António Fernandes |
Em Novembro
ainda caem folhas.
Não sei
precisar com exatidão quando terão começado a cair.
Talvez a
partir de meados de Agosto. Embora o Outono seja a estação do ano em que esse
fenómeno natural acontece.
Em Novembro
já não há vindimas nem desfolhadas nem coisa que o valha. Há o
"debangar" final da castanha; o apanhar da azeitona madura; o
amarelecer da laranja e frutos da sua espécie parental.
Há os
magustos. O vinho novo. E os velhos - os mais idosos - uma espécie Humana muito
em uso na moda social "vanguardista" de aquém e além-mar, na ótica
festiva de protecionismo duvidoso, porque a sua condição de peso social em
todas as variáveis não se pode contornar. Assume-se e pronto!
Novembro é
um mês especial.
Empurrado
pelos ventos do final do verão de Agosto, antecipa o calor gasto do Natal.
Novembro
fica assim, como... O patinho feio. Não tem a beleza do verão nem o toque a
reunir familiar de Dezembro por época Natalícia.
Novembro
Tem um
toque fúnebre do dia de todos os Santos!
Um daqueles
dias em que se encontram pessoas que já não se viam há anos e que neste dia
confirmam que ainda estão vivos. Não porque sintam qualquer sentimento de
alegria, mau grado o local do encontro, mas tão só pela oportunidade de
constatarem que ainda por cá andam enquanto que outros já se foram e em torno
dessa evidência limam arestas do aprofundamento das circunstâncias em que
foram.
Novembro
Também tem
a noite das bruxas.
Não a
aculturação que nos querem impingir oriunda do Continente Americano e sim a das
cabaças ocas colocadas em cima de muros com velas acesas dentro. Em torno das
quais se contam histórias de bruxas que se reuniam ao redor de fogueiras em
encruzilhadas de quatro caminhos por cujas bermas corriam as águas em direção
ao rio.
E outras
histórias de arrepiar como: a do "Manel" que levou a motorizada às
costas porque se riu delas; a do "Se João do Quelhas" que apareceu nu
no meio do rio; a de "Se Zé Palha" que levou uma "lambada"
e malhou monte abaixo porque mandou uma "boca" às ditas; e demais
histórias populares de deixar os cabelos em pé.
Novembro é
um mês taciturno.
Tem tons de
cinza a mais.
Ora chove.
Ora venta. Ora nem uma coisa nem outra.
Ou então...
Lá aparece o verão de S. Martinho. Aquele em que melhor combinam os cantares;
as concertinas; as castanhas e o vinho.
Mas...
Novembro
tem peculiaridades sintomáticas:
É um mês de
afetos. Nostálgico por excelência. Que incute fragilidades díspares de
aproximação e de separação.
Não é,
definitivamente, um mês de consenso ou sequer de transição.
É um mês
que convida ao retiro, à introversão, ao equilíbrio mental e, sobre tudo a
decisões futuras ponderadas assentes no somatório de todas as decisões
anteriormente tomadas.
Depois,
como quem não quer a coisa, entra-nos pela vida dentro Dezembro.
Dezembro e
a discórdia sobre o dia da mãe, 8 de Dezembro.
Dezembro e
o Pai Natal, mais uma aculturação criada como imagem de marca de um
refrigerante, em detrimento da tradição nacional, com maior incidência no
Norte. A comemoração do nascimento do menino Jesus na noite do dia vinte e
quatro para o dia vinte e cinco: as prendas nos sapatos colocados em fornalhas,
lareiras, "brasumes" e outros.
A ceia de
Natal em que a família se reúne à mesa onde bacalhau cozido com batata e
pencas, ou couve galega nas casas mais humildes; as rabanadas; os mexidos; são
o mote para um encontro sempre de festa e de calor familiar.
Tocadas as
doze badaladas no sino da igreja para a missa do galo é hora de dar início à
entrega das prendas. Depois, os mais moços, em idade de namoriscar, irão à
missa do galo "arrastar a asa" e os restantes populares
divertir-se-ão da melhor forma que puderem.