29/04/2018

O DIA DO TRABALHADOR



António Fernandes 

Comemora-se um pouco por todas as grandes cidades do mundo civilizado, no primeiro dia do mês de maio, o dia do trabalhador.
Um dia que nos aparece hoje como que sendo algo que representa uma certa carga ideológica temporal que emergiu na sequência da luta de classes, mais concretamente aquando da revolução industrial, embora os primeiros movimentos se registem nas lutas contra o esclavagismo e posterior revolução agrária, em ciclos de reivindicação no que toca aos direitos dos trabalhadores que se foram organizando em sindicatos de classe e que, através de greves e outras movimentações conjuntas com as populações de que faziam parte integrante em função da concentração urbana em torno das industrias iam conseguindo acordos laborais com os patrões.
Uma figura individual de liderança férrea, hierarquizada, assente no medo imposto a que a necessidade das famílias em subsistir tinha de se sujeitar. Situação para a qual contribuíram: o analfabetismo; a iliteracia; as crenças; a violência; mas, e, sobretudo, o estímulo racional da estabilidade familiar e social.
A figura do patrão que nos é contemporânea e que ainda prevalece nas pequenas e médias empresas, ainda hoje se carateriza pelo direito institucionalizado da posse. São os donos da propriedade e dos servos que nela servem.
Acumulam riqueza pessoal e familiar a troco de um equilíbrio podre, numa paz podre, e que por esse motivo se situa na fasquia de uma linha ténue, permanentemente instável, presente e futura de todas as sociedades e civilizações.
O Primeiro de Maio não é, de forma alguma, uma ode ao trabalho. Ou, aos trabalhadores.
O Primeiro de Maio é, uma epopeia não acabada, da luta de todos aqueles que vendem a sua força de trabalho – os trabalhadores por conta de outrem – a caminho de uma sociedade mais igualitária; mais justa e mais fraterna; contra aquilo que hoje são as regras da contratação coletiva inexistente e por isso de precariedade no trabalho, e que, acreditam, a evolução do Homem consiga ultrapassar, tanto as assimetrias sociais como nas assimetrias culturais existentes, porque essa é a condição, sem condições, para que a Humanidade consiga desbravar o caminho necessário para as gerações futuras.
No entanto, reportando esta Nota ao circunstancialismo atual que foca o plano laboral que raia já a nostalgia de tempos idos em que era nas fábricas e nos campos que se concentrava a força de trabalho produtiva de transformação das matérias primas: o operariado e o campesinato; importa frisar que, eram estes dois segmentos sociais que davam corpo aos setores primário e secundário da cadeia da economia de pendor capitalista predominante em que uns vendiam a única coisa que tinham que era a sua força de trabalho e outros utilizavam essa mesma força de trabalho para afirmação de poder político, social e económico, assim como a acumulação de riqueza pessoal.
Uma relação interclassista com episódios distintos consoante o estádio da História em que decorreu, mas que só reporta a memória de registo desde o ano de 1886 após as manifestações de Chicago nos Estados Unidos e, em Portugal, a partir do ano de 1974. Sendo que em todos os Países democráticos e alguns que o não são, se comemora este dia como sendo o Dia do Trabalhador.
O episódio da sua deliberação convocatória, posteriormente aceite, é efetivado no dia 20 de junho de 1889, na segunda Internacional Socialista, reunida em Paris.