, passar à generalização. Porque um caso ou
outro, é destacado naquela caixa de ressonância que é a televisão, que
amplifica sempre muito mais e deixa uma perceção desfocada.
Algumas vezes é a influência dos
lóbis do setor privado sobre o público que leva que os governos
propositadamente sufocam financeiramente os erviços públicos para assim prestar
mau serviço, para depois justificar diante da opinião pública que o setor
funciona mal e só os privados é que gerem bem, levando a população a aceitar
como boa a ideia da privatização.
Aliás, é recorrente no nosso país
os políticos fazerem essas propostas, que, em meu entender, não passam do maior
atestado de incompetência passada a si próprios. De facto, quando um ministro
diz que tem de “entregar” um determinado serviço a uma entidade privada, porque o público não presta bom
serviço, revela a falta de qualidade de gestão desse político, porque não
nomeia os gestores públicos com competências adequadas, com um mandato bem
preciso, com objetivos e metas definidas com rigor e com os meios
apropriados para o exercício da sua
missão.
Rui Rio, certamente está de boa-fé,
fez esta proposta por impulso, mas, para o SNS que é considerado um dos 11
melhores do mundo, essa proposta é perigosa, porque poderá significar que a
saúde passará a ser apenas para quem tem dinheiro, deixando uma franja da
população mais vulnerável ao que sobrar do SNS e não apetecível aos privados,
sucateado, como aconteceu em vários país.
Até porque não se deve distinguir
a gestão em pública e privada, mas em boa gestão e má gestão. Temos exemplos de
ambas nos dois setores. Basta ver o que aconteceu ao setor bancário em Portugal
(para só falar do nosso país), com as falências dos bancos BPN, BPP, Banif, BES…,
todos privados.
Entregar/concessionar a privados
e depois deixar que os preços subam, é fácil de gerir. O difícil é cortar,
cortar e cortar nos orçamentos, ano após ano, e depois exigir que se faça mais
com menos, cujos resultados quase sempre são desastrosos. Não se pode exigir
bom serviço sem meios financeiros para tal. Veja-se o desmantelamento e
desaparelhamento do ministério da Agricultura e extinção de serviços decretados
por Passos Coelho no que deu em matéria de floresta incendiada no nosso país.
Economia que o PS também está a fazer em vários setores, para conter o défice,
que pode ser um desastre no futuro.
Portanto, melhorar os serviços,
seja quais forem, é um imperativo de quem governa, avaliando o alcance dos
serviços, os custos associados, quem e como se paga e dotando os serviços dos
meios para tal, não se desculpando que os privados é que fazem melhor. Que seja
banida a prática dos jobs for the boys, mal preparados para gerir, com as
consequências conhecidas.