António Fernandes |
Comemora-se um pouco por todas as grandes cidades do mundo
civilizado, no primeiro dia do mês de maio, o dia do trabalhador.
Um dia que nos aparece hoje como que sendo algo que
representa uma certa carga ideológica temporal que emergiu na sequência da luta
de classes, mais concretamente aquando da revolução industrial, embora os
primeiros movimentos se registem nas lutas contra o esclavagismo e posterior
revolução agrária, em ciclos de reivindicação no que toca aos direitos dos
trabalhadores que se foram organizando em sindicatos de classe e que, através
de greves e outras movimentações conjuntas com as populações de que faziam
parte integrante em função da concentração urbana em torno das industrias iam
conseguindo acordos laborais com os patrões.
Uma figura individual de liderança férrea, hierarquizada,
assente no medo imposto a que a necessidade das famílias em subsistir tinha de
se sujeitar. Situação para a qual contribuíram: o analfabetismo; a iliteracia;
as crenças; a violência; mas, e, sobretudo, o estímulo racional da estabilidade
familiar e social.
A figura do patrão que nos é contemporânea e que ainda
prevalece nas pequenas e médias empresas, ainda hoje se carateriza pelo direito
institucionalizado da posse. São os donos da propriedade e dos servos que nela
servem.
Acumulam riqueza pessoal e familiar a troco de um equilíbrio
podre, numa paz podre, e que por esse motivo se situa na fasquia de uma linha
ténue, permanentemente instável, presente e futura de todas as sociedades e
civilizações.
O Primeiro de Maio não é, de forma alguma, uma ode ao
trabalho. Ou, aos trabalhadores.
O Primeiro de Maio é, uma epopeia não acabada, da luta de
todos aqueles que vendem a sua força de trabalho – os trabalhadores por conta
de outrem – a caminho de uma sociedade mais igualitária; mais justa e mais
fraterna; contra aquilo que hoje são as regras da contratação coletiva
inexistente e por isso de precariedade no trabalho, e que, acreditam, a
evolução do Homem consiga ultrapassar, tanto as assimetrias sociais como nas
assimetrias culturais existentes, porque essa é a condição, sem condições, para
que a Humanidade consiga desbravar o caminho necessário para as gerações
futuras.
No entanto, reportando esta Nota ao circunstancialismo atual
que foca o plano laboral que raia já a nostalgia de tempos idos em que era nas fábricas
e nos campos que se concentrava a força de trabalho produtiva de transformação
das matérias primas: o operariado e o campesinato; importa frisar que, eram
estes dois segmentos sociais que davam corpo aos setores primário e secundário
da cadeia da economia de pendor capitalista predominante em que uns vendiam a
única coisa que tinham que era a sua força de trabalho e outros utilizavam essa
mesma força de trabalho para afirmação de poder político, social e económico,
assim como a acumulação de riqueza pessoal.
Uma relação interclassista com episódios distintos consoante
o estádio da História em que decorreu, mas que só reporta a memória de registo
desde o ano de 1886 após as manifestações de Chicago nos Estados Unidos e, em
Portugal, a partir do ano de 1974. Sendo que em todos os Países democráticos e
alguns que o não são, se comemora este dia como sendo o Dia do Trabalhador.
O episódio da sua deliberação convocatória, posteriormente
aceite, é efetivado no dia 20 de
junho de 1889, na segunda Internacional Socialista, reunida em Paris.