06/11/2017

A CIDADE. MOBILIDADE E URBANISMO



António Fernandes 
A mobilidade, quando pretendida em urbanização já existente e que não foi devidamente planeada aquando da sua projeção e respetiva construção, ou, se o foi, foi-o para a época tendo em atenção a realidade conjuntural existente, e só essa, só é possível de concretizar se os índices de construção e a dimensão das suas infraestruturas viárias o permitirem.
Se o não permitirem, não adianta rigorosamente nada andar a inventar soluções quando não há condições para solução nenhuma como aconteceu recentemente nas obras realizadas na Rua Nova de Santa Cruz e parte da Rua da Fábrica aonde se manteve a cegueira política de empurrar o transito para uma saída de perigo extremo e sem visibilidade no caso da Rua da Fábrica sobre a rotunda existente e de alta densidade de tráfego e, a saída da Rua Nova de Santa Cruz para o sentido Norte. Assim como o parqueamento de automóveis que colide com o espaço destinado ao peão e em completo desacordo com as regras do bom senso e do direito de deslocação de cidadãos com mobilidade reduzida.
O desnivelamento para seguimento alinhado da citada Rua Nova de Santa Cruz para a Rua de D. Pedro V ficou para as calendas mais por falta de engenho e arte do que por falta de dinheiro uma vez que o montante do investimento feito na cosmética com que o município premiou o traçado visado, presumo, foi superior à construção de uma passagem desnivelada para automóveis e peões e respetivos acessos laterais rodoviários e pedonais.
O Urbanismo de hoje é uma solução completa e sem qualquer complexidade. Depende exclusivamente da forma como se “leem” os indicadores da localidade aonde se vai intervir tendo em atenção: o espaço; as necessidades físicas e sociais; o ambiente e a biodiversidade; as infraestruturas; os equipamentos; o património; entre outros.
A monitorização inteligente de todas as suas redes: viária; rodoviária; transportes; agua; resíduos; energias; e outros;
A fluência efetiva de todas as suas malhas de forma a que tudo seja mais célere na eficácia e no resultado.
Só assim as cidades responderão fisicamente às necessidades das pessoas e estarão preparadas para os embates do futuro.
As cidades de construção a pedido, de forma avulsa, para beneficiar alguém, e sem critérios de sensibilidade e inteligência política a que se deve acrescer a responsabilidade para com os seus eleitores, serão sempre cidades sem qualquer qualidade de vida e que não reunirão condições para fixar as populações do futuro.
Ora, a cidade de Braga, começa a raiar o limite daquilo que não deve ser uma cidade que se auto proclama como sendo uma cidade virada para o futuro, física e socialmente.
O Urbanismo é desconexo e a Mobilidade possível desajustada à sua dimensão e necessidades. Sendo que, ambos, deveriam objetivar a qualidade de vida do cidadão assim como promover a harmonia entre o Homem e o seu habitat.
Assim sendo, penso que, um urbanismo que não contemple a mobilidade como elemento fulcral aquando da sua implantação, resultará sempre num emaranhado de betão e demais materiais cuja demolição a prazo é a única solução inteligente a tomar, por única, uma vez que os remedeio nada resolvem, ficam demasiado caros, e os cidadãos já não contemporizam com esse tipo de medidas políticas que não evidenciam capacidade governativa.
Penso também que a linearidade técnica dos atos sempre foi a mais clarividente.
Porque a atrofia derivada complica os objetivos fundados do senso coletivo em proveito de objetivos individuais ou de grupo, o que origina a sinuosidade dos processos e, por arrastamento, o comprometimento de soluções futuras num quadro em que a demolição é solução impossível por atentar contra o direito e, sobra por isso o remedeio como sendo a única alternativa. Um remedeio que tem tido, na cidade, um custo social acrescido em que uns consideram “violação do PDM” e outros “ocupação de zonas de equipamentos”, para fazer “jeitos” a privados em detrimento do interesse público.
Talvez por isso mesmo, o esforço que se exige aos técnicos intervenientes na malha urbana da cidade: na implementação de soluções; na implantação de novo edificado; assim como na resolução dos problemas resultantes; seja de enorme capacidade criativa a que só uma capacidade intelectual fora do comum consegue responder.
Todos sabemos que não é fácil conjugar interesses antagónicos resultantes de carga ideológica de quem exerce o poder autárquico.
Mas também sabemos que o poder de onde emerge essa carga ideológica, é efémero.