Mário Russo |
O Clube dos Pensadores não poderia almejar melhor maneira de
se internacionalizar nos debates que a presença do Prémio Nobel José Ramos
Horta, uma personalidade extraordinária, combatente pela liberdade de Timor,
que foi “tudo” no seu país, desde Ministro dos Negócios Estrangeiros, a Primeiro-Ministro
e Presidente da Republica. Exerce atualmente um mandato especial do Secretário-Geral
das Nações Unidas.
Ramos - Horta |
De facto foi uma honra o Clube receber tão grada
personalidade que transpira tranquilidade e paz. Joaquim Jorge, o Tio Joaquim,
como se diz carinhosamente em Timor a pessoas respeitosas, está de parabéns por
nos ter brindado com este convidado.
Ramos-Horta discorreu sobre a recente história de Timor, as
dificuldades do período de independência, da transição com 2 anos de mandato da
ONU, com Sérgio de Melo, o Alto-Comissário da ONU para o Território, que Ramos
Horta achou ser pouco tempo para um país a renascer das cinzas, mas que acabou
por ser vencido na ONU e por colegas seus que tinam pressa em tomar as rédeas
do poder, mesmo prematuramente, como era sua convicção que ainda é atual. Também
falou dos desafios enfrentados, pressões económicas, a questão do petróleo e do
café no território e das grandes transformações entretanto ocorridas.
Aos que são pessimistas quanto à língua portuguesa, Ramos
Horta contrapõe com números insofismáveis. Quando o país era administrado pela
potência colonial, Portugal, a percentagem de falantes era baixa, inferior a
10%, e depois teve a agravante de ter um período muito longo, de mais de 25
anos em que a língua portuguesa foi obliterada pelo regime Indonésio, reduzindo
a menos de 5% de falantes quando se dá a revolução do processo que leva à
independência. Dados de 2010 indicavam que mais de 23% já dominavam o português
e a aposta continua em reforçar o ensino com a ajuda de Portugal. Realçou o
facto da língua local, o tétum ter cerca de 80% de palavras oriundas do
português, fenómeno que se vem acentuando ao longo dos anos, que mostra a
interpenetração da língua e a sua evolução.
Hoje o país está em pleno processo de desenvolvimento, com
obras de infraestruturas por todo o país que o próprio convidado se admira
quando lá vai, uma vez que nos últimos 5 anos tem andado em constantes missões
(apagar fogos em regiões complexas), emprestando toda a sua imensa experiência sociopolítica
e generosidade.
O país está a consolidar o sistema democrático e está
estável, razão porque não aparece nos mass
media, que só noticiam catástrofes ou eventos negativos dos diversos
países, pelo que o facto de Timor não aparecer é sinal de que as coisas estão a
correr normalmente e bem.
Também falou da corrupção, um mal endémico das atuais
sociedades, que está a ser combatido, não negando que ela exista, mas nada
comparável ao que se tem assistido em outros países, mas que é preocupação dos
dirigentes. Também respondeu sem hesitações ao facto de não se ter candidato à
Presidência da Republica, porque poderia fazê-lo, e pelo facto do ser grande
prestígio. Ramos Horta disse que o momento atual do país é estável e não existe
nenhum perigo que possa sobressaltar-lhe a consciência de ter de cumprir um
dever para com o país e nem se sentiria bem em disputar o lugar com o candidato
que esteve nas montanhas no combate ao inimigo Francisco Guterres Lu-Olo e
considera uma pessoa de bem e que fará o
seu trabalho com dignidade.
A evolução do país tem sido tranquila e sustentável, sendo
um país que mostra evidentes progressos no Índice de Desenvolvimento Humano das
Nações Unidas, que mede melhor que as taxas de crescimento do PIB, que não refletem
o que de facto chega a atingir as pessoas, revelando progressos e que coloca o
país à frente de países africanos subsarianos, com exceção da África do Sul e
mesmo na sua região, está à frete de muitos países asiáticos.
O Plano Estratégico de Desenvolvimento 2011-2030 foi
referido por Ramos Horta como corolário dessa estratégia que o país enveredou
nos últimos anos e cujo objetivo em 2030 é o país atingir o patamar de
desenvolvimento desejado com o compromisso de ser observado pelos governantes,
independentemente de quem for o protagonista político com a responsabilidade de
governar, ou seja, é transversal aos políticos.
O debate foi muito concorrido e participado porque Ramos
Horta inspira grande tranquilidade, muito afável e um grande contador de
histórias. Todos queriam ouvir mais e mais histórias e não fora o tempo
limitado da sessão, poderíamos estar ali horas sem fim em agradável conversa
com um Homem Excecional. Uma noite memorável no Clube dos Pensadores,
convivendo com um verdadeiro Pensador Galático.