05/03/2018

Entrevista ao Jornal É Noticia





Jornal É Noticia

Joaquim Jorge, biólogo, fundador do Clube dos Pensadores. Já publicou vários livros, foi convidado para ser candidato à CM Matosinhos e depois desconvidado. Começa e termina os debates a horas. Tem uma forma muito própria de fazer debates que lhe granjeou fama: tempo estipulado para falar e as pessoas tratam-se pelo nome sem títulos académicos. Os doutores ficam à entrada da sala do debate, agora parece que pegou moda. Esta forma de fazer debates fez escola. Já há muita gente a fazer o mesmo.
Há muitos debates, mas dizem como os que Joaquim Jorge faz e conduz não há ninguém. Os debates já tiveram manifestações, boicotes e ameaças, mas nunca deixou de realizar os debates e, receber bem os seus convidados, da direita à esquerda. Os seus debates têm sempre alguma tensão, nunca se sabe o que se pode passar e não há perguntas combinadas ou encenadas. Liberdade total com maneiras e respeito.
Ainda joga futebol com os amigos e com o filho. Tem um projecto em mente para Matosinhos em que quer envolver as pessoas e fazê-lo com as pessoas.
Reconhece que sai um pouco do cliché e que a seu segredo é ser autêntico e acreditar que é possível fazer coisas.
Gosta de escrever e intervir e nunca pensou que a escrita tivesse tanta força.
Vai continuar a fazer debates até um dia.
Dá-lhe gozo as pessoas pensarem e dizerem que não é capaz e as coisas acontecerem.


1-Fale-me um pouco sobre si.
Alguém que se interessa pelo processo, não se relaciona com o resultado.  Os meus detractores sempre me acusaram que fazia o clube para ter um lugar público. Isso pode acontecer por um curto período de tempo, não por 12 anos. A cidadania não tem tempo nem prazo é intemporal. De outro modo não tinha fundado o Clube dos Pensadores. Que é algo utópico, fantasioso e impossível. Mas a verdade é que existe e tem mercado.

2- Quando e como é que surgiu a ideia de fazer o Clube dos Pensadores?
Antes criei um blogue, em Janeiro de 2006. Como ferramenta de apoio na divulgação das iniciativas do Clube dos Pensadores que teve o seu 1.ºdebate em Março de 2006. Gosto de intervir e não tinha onde nem como. Esta foi a fórmula que idealizei.

3- De onde é que surgiu o nome “Clube dos Pensadores”?
O nome vem de pessoas que desejam pensar, independentemente do seu grau académico ou de instrução. No Clube deixamos de tratar as pessoas por doutor há 12 anos. Agora parece que querem seguir a ideia e ainda bem.

4- A partir de que momento é que sentiu que as pessoas de facto liam aquilo que escrevia?
Abordagem na rua, na net, pelo telemóvel, e também, pelos comentários, SMS e emails. No período áureo dos blogues era muito citado quer no JN e Público. Como sou um analfabeto tecnológico (risos) só mais tarde tive acesso a ver o enorme número de visitas diárias e fiquei muito contente. Mais tarde criei a minha página do FB e tem algum andamento.

5- Porque é que acha que as pessoas se interessam sobre a opinião de “terceiros” sobre política?
Não sei, talvez para confrontarem o que pensam e terem outra perspectiva. E, também acho que só lêem algo se valer a pena.

6- Sente que as pessoas se identificam com aquilo que escreve?
Algumas, outras não. Vou arranjando alguns inimigos, mas muitos amigos.

7- Como é lidar com as críticas e com as opiniões contrárias, através dos comentários?
É um bom exercício de democracia e cidadania. Aceitar a opinião de outrem mesmo sem estar de acordo.

8-  Quais são para si os aspectos negativos e positivos deste tipo de páginas (blogue, FB, Twitter, Instagram)?
O lado negativo: a cobardia do anonimato dizer o que lhe vem à cabeça de forma mal-educada e insolente sem consequências e punição. O lado positivo: difundir as minhas ideias de uma forma rápida e poder chegar a muita gente. Mas quando escrevo para um jornal o texto tem comentários, por vezes, são inqualificáveis e tenebrosos, outros são gratificantes e com boas achegas.

9- Alguma vez sentiu medo de expressar a sua opinião?
Não. Sou mais, antes quebrar que torcer. O medo é apanágio dos portugueses. Eu às vezes não pareço português (risos).

