Jornal É Noticia
Joaquim Jorge, biólogo, fundador do Clube dos
Pensadores. Já publicou vários livros, foi convidado para ser candidato à CM
Matosinhos e depois desconvidado. Começa e termina os debates a horas. Tem uma
forma muito própria de fazer debates que lhe granjeou fama: tempo estipulado
para falar e as pessoas tratam-se pelo nome sem títulos académicos. Os doutores
ficam à entrada da sala do debate, agora parece que pegou moda. Esta forma de
fazer debates fez escola. Já há muita gente a fazer o mesmo.
Há muitos
debates, mas dizem como os que Joaquim Jorge faz e conduz não há ninguém. Os
debates já tiveram manifestações, boicotes e ameaças, mas nunca deixou de
realizar os debates e, receber bem os seus convidados, da direita à esquerda.
Os seus debates têm sempre alguma tensão, nunca se sabe o que se pode passar e
não há perguntas combinadas ou encenadas. Liberdade total com maneiras e
respeito.
Ainda joga
futebol com os amigos e com o filho. Tem um projecto em mente para Matosinhos
em que quer envolver as pessoas e fazê-lo com as pessoas.
Reconhece
que sai um pouco do cliché e que a seu segredo é ser autêntico e acreditar que
é possível fazer coisas.
Gosta de
escrever e intervir e nunca pensou que a escrita tivesse tanta força.
Vai
continuar a fazer debates até um dia.
Dá-lhe gozo
as pessoas pensarem e dizerem que não é capaz e as coisas acontecerem.
1-Fale-me um pouco sobre si.
Alguém que
se interessa pelo processo, não se relaciona com o resultado. Os meus detractores sempre me acusaram que
fazia o clube para ter um lugar público. Isso pode acontecer por um curto
período de tempo, não por 12 anos. A cidadania não tem tempo nem prazo é
intemporal. De outro modo não tinha fundado o Clube dos Pensadores. Que é algo
utópico, fantasioso e impossível. Mas a verdade é que existe e tem mercado.
2- Quando e como é que surgiu a ideia
de fazer o Clube dos Pensadores?
Antes criei
um blogue, em Janeiro de 2006. Como ferramenta de apoio na divulgação das
iniciativas do Clube dos Pensadores que teve o seu 1.ºdebate em Março de 2006.
Gosto de intervir e não tinha onde nem como. Esta foi a fórmula que idealizei.
3- De onde é que surgiu o nome “Clube
dos Pensadores”?
O nome vem
de pessoas que desejam pensar, independentemente do seu grau académico ou de
instrução. No Clube deixamos de tratar as pessoas por doutor há 12 anos. Agora
parece que querem seguir a ideia e ainda bem.
4- A partir de que momento é que
sentiu que as pessoas de facto liam aquilo que escrevia?
Abordagem na
rua, na net, pelo telemóvel, e também, pelos comentários, SMS e emails. No
período áureo dos blogues era muito citado quer no JN e Público. Como sou um
analfabeto tecnológico (risos) só mais tarde tive acesso a ver o enorme número
de visitas diárias e fiquei muito contente. Mais tarde criei a minha página do
FB e tem algum andamento.
5- Porque é que acha que as pessoas
se interessam sobre a opinião de “terceiros” sobre política?
Não sei,
talvez para confrontarem o que pensam e terem outra perspectiva. E, também acho
que só lêem algo se valer a pena.
6- Sente que as pessoas se
identificam com aquilo que escreve?
Algumas,
outras não. Vou arranjando alguns inimigos, mas muitos amigos.
7- Como é lidar com as críticas e com
as opiniões contrárias, através dos comentários?
É um bom
exercício de democracia e cidadania. Aceitar a opinião de outrem mesmo sem
estar de acordo.
8-
Quais são para si os aspectos negativos e positivos deste tipo de
páginas (blogue, FB, Twitter, Instagram)?
O lado negativo:
a cobardia do anonimato dizer o que lhe vem à cabeça de forma mal-educada e
insolente sem consequências e punição. O lado positivo: difundir as minhas
ideias de uma forma rápida e poder chegar a muita gente. Mas quando escrevo
para um jornal o texto tem comentários, por vezes, são inqualificáveis e
tenebrosos, outros são gratificantes e com boas achegas.
9- Alguma vez sentiu medo de
expressar a sua opinião?
Não. Sou mais,
antes quebrar que torcer. O medo é apanágio dos portugueses. Eu às vezes não
pareço português (risos).
10- Já sofreu represálias?
