Daniel Braga* |
Respeito
muito as figuras gradas da luta da resistência como Xanana, Mari, Lu Olo, Ramos
Horta e Taur. Mas quando algo não vai bem há que alertar para se poder
corrigir. É no debate político e na diversidade de opiniões que se constrói a
liberdade e a democracia. O País não pode transformar-se num feudo de alguns
apenas porque todos lhes têm de estar reconhecidos
pelo sua heróico passado de luta. O primeiro País do século XXI foi olhado com
respeito e admiração pelo Mundo e não pode desbaratar esse capital de crédito
apenas pela desmedida ambição de uns tantos que se quererão apropriar de um
tempo que é de todos. Timor Leste ainda não é o País ideal da democracia e do
exemplo, mas nestes últimos 14/ 15 anos foram dados passos gigantes no seu
crescimento, na sua maturidade política, social e de justiça que é justo
realçar. Ainda não é, nem poderá ser o País perfeito no seu modelo conceptual
de democracia ao estilo ocidental. É apenas um País que, com os seus erros, se
adapta a cada dia na consolidação dos ideais de liberdade e democracia e que,
de quando em vez, tem os seus momentos de turbulência e rispidez/ crispação
política e social, daí os alertas necessários, para que quando as coisas não
estão bem e descarrilam, seja possível arranjar pontes de reconciliação, sem
nunca abdicar dos mais elementares deveres e direitos da cidadania plena. Foi
eleito recentemente um novo Presidente da República – Francico Guterres Lu Olo
– que a 20 de maio último, substituiu no cargo, Taur matan Ruak, que por sua
vez sentiu a necessidade de fundar mais uma força política em Timor-Leste, o
PLP (Partido de Libertação Popular). Provavelmente pela necessidade de
acrescentar algo de novo, já que nos últimos tempos da sua magistratura foi tão
crítico para com algumas figuras incontornáveis do regime, entrando em rota de
colisão com elas, nomeadamente Xanana Gusmão. Por isso penso que estas
manifestações críticas de Taur Matan Ruak se devam enquadrar nesse espartilho
de alertar para prevenir, colocando os dedos em feridas que precisam ser
cicatrizadas e corrigidas, sempre em prol da população e do seu bem estar
social e económico. Mas não é só Taur que se vem manifestando discordante de
alguns caminhos tomados. Ramos - Horta, que agora chega a Portugal, para
algumas conferências e debates - entre os quais aquele que se insere no ciclo
de debates do CLUBE DOS PENSADORES no dia 1 de junho próximo, não se tem
pronunciado e tem mantido uma postura silenciosamente estranha, ele que é das
figuras mais ouvidas e respeitadas em Timor e no Mundo. O que parece ser
sintomático em relação a algumas divergências que se possam notar em relação
aos rumos que foram traçados em relação ao território.
Espero que o novo Presidente da República, Lu Olo, tenha um
olhar mais crítico e reflexivo, procurando com a sua sábia condução dos
destinos de Timor, unir e conciliar esforços no sentido de construir pontes de
convergência comum entre as forças políticas, sem perda de identidade de
nenhuma delas, procurando com esse esforço diluir algumas das fraturas
evidentes e atenuar algumas desilusões que começam a trespassar em muitos
corações. Timor não é um caso perdido. Timor é um País de paixões em que todos
querem ajudar e que deixa marcas profundas em quem lá passou. Timor é um país
de futuro e um país de oportunidades múltiplas. É um País novo – fez agora 15
anos que foi restaurada a sua independência – e deve continuar a construir uma
visão de futuro nesse guião pensado de mais desenvolvimento, mais crescimento,
maior prosperidade, mas nunca deixando de parte o norte da sua posição
essencial no que se refere aos direitos e liberdades, do exercício livre da
cidadania e da liberdade de opinião. Só assim se constroem países
verdadeiramente livres, respeitados e que se tornam o exemplo para as novas
gerações. E embora, com muitos
obstáculos pelo caminho, só tendo em conta estas premissas orientadoras pelos
princípios éticos da democracia plena é possível alcançar-se o sucesso e ter
uma visão para além dos dias de hoje. E Timor merece. Por
todo o seu passado, pelo presente, mas fundamentalmente pelo seu futuro e das
suas gerações vindouras.
*membro do Clube dos Pensadores e timorense