16/01/2018

Os Senhores do Comando e os Comandados




Leonardo Ferreira*
 Quando não escrevo, sei de tudo aquilo que deveria escrever; e, quando escrevo, simplesmente não me lembro de nada. É o que acontece nesta terra de incertezas e incompreensões. Já dizia o outro, o vidente maravilhoso, que o país ia mal. Tão mal que não temos olhos nas nossas faces para ver isso. Um dito desastre de excecionais governações, enfim, que se vão arrastando por esses tempos fora. Mas não falemos do mal: falemos do pior.      A identidade da nação é-me agora desconhecida, contando que nunca a foi, para proteger alguns. Considero intolerável o que para eles não é pudico: andar com aquele ar engravatado, dizendo palavras que ofendem os sensíveis ouvidos daquela gente também francamente fraca. Honestamente, estão todos num completo erro. Uns mascaram-se, outros não têm discrição nenhuma. Uns não querem sair da engenhosa rede de corrupção, outros não desejam sair de uma outra rede de pobreza evidente. Paciência! Tem de se ter e é o que se tem mais, de facto. Que se há de dizer? De uma maneira ou de outra, palavras são palavras, se não for a guerra dos punhos para colocar a justiça à frente daqueles que fogem dela a sete pés, quem será? Palavras com certeza que não. Foram desvalorizadas, são pó e poeira no ar. Não admira, visto abusarem destas relíquias em salas de “convívio familiar”. O senhor da esquerda, sentado e mal-humorado, olha para os demais como se eles fossem os culpados das suas fraquezas. Mas nada diz, pudera. O da direita está alegre: isto causa-lhe graça, isto de ouvir homens e mulheres num conflito quase extremo, tentando descobrir a forma de melhorar o nosso estado e de governar a nossa vida. Sorri, inconsciente. Por fim, o levantado, o de pé como um bloco maciço, a expelir o que tem para dizer. Não diz nada de jeito, no entanto deixa uma marca. “É necessário fazer-se isto e aquilo”, ou seja, é necessário evitar isto e aquilo. A única forma de avançarmos é evitar isto e aquilo. E não há volta a dar.      Estes agrestes! Ainda têm uma longa montanha para escalar, aquela do pensamento. O pensamento é uma coisa que a eles… Não lhes chega bem à cabeça.

*estudante de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto