Mário Russo |
O Brasil sofre o seu 6º dia de paralisação no abastecimento
de mercadorias, com prejuízos de biliões de dólares e riscos de segurança física,
patrimonial e, mais importante, de saúde, tal o impacto que o transporte
rodoviário tem na vida do país. Falta de tudo nos supermercados, nas farmácias,
nos hospitais. Aeroportos fechados. Ambulâncias paradas. Escolas e
universidades encerradas. Bens perecíveis a apodrecer por falta de transporte.
Animais morrem nos camiões de transporte retidos nas estradas. Caos.
O Brasil, um país continental, 99 vezes maior que Portugal,
tem apenas 12% das suas rodovias pavimentadas. Surpreende? Pois bem, também a
mim, que conheço razoavelmente este país me surpreendeu. Ferrovias? Só de
brinquedo.
Com efeito, com dimensões continentais, o país embalou-se
nos braços da indústria automobilística e abandonou a via ferroviária e de
cabotagem, que além de serem melhores opções ambientais, são mais baratas. Os
sucessivos governos, praticamente do último meio século, nada fizeram para
alterar esta situação.
Os empregadores, grandes empresas do setor dos transportes,
dominam os acontecimentos e conseguiram acuar um fraco e incompetente governo
de Michel Temer, um governante que ninguém respeita. A inércia é tão grande,
que tem sido o STF, através dos juízes, que têm editado medidas e mandados de
justiça para desobstrução das rodovias que servem os diversos Estados, sob pena
de prisão e elevadas multas.
As reivindicações passadas para a opinião pública pelos
transportadores é de que é um movimento dos trabalhadores do setor
(camionistas), mas é falso. Exigiram o fim de impostos que incidem sobre o
gasóleo e taxas sobre as remunerações dos trabalhadores do setor e o governo apressou-se
a aceitar a chantagem, onerando o orçamento de Estado em mais de 5 bilhões de
reais, que farão falta à saúde e à educação, sucateadas neste país que poderia
ser o paraíso na Terra, tais as potencialidades e riquezas que exibe. Depois
deste abaixar de calças, os grevistas permanecem a desobedecer e exigem mais e
mais. Chantagem pura. Como se pode facilmente constatar, não é para beneficiar
os motoristas, mas as empresas. Os fretes não vão diminuir, nem os preços dos
bilhetes de viagens de autocarro serão menores.
O Governo não soube negociar com os chantagistas com a
firmeza que se impunha. O país depende totalmente dos transportes rodoviários
para se abastecer e o movimento foi orquestrado por patrões e não um legítimo
direito à greve dos trabalhadores, que seria para reivindicar direitos ou
benefícios aos desgraçados dos motoristas, mas foi para engordar o caixa das
empresas de transportes, que deram ordens aos motoristas para permanecerem nas
estradas, paralisando o país. Se as empresas têm licenças para o transporte de
pessoas e mercadorias é para realizar as atividades licenciadas e necessárias ao país. Se não
exercem, o Governo só tinha de dar um tempo para o recomeço, sob pena de
cancelamento das licenças e pesadas multas por obstruir vias públicas que não
lhes pertencem. A desobediência deve ser punida como estabelece a lei, dado o
país ser um Estado de Direito. O que se está a passar é terrorismo das empresas
e empresários do setor diante de um incompetente e débil governo liderado por
um político fragilizado pelas acusações que lhe são feitas.
É um exemplo de más opções que deve servir de alerta para os
candidatos que se avizinham nas próximas eleições e do povo brasileiro que deve
ter maior responsabilidade nas escolhas que faz, porque eleição não é carnaval
nem forró, como, infelizmente, tem acontecido.