30/09/2018

Cultura do EU



Paulo Andrade 
“O Egoísmo unifica os insignificantes” 
Martha de Medeiros , jornalista e escritora brasileira 

Nesta altruísta sociedade está muito em voga o egoismo. Não falo do egoismo de estar a comer um doce e não querer partilhar. Não falo do egoismo de ter muitos brinquedos, e não querer distribui-los numa brincadeira. 
Falo sim do egoismo que se serve da tecnologia, da postura oclocrática que conduz ao completo domínio e manipulação da capacidade de pensar, reagir e criticar. 
Falo do egoismo feudal que entende ter de sacrificar economicamente milhões, em prol dos desígnios de uns quantos. Falo do egoismo que sacrifica os valores e os princípios de uma vida social, e de viver em sociedade, em prol de uns quantos coitadinhos que vestem constantemente a capa de serem as vítimas de uma forma de ser e estar criadas e defendidas por eles mesmos. 
Falo do egoismo que corrói os valores do estado de direito democrático, em prol de interesses de fachada, e do sempre habilidoso fogo de artifício dos media com manchetes e opiniões compradas e parciais, que influenciam  uma classe política que se caracteriza por ser das mais desprezíveis realidades numa democracia mal nascida e absolutamente influenciável como a nossa. 
Estes exemplos de egoismo, que já se tornaram modus operandi na sociedade de hoje em dia, constituem o que de mais reles é possível ter na nossa democracia de fantoche.  
O que é uma democracia de fantoche ? 
Democracia manipulada. Manipulada pelo completo enviesamento de princípios e valores, deturpação de conceitos e favorecimento de minorias ideológicas. É a democracia que permite que delinquentes e  violadores sejam soltos pelos juizes. E outros nem sequer chegam a pisar o chão do tribunal.E, no meio disto, ocorrem decisões judiciais que roçam o ridículo e a bizarria. 
E de forma reiterada! 
 É exatamente a mesma que permite que muitas pessoas não consigam aceder à justiça, porque não têm como pagar o valor das unidade de conta, nem têm como pagar a um advogado. É exatamente a mesma democracia que, aludindo a valores enviesados, reles e absolutamente pífios, consegue dar casas quase de borla a pessoas que, além de não as pagarem,  as destroem, assim como aos edifícios e equipamentos .  Os exemplos em Lisboa são mais que muitos. É preciso é sair-se do sofá “cor de rosa” e conhecê-los in loco.  
Entre muitos exemplos, fico-me por estes! 
 A democracia de fantoche permite que o contribuinte empregado pague constantemente prejuizos provocados de forma deliberada, desconsiderada e desleixada ao erário público, de uns quantos pertencentes às elites “de meninos bem” ! E, da mesma forma, permite que estes indivíduos continuem a apreciar o doce ar da liberdade ,vivendo a vida como se nada tivesse acontecido, e como se eles não tivessem culpa de coisa nenhuma . 
Da mesma forma que ao delinquente  que faz dos subsídios um modo de vida que se estende a gerações, lhe é permitido ser presente a juiz um número tão grande de vezes que já é rotina, e lhe é permitido desrespeitar a polícia. Desrespeito este que teve e tem o seu mote máximo na desconsideração que o próprio estado provoca a estes profissionais.  
O egoismo doentio dos que querem ser eleitos e ter “lugar no poleiro” faz com que percam a perspetiva das coisas, provoca o enviesamento dos princípios tidos como base num “estado de direito” e , pior, a completa e absurda deturpação de conceitos. 
Porque o que interessa....é alinhar nas modas ideológicas, sejam certas,erradas, absurdas , oligofrénicas, mas tudo fazendo parte do mesmo.... manter a populaça entretida desviandolhe a atenção do que é realmente fulcral para manter saudável a  vida em sociedade. 
 Prevalecendo o exagero atual do “direito individual”, tornando-o supremo, sobre o direito comum, está construído um caminho, que é praticamente uma auto-estrada sem portagens, para o egoismo. Um egoismo legitimado por um estado que no futuro transformar-se-á numa das mais misantrópicas realidades de que a História se lembrará. Colocando (já coloca) em causa a capacidade de nos socializarmos e convivermos uns com os outros.   O próprio estado encarrega-se , através de leis de aplicação oligárquica, de dinamitar os pilares sobre os quais assentam os conceitos , valores e regras que permitem a convivência comum, em sociedade, tendo o eco do habitual  “ a minha liberdade acaba onde começa a tua” ! 
Num estado de direito democrático  saudável jamais os direitos de oligarquias ideológicas , ainda por cima criminosas,  se sobreporiam ao bem comum. Porque a vida em sociedade é isto mesmo....para subsistir não é compatível com egoísmos oligárquicos  levados ao extremo que colocam em causa toda  a vivência e sobrevivência em sociedade, bem como colocam em causa a própria responsabilidade do estado em ser uma entidade de bem, universal ! 
O egoismo, na sua mais ingénua , impune e pérfida vertente, dá corpo a tudo isto. 
Muitas decisões desta democracia , quando vindas a público,  muitos atos , atitudes e comportamentos dos seus intervenientes mais diretos , quando vindos a público, trazem-me imediatamente á memória a composição de George Bizet (1838-1875), intitulada “ Les Toreadors”. E, na mesma sequência, quando ouço certas tomadas de posição, e certas respostas a polémicas....traz-me à memória a música circense. 
E assim vamos e continuamos....completamente oclocratizados pelo egoismo que mantém as castas no poder. Não me refiro apenas ao poder político, mas sim ao poder que atua nos bastidores, o que ninguém vê, mas que cuida muito bem dos costumeiros egoismos dos amiguismos . O contribuinte paga e pagará sempre (é saldo garantido) o fruto dos mais desprezíveis atos egoistas . Especialmente os que dão corpo à corrupção.  
Preocupa-me de sobremaneira que as sociedades estejam a caminhar no sentido do exercício do velhinho “ Ein reich, ein volk, ein Führer”. Escrevo isto na lógica do egoismo ideológico crescente, no qual está patente e intrincado a postura do “não pensas como eu ou como a maioria, nem de acordo com uma suprema forma de ser e estar, deves ser excluído ”. Daí os imensos assassínios de caráter tão habituais nas redes sociais!  
Seria suposto conseguirmos fazer as coisas de outra forma...Socialmente saudável! E não de forma tão previsivelmente corporativista ,  ideologicamente totalitária .