12/03/2017

Tecnocratas? Não, obrigado!



António Fernandes
Há uma forte corrente de influência sobre o poder político no sentido deste ser orientado por tecnocratas que tendencialmente se apossarão do espaço político em candidatura auto intitulada de independente, por enquanto, e também porque ainda não interiorizaram o verdadeiro sentido da forma do modelo social e político, em Tecnado, alternativo à República e a tudo aquilo que ela representa, só porque ajuízam deverem as cidades e os Países, ser geridas como se de empresas se tratem.
Ou, numa ótica mais "paternal", como se de uma turma de aprendizes se trate. E a que eles, a elite superior, governariam com sapiência absoluta.
Esta vaga de fundo dissimulada, mas perceptível nos tempos que correm e nos centros nevrálgicos da organização político partidária, aparece em pleno contra ciclo com as valências herdadas de gerações antecedentes e que constituem a identidade de um povo; de uma comunidade; de uma família!
Esta "nova ordem" tem um historial de dirigentes de academias universitárias que agora flete o sentido para a docência sem que o cidadão comum perceba muito bem qual é, de facto, o real alcance desta pretensão.
O cidadão comum mantém na memória coletiva e Histórica as guerras civis e mundiais; as movimentações expontâneas ou organizadas do operariado industrial e agrícola; as reivindicações sociais; as movimentações populares mobilizadas por partidos políticos; as ditaduras; a democracia política e partidária; a liberdade; entre muitos outros registos individuais e coletivos.
No entanto, é de elementar justiça não misturar "alhos com bugalhos".
Se dos movimentos acadêmicos adveio experiência social de origem, a que acresceu a jovialidade juvenil mais a experiência coletiva do movimento reivindicativo e a da organização em torno de objetivos claros, da docência tecnocrata não advém valência similar nem é esse o seu interesse como objetivo.
O seu objetivo é o poder e o retomar do controlo social por elites superiores. Simplesmente, essas que se ajuízam elites superiores, tem em si, uma contradição sui generis. Pelo menos na Europa. Onde a formação escolar e acadêmica atingiu níveis relevantes no conjunto dos indivíduos que compõe a sociedade, e através destes, os Países que compõe o espaço geográfico da CE e outros Países desenvolvidos, ao ponto de essa condição não ser de aceitação fácil por não fazer sentido e nem sequer ser matéria de registo no atual contexto Europeu.
Quando muito, a separação que hoje se faz, é entre ricos e pobres.
Separação em função da posse de meios e não da diferença ao nível do conhecimento.
Sendo inclusivamente mais corrente o domínio do conhecimento pelos mais pobres e a inexistência desse mesmo conhecimento ao nível dos mais ricos.
É da História o domínio do poder por grupos sociais dominantes de uma determinada comunidade no âmbito da influência recíproca em período Histórico determinado onde não pontuam a inteligência nem o conhecimento. Mas, é da História também, que a inteligência e o conhecimento sempre lhes esteve próximo. No aconselhamento e influência nas condutas e nas diretrizes.
Neste momento da nossa História enquanto sociedade organizada, em que o nível de desenvolvimento atingiu picos inimagináveis e o do conhecimento patamares impensáveis há bem pouco tempo atrás, há fatores que importa registar e sobre os mesmos ponderar porque se interligam e interagem.
O ensino superior carece de mercado para se expandir, desenvolver e ser sustentável.
O tecido empresarial carece de contração na despesa e aumento no consumo para gerar proventos de riqueza aos seus investidores.
Estes dois fatores conjugados ficam obrigados a reciprocidade na partilha.
Um prescinde do investimento na Investigação & Desenvolvimento. E o outro passa a lecionar e a fazer essa Investigação & Desenvolvimento.
Um diminui à despesa, e o outro aumenta na receita. Sendo que, ao consumidor resta pagar.
Coloca-se assim a questão do exercício do poder. Porque o consumidor para pagar só o fará através de carga fiscal politicamente aplicada. Direta e indiretamente. Carga fiscal, que se encontra sob a alçada legal do poder político em exercício.
Este é, de facto, o fim visado pelos pensadores do Tecnado como modelo político de governação social onde a macroeconomia assente em inteligência artificial produziria exclusivamente riqueza.
Acontece que a realidade é outra e as cidades e o Mundo tem uma componente Humana incontornável. Realidade essa, de onde sobressai a necessidade do consumo como única e exclusiva justificação para a produção.
E onde o contínuo crescimento das bolsas de pobreza coloca entraves porque diminui o consumo e inverte a lógica tecnocrata do Tecnado trazendo ao de cima a contradição entre a sustentabilidade ideal em coexistência com o aumento da riqueza acumulada. Quando o óbvio é o facto de que uma é impeditiva da outra!
Há ainda uma outra circunstância que os tecnocratas não conseguem ultrapassar. A do acumular conhecimento multifacetado e diverso em cada cérebro Humano. Em épocas e eras distintas. Vividas por gerações de Seres Humanos!
E a quem não é, técnica ou clinicamente possível, substituir a massa encefálica por um processador e o respetivo disco de armazenamento onde corra a informação mais conveniente.