27/03/2018

As tentações de seita nos partidos políticos



António Fernandes 
Sempre houve uma tentação para transformar os partidos políticos em seitas pensando os seus dirigentes que dessa forma acautelam a sua longevidade e mando dentro da organização que dirigem. Sejam de ordem política, social ou outra.
Razão pela qual, dentro dos partidos políticos, as sensibilidades se agrupam em fações que enquanto discutem entre si o poder interno se alheiam daquilo que deviam ser a essência das suas lutas que tem que ver com a organização social e administrativa do território e das suas comunidades. Desta forma, quando chamadas ao exercício público, por ato eletivo, raramente se identificam com as problemáticas para que deviam estar preparados e por isso não dispõe de soluções. Facto pelo qual se socorrem de “remendos” corporizados por tecnocratas que sequiosos de protagonismo se prestam a esses fretes uma vez que, não raramente, nem sequer se identificam com o ideário politico da organização a quem vão prestar o serviço.
Esta conduta, que não é nova em algumas organizações partidárias, associativas e outras formas de organização, pretende incutir aquilo que confundem como sendo o “respeito” a “ordem” e o “bom funcionamento da Instituição”, quando da sua prática se apura exclusivamente intenção de perpetuação de um conjunto de pessoas fechado, e da sua exclusiva opinião, seja interna ou externa ao Órgão, seja coincidente ou diferente.
Conduta que nunca foi, nem na forma nem na prática, um exercício corrente das organizações dirigidas por mentes progressistas, porque desde sempre souberam ser a sua abertura aos seus membros e à sociedade o principio deontológico e ético do funcionamento democrático agregador do trabalho coletivo, hoje considerado como trabalho organizado em torno de uma equipa de pessoas responsáveis, cujo objetivo é auscultar as comunidades para que do seu trabalho resultem boas práticas e a excelência nos serviços que prestam.
É um principio de fácil execução quando os executores estão em sintonia com o meio e de difícil execução sempre que os executores são alheios a esse mesmo meio mesmo quando demonstram, ou tentam demonstrar, o contrário, na justa medida em que não é o habito que faz o monge porque a mentalidade monástica está alojada na formatação intelectual do indivíduo e nunca na vestimenta, tenha ela o formato que tiver.
Até porque, o valor de autoestima sendo um direito de todos os cidadãos que exige condições de vida que propiciem esse sentimento e é uma causa pela qual as mentes progressistas pugnam, considerando ser uma condição imprescindível para o funcionamento saudável de uma qualquer instituição em particular, e da sociedade no seu todo, colide com o espezinhar desse valor que o espirito de seita vilipendia.
Sabido que é, ser a partilha do pensamento que dá forma à opinião coletiva que se expressa.
A assim não ser, há castração do pensamento comum para fazer vingar o pensamento de uns quantos que são um núcleo de pessoas limitadas, e que para que o seu pensamento seja socialmente aceite necessitam de estabelecer barreiras intransponíveis ao pensamento inteligente que forja o pensamento social e coletivo.
Por isso, o “modus operandi” de uma seita no que toca ao formato da sua organização interna assenta no não permitir a existência desse sentimento de autoestima nos seus membros, militantes ou sócios, porque gerando um estado permanente de submissão nas suas hostes consegue reunir um conjunto de condições que são imprescindíveis para a concretização da obediência necessária ao seu “normal” funcionamento.
Uma seita tem uma hierarquia própria que não admite afronta ou sublevações. Uma hierarquia que é imposta por meios diversos e de onde sai a chefia, ditatorial ou “testa de ferro”, encarregue em obrigar a que todas as estruturas existentes a sirvam. Assumem que só ela tem o direito a emanar diretrizes, fecham-se nas deliberações que tomam, e que depois exigem que sejam cumpridas.
Ora, na conjuntura Nacional, após a Revolução de Abril, é necessário estar atento a estas tentações que são fatais para quem acredita num projeto de futuro para as sociedades do presente!
Porque, como a sabedoria popular diz: “quem cala, consente!”.