30/05/2017

UMA REFLEXÃO: TIMOR LESTE. AMBIGUIDADES E CONFIANÇA NO FUTURO




Daniel Braga*
Respeito muito as figuras gradas da luta da resistência como Xanana, Mari, Lu Olo, Ramos Horta e Taur. Mas quando algo não vai bem há que alertar para se poder corrigir. É no debate político e na diversidade de opiniões que se constrói a liberdade e a democracia. O País não pode transformar-se num feudo de alguns apenas porque todos lhes têm de estar reconhecidos pelo sua heróico passado de luta. O primeiro País do século XXI foi olhado com respeito e admiração pelo Mundo e não pode desbaratar esse capital de crédito apenas pela desmedida ambição de uns tantos que se quererão apropriar de um tempo que é de todos. Timor Leste ainda não é o País ideal da democracia e do exemplo, mas nestes últimos 14/ 15 anos foram dados passos gigantes no seu crescimento, na sua maturidade política, social e de justiça que é justo realçar. Ainda não é, nem poderá ser o País perfeito no seu modelo conceptual de democracia ao estilo ocidental. É apenas um País que, com os seus erros, se adapta a cada dia na consolidação dos ideais de liberdade e democracia e que, de quando em vez, tem os seus momentos de turbulência e rispidez/ crispação política e social, daí os alertas necessários, para que quando as coisas não estão bem e descarrilam, seja possível arranjar pontes de reconciliação, sem nunca abdicar dos mais elementares deveres e direitos da cidadania plena. Foi eleito recentemente um novo Presidente da República – Francico Guterres Lu Olo – que a 20 de maio último, substituiu no cargo, Taur matan Ruak, que por sua vez sentiu a necessidade de fundar mais uma força política em Timor-Leste, o PLP (Partido de Libertação Popular). Provavelmente pela necessidade de acrescentar algo de novo, já que nos últimos tempos da sua magistratura foi tão crítico para com algumas figuras incontornáveis do regime, entrando em rota de colisão com elas, nomeadamente Xanana Gusmão. Por isso penso que estas manifestações críticas de Taur Matan Ruak se devam enquadrar nesse espartilho de alertar para prevenir, colocando os dedos em feridas que precisam ser cicatrizadas e corrigidas, sempre em prol da população e do seu bem estar social e económico. Mas não é só Taur que se vem manifestando discordante de alguns caminhos tomados. Ramos - Horta, que agora chega a Portugal, para algumas conferências e debates - entre os quais aquele que se insere no ciclo de debates do CLUBE DOS PENSADORES no dia 1 de junho próximo, não se tem pronunciado e tem mantido uma postura silenciosamente estranha, ele que é das figuras mais ouvidas e respeitadas em Timor e no Mundo. O que parece ser sintomático em relação a algumas divergências que se possam notar em relação aos rumos que foram traçados em relação ao território.
Espero que o novo Presidente da República, Lu Olo, tenha um olhar mais crítico e reflexivo, procurando com a sua sábia condução dos destinos de Timor, unir e conciliar esforços no sentido de construir pontes de convergência comum entre as forças políticas, sem perda de identidade de nenhuma delas, procurando com esse esforço diluir algumas das fraturas evidentes e atenuar algumas desilusões que começam a trespassar em muitos corações. Timor não é um caso perdido. Timor é um País de paixões em que todos querem ajudar e que deixa marcas profundas em quem lá passou. Timor é um país de futuro e um país de oportunidades múltiplas. É um País novo – fez agora 15 anos que foi restaurada a sua independência – e deve continuar a construir uma visão de futuro nesse guião pensado de mais desenvolvimento, mais crescimento, maior prosperidade, mas nunca deixando de parte o norte da sua posição essencial no que se refere aos direitos e liberdades, do exercício livre da cidadania e da liberdade de opinião. Só assim se constroem países verdadeiramente livres, respeitados e que se tornam o exemplo para as novas gerações.  E embora, com muitos obstáculos pelo caminho, só tendo em conta estas premissas orientadoras pelos princípios éticos da democracia plena é possível alcançar-se o sucesso e ter uma visão para além dos dias de hoje. E Timor merece. Por todo o seu passado, pelo presente, mas fundamentalmente pelo seu futuro e das suas gerações vindouras.

*membro do Clube dos Pensadores e timorense