10- Já sofreu represálias?
Muitas. Ao ponto, se me calasse arranjavam-me um emprego. Todavia eu sempre tive emprego felizmente. Solicitarem a um director de jornal para que deixasse de escrever, a troco do jornal receber um subsídio. Tendo o desplante de tentar interferir no meu emprego de uma forma subtil. Mas tiveram azar, tenho amigos e granjeio simpatia pelo que faço. Nunca deixei de dizer o que penso de forma educada e com argumentação, nunca com ataques pessoais. Quem me conhece sabe que é assim.

11-Tem alguma história caricata relacionada com algo que tenha partilhado?
O blogue Clube dos Pensadores está aberto a quem queira escrever. Durante uns tempos escreveu alguns posts um senhor chamado Ramos. Nunca percebi porque não queria que eu pusesse a sua foto. Mais tarde ligaram-me a dizer que tinha pertencido à ex-PIDE e que não era uma pessoa recomendável. A blogosfera tem destas coisas fica tudo online e registado.

12-   Quais são as suas expectativas para o futuro?
Eu vou continuar com o blogue enquanto puder. Mas os blogues já estão fora de moda são muito estáticos. Está tudo noutras plataformas: FB, Instagram, Twitter, etc. O que se escreve e ser seguido tem que ter qualidade e conteúdo. Isso dá trabalho. Todavia estou a criar uma plataforma digital para um projecto em Matosinhos (cidade onde nasci, em S. Mamede de Infesta).

13-  Na sua opinião a população portuguesa tem interesse pela política?
Não, nenhuma. Só se interessa quando lhe mexem nos bolsos. É uma minoria que se interessa por politica, mais os que usufruem dela (políticos e gente que os gravita)

14- Ainda se lembra do seu primeiro post?
Sobre a Génese do Clube. Vou transcrever um excerto: “É um clube, cuja génese da sua criação tem como objectivo a liberdade de expressão e pensamento. Está aberto a todas as pessoas que professem qualquer tipo de ideologia e às pessoas que gostam de agir livremente sem impedimentos, somente manietados pela sua consciência.” ( …)

15-   Na sua óptica quais são os temas que despertam mais interesse no “Clube dos Pensadores”?
Depende do momento que se está a viver. Mas mais assuntos políticos e sociais.

16-   Como é que os seus artigos de opinião chegam a outros meios de comunicação social?
Ter um blogue fez com que escrevesse todos os dias. Isso deu-me traquejo e experiência para escrever para jornais. Tenho a minha página pessoal no Facebook – Joaquim Jorge. Envio opinião para o Noticias ao Minuto e tenho uma coluna de opinião no jornal Record com o nome Clube dos Pensadores. Escrevo em exclusivo para o Jornal É Noticia em temas por vezes que saem da caixa. E, ultimamente ao escrever, por vezes sou citado noutros jornais. O que é muito agradável e sinto-me lisonjeado e grato.

17-   Em suma, como é que descreve o Clube dos Pensadores?
Um misto de erudito e popular. Em que cabe toda a gente que venha por bem.

18- Projectos para o futuro?
O clube vai fazer no dia 12 de Março, 12 anos. Estou um pouco cansado de organizar debates será o 121.º debate.  Agora há debates por tudo que é sítio e por tudo e por nada e, ainda bem. Quando criei o Clube a sociedade estava muito fechada e com défice de debates. Tentei preencher uma lacuna. Actualmente não.
Porém convém saber distinguir como se faz debates, quem se convida, quem modera e com quem se está. A forma de fazer debates é muito importante.
Todavia como disse há pouco na entrevista estou a pensar criar uma plataforma digital com um projecto para Matosinhos que me parece uma ideia interessante, em que as pessoas terão parte activa no processo, e não, serão meros espectadores.
A política tem que se ser feita com as pessoas e não de outra forma. Para isso vou reunir um grupo de académicos e a sociedade civil em geral.

19-As maiores dificuldades que sente no Clube dos Pensadores?
Falta de apoios. Ser independente e não estar subjugado a nenhuns interesses tem que se lhe diga. E paga-se um preço altíssimo. As pessoas que vão ao clube deviam pensar um bocadinho, pois não pagam nada, não têm obrigações nem nenhum compromisso. Para se fazer o que se faz é preciso alguma carolice e ginástica mental. E ter alguns amigos que se dispõem a ajudar sem interesse. Eu também ajudo muito o clube quando é preciso.
Muitas dificuldades em passar na comunicação social. Cada vez mais o mediático é para os partidos e sempre os mesmos. Há uma tendência para se falar do mesmo assunto e sempre os mesmos. Por outro lado, a oportunidade para projectos como este são muito escassas.



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