António Fernandes |
Os
meninos da mãe não lhe largam o saiote. E choram. Fazem birra. Esperneiam
deitados em chão coberto com tapetes do mais fino que há para lhes amortecer a
queda e não provocar hematomas quando caem ou, pura e simplesmente, para ele se
atiram.
Esperam
pelo pai para lamuriarem o mau dia que passaram e lhe cravarem uma nota de
cinquenta euros a fim de, conjuntamente com outros meninos de outras mães
acelerarem as suas viaturas topo de gama e rumarem a estabelecimentos hoteleiros
junto à praia para beberem umas cervejas e petiscarem umas francesinhas. Que são
uma espécie de sandes em pão de forma com queijo, bife alface e outros
ingredientes no meio, banhadas num molho especial.
Deliciam-se
os meninos da mãe.
Os
meninos da mãe da mãe não sabem, nem querem saber, o quanto sua mãe amargou para
os trazer até ao presente. Já lá vão mais de trinta anos. Continuam
paulatinamente a fazer de conta que tudo lhes passa ao lado porque, para eles,
os meninos da mãe, os únicos responsáveis pelo seu estado social são todos
aqueles que lhes não legaram futuro de vida sem preocupações nenhumas.
Dizem
umas asneiras com a maior das naturalidades convencidos de que estão a ditar
bitaites de alto gabarito de forma a se evidenciarem perante as meninas de mães
diversas, nalguns casos da mesma mãe, convencidos que essa é a melhor maneira de
lhes chamar a atenção e conseguir levar por diante intenção de casal. Em regra o
tiro sai-lhes pela culatra porque as meninas já não são da mamã nem sequer do
papá. Já andam pelo próprio pé que é como quem diz:- já sabem muito bem o que
fazem e o que querem. E, a intenção, fica-se pela intenção por falta de intenção
da parte restante. Do citado casal, como é óbvio.
Pela
madrugada voltam a casa. Tentam fazer o mínimo barulho possível ao entrar, da
porta da entrada até ao quarto aonde se encontra a cama em que se deitam,
devidamente arrumada pela sua mãe que também foi quem a escolheu quando eram
bebés, completamente satisfeitos com a vida que
levam.
Não os
incomoda a vida que as suas mães levaram e continuam a levar para os sustentar,
vestir e, acompanhar a sua evolução nos estabelecimentos de ensino, mas, sobre
tudo, aturar.
Os
meninos da mãe já tem idade para fazer alguma coisa de útil em beneficio do
agregado familiar em vez de assobiarem para o lado como se nada tivessem a ver
com isso. Só porque partem do pressuposto de que, não pediram para nascer.
Os
meninos da mãe, olham para todos os lados nomeadamente para trás, e congeminam
em sede mental como é que hão-de levar uma vida autónoma sem grande esforço e de
responsabilidade mínima.
Por
entre umas pernas mais ou menos bem torneadas, uns decotes generosos e olhares
de desafio concluem que a sua casa não é albergue eterno e que por isso tem de
se fazer à vida.
Os
meninos da mãe descobrem que há uma outra “mãe” que reúne melhores condições de
“alojamento” social e económico: a “mãe”, cunha
institucional.
Uma
espécie de ponto de encontro em torno de um objetivo sem ideal algum mas
recheado de interesses individuais aonde se divertem à brava e asseguram lugar
proeminente e bem remunerado num qualquer gabinete de uma Câmara Municipal,
Ministério ou outro qualquer estabelecimento publico ou privado sem que para
isso necessitem de currículo e experiência profissional, bastando-lhes
colocarem-se de cócoras e bajulação ao mestre a quem ajudaram através de
travessuras a conquistar o poder na instituição que servem e através desta
ascender na carreira sempre bem colocados em Listas candidatas aos Órgãos
internos para se abalançarem para as Listas candidatas a lugares públicos do
Estado de forma a se sentarem nas cadeiras do poder político sempre na esteira
de poderem vir a ser eles a ocupar o seu lugar sem contemplações nem agravo
porque essa escola é uma escola de valores pela qual sua mãe se regeu e que
segundo pensam, não resultou em beneficio de nada. Por isso passam a dedicar à
sua "mãe" adotiva toda a afeição de que são capazes-
Os
meninos da mãe são uma espécie em ascensão profissional mas em queda social
precipitada por ser oficio de curta duração no tempo corrido e
etário.
Talvez
por isso tenham a preocupação dominante em acautelar tempos vindouros por todas
as vias que se lhe oferecem em resultado de um sistema conveniente para eles, os
meninos da mãe e, para os beneficiários indiretos os mestres subjugados aos
interesses do poder financeiro que são os que diretamente tiram beneficio e que
para isso pagam principescamente aos seus
servidores.
Que o
poder político está a ficar cada vez mais vazio de conteúdo político. De ideias
para o futuro. De valores que moldem essas ideias de forma a que os Homens não
sofram as consequências das birras dos meninos da mãe que não olhando a meios
para atingir fins atropelam tudo e todos para chegar ao topo de uma pirâmide
construída sobre barro.
Os
meninos da mãe não precisam de mais nada a não ser de uns euros no bolso para
gastar e de muitos euros em contas bancárias algures espalhadas por paraísos
fiscais. Na presunção de que o dinheiro não fala e o património fala de
mais.
No
entanto, é de todo conveniente registar que havendo mães diferentes é lógico que
haja meninos também diferentes.
Os
meninos da mãe materna que lhes seguem os princípios e, os meninos de outras
mães não maternas, que por não terem princípios, cumprem esse papel na
perfeição. As "mães" e os meninos!