António Fernandes |
É comum depararmo-nos com salas meio
cheias de gente a ouvir pessoas a falar sobre assuntos que mal dominam, mas
sobre cujo tema tecem as mais variadas considerações como se de sumidades na
matéria fossem.
Assim como também é comum estarem na
plateia inúmeras pessoas que falariam sobre o assunto com maior propriedade e
autoridade do que o orador.
Provavelmente com maior capacidade de
síntese e de objetividade.
Talvez por isso seja, também comum, que
uma parte significativa da assistência saiba de antemão aonde é que o orador
pretende chegar mesmo que esse o não consiga. Seja por insuficiência formativa
ou informativa.
Tão só porque, só adere a convocatória
para um determinado evento quem nesse evento está interessado.
Ora, diz o bom senso, que só está
interessado no evento em causa quem se identifica com a matéria a abordar seja
em que perspetiva ou contexto for:
-
Ou porque lhe diga diretamente respeito;
- Ou porque a matéria a abordar é do seu
interesse pessoal, profissional ou outro;
-
Ou porque se sinta direta ou indiretamente envolvido nos efeitos ou nas
consequências do assunto a dissecar, quiçá, discutir.
-
Entre outros. Sendo que, a condição primeira, é a do interesse por envolvimento
pessoal, social ou familiar;
Serve esta nota de registo para salientar
da rotina diária de cada um a propensão para este tipo de atividade que visa
trazer valor acrescentado a essa rotina e, dentro do possível, ajuda a soluções
tantas vezes procuradas e raramente encontradas. Seja nos maus momentos como
nos bons momentos. Embora, como é natural, este modelo de “partilha” social
vise a melhoria daquilo que corre menos bem.
Neste contexto, as palavras que não são
ditas, mas que se leem, acabam por colmatar falha grave de comunicação entre o
orador e a assistência por ajustamento pessoal da circunstância à realidade
individual.
Uma condição imprescindível para que o
evento surta o efeito para que foi delineado. O que a não acontecer defrauda a expectativa
da assistência.
Este tema é um tema de alguma complexidade
por envolver diversos personagens. Simplesmente, os erros cometidos tem sido
tantos que já de nada serve tentar “tapar o Sol com uma peneira”.
Desde logo a hora e os dias da sua
realização. A hora que em regra é em horário laboral e os dias que por norma
são a meio da semana.
Quando acontece serem ao fim de semana é
obvio que a parte da manhã de Sábado e Domingo são sempre más escolhas tendo em
atenção os afazeres domésticos e o merecido descanso semanal também.
Esta metodologia tem sido prática corrente
em setores de vital importância como o são a área social; a saúde; a educação e
outros.
Na área político partidária as sessões são
melhor preparadas e os dias melhor escolhidos com preferência para as
sextas-feiras e sábados a partir das vinte e uma horas.
Mas, em ambos os casos, a apetência para o
discurso é viral e a plateia cansa-se e desmobiliza para futura iniciativa.
Talvez por isso, a assistência média seja demasiado baixa e na maioria dos
eventos recorram os seus organizadores a técnicas de mobilização não
recomendáveis ao “arrumarem” as salas com públicos de outras sensibilidades e
por isso, sem o mínimo interesse no evento, de que resulta participação nula.
Pelo menos do publico alvo. Porque intervenções de algum cariz técnico
“questionador” do discurso transversal aos diversos oradores vão acontecendo
pelo menos para “salvar” o impacto do evento conferindo-lhe uma tónica de
participação que não teve.
A distribuição de tempo de intervenção
entre as partes, intervenientes e publico, é abissal, com predomínio quase
total para os chamados convidados, condicionante que retira o interesse
participativo e de informação que a assistência verdadeiramente interessada
espera.
Daí que as palavras que não são ditas
assumam importância fulcral porque são lidas em permanência por todos aqueles
que vivem as realidades conjunturais, na primeira pessoa, e que tantas vezes
são, de forma aligeirada, motivo de palestras tão chatas que já não interessam
a ninguém!