Muitas. Ao ponto,
se me calasse arranjavam-me um emprego. Todavia eu sempre tive emprego
felizmente. Solicitarem a um director de jornal para que deixasse de escrever,
a troco do jornal receber um subsídio. Tendo o desplante de tentar interferir
no meu emprego de uma forma subtil. Mas tiveram azar, tenho amigos e granjeio
simpatia pelo que faço. Nunca deixei de dizer o que penso de forma educada e
com argumentação, nunca com ataques pessoais. Quem me conhece sabe que é assim.
11-Tem alguma história caricata
relacionada com algo que tenha partilhado?
O blogue
Clube dos Pensadores está aberto a quem queira escrever. Durante uns tempos
escreveu alguns posts um senhor chamado Ramos. Nunca percebi porque não queria que
eu pusesse a sua foto. Mais tarde ligaram-me a dizer que tinha pertencido à ex-PIDE
e que não era uma pessoa recomendável. A blogosfera tem destas coisas fica tudo
online e registado.
12-
Quais são as suas expectativas para o futuro?
Eu vou
continuar com o blogue enquanto puder. Mas os blogues já estão fora de moda são
muito estáticos. Está tudo noutras plataformas: FB, Instagram, Twitter, etc. O
que se escreve e ser seguido tem que ter qualidade e conteúdo. Isso dá
trabalho. Todavia estou a criar uma plataforma digital para um projecto em
Matosinhos (cidade onde nasci, em S. Mamede de Infesta).
13-
Na sua opinião a população portuguesa tem interesse pela política?
Não,
nenhuma. Só se interessa quando lhe mexem nos bolsos. É uma minoria que se
interessa por politica, mais os que usufruem dela (políticos e gente que os
gravita)
14- Ainda se lembra do seu primeiro
post?
Sobre a
Génese do Clube. Vou transcrever um excerto: “É um clube, cuja génese da sua
criação tem como objectivo a liberdade de expressão e pensamento. Está aberto a
todas as pessoas que professem qualquer tipo de ideologia e às pessoas que
gostam de agir livremente sem impedimentos, somente manietados pela sua
consciência.” ( …)
15-
Na sua óptica quais são os temas que despertam mais interesse no “Clube
dos Pensadores”?
Depende do
momento que se está a viver. Mas mais assuntos políticos e sociais.
16-
Como é que os seus artigos de opinião chegam a outros meios de
comunicação social?
Ter um
blogue fez com que escrevesse todos os dias. Isso deu-me traquejo e experiência
para escrever para jornais. Tenho a minha página pessoal no Facebook – Joaquim Jorge.
Envio opinião para o Noticias ao Minuto e tenho uma coluna de opinião no jornal
Record com o nome Clube dos Pensadores. Escrevo em exclusivo para o Jornal É
Noticia em temas por vezes que saem da caixa. E, ultimamente ao escrever, por
vezes sou citado noutros jornais. O que é muito agradável e sinto-me lisonjeado
e grato.
17-
Em suma, como é que descreve o Clube dos Pensadores?
Um misto de
erudito e popular. Em que cabe toda a gente que venha por bem.
18- Projectos para o futuro?
O clube vai
fazer no dia 12 de Março, 12 anos. Estou um pouco cansado de organizar debates
será o 121.º debate. Agora há debates
por tudo que é sítio e por tudo e por nada e, ainda bem. Quando criei o Clube a
sociedade estava muito fechada e com défice de debates. Tentei preencher uma
lacuna. Actualmente não.
Porém convém
saber distinguir como se faz debates, quem se convida, quem modera e com quem
se está. A forma de fazer debates é muito importante.
Todavia como
disse há pouco na entrevista estou a pensar criar uma plataforma digital com um
projecto para Matosinhos que me parece uma ideia interessante, em que as
pessoas terão parte activa no processo, e não, serão meros espectadores.
A política
tem que se ser feita com as pessoas e não de outra forma. Para isso vou reunir
um grupo de académicos e a sociedade civil em geral.
19-As maiores dificuldades que sente
no Clube dos Pensadores?
Falta de
apoios. Ser independente e não estar subjugado a nenhuns interesses tem que se
lhe diga. E paga-se um preço altíssimo. As pessoas que vão ao clube deviam
pensar um bocadinho, pois não pagam nada, não têm obrigações nem nenhum
compromisso. Para se fazer o que se faz é preciso alguma carolice e ginástica
mental. E ter alguns amigos que se dispõem a ajudar sem interesse. Eu também
ajudo muito o clube quando é preciso.
Muitas
dificuldades em passar na comunicação social. Cada vez mais o mediático é para
os partidos e sempre os mesmos. Há uma tendência para se falar do mesmo assunto
e sempre os mesmos. Por outro lado, a oportunidade para projectos como este são
muito escassas.
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