Daniel Braga |
Esta opinião e este desejo de escrever
sobre as juventudes partidárias em Portugal têm muito a haver com as opiniões
que vou ouvindo e sentindo entre os jovens sobre a desilusão que lhes trespassa
a alma no que se refere ao comportamento e posicionamento das mesmas
relativamente aos problemas e desígnios do País. Gostariam de fazer mais e
melhor, mas sentem. Se espartilhados e manietados pela posição do Partido. É
uma opinião perfeitamente pessoal de alguém que está por fora e que apenas
observa e está atento a alguns comportamentos manifestados por essas juventudes
no leque partidário das discussões políticas e nas atitudes e vontades perante
os problemas que o País atravessa e tem de resolver. Ponto prévio, sem
discussão possível: as juventudes partidárias são necessárias e fundamentais
(embora não únicas estas formas de estar na política...) para que os jovens se
interessem pela política e se consciencializem para os reais problemas que o
País enfrenta, procurando através das suas formas de agir, modos de poder
ajudar e contribuir para a reflexão necessária. O contributo dos jovens é
decisiva e integrada nas juventudes da sua ideologia partidária, fundamental
para a partilha de ideias e sugestões de resolução através dos Partidos onde se
integram. Não é o caminho único, mas é um caminho possível. A diferença é que
se calhar no alvorecer dos ventos da democracia em Portugal, a intervenção
política dos jovens, até pela novidade, era bem mais entusiasmante e de ideais
bem mais puros e credíveis. Lutava-se através das suas convicções ideológicas
por ideais de liberdade, de opiniões diversas, mas construtivas num ideário da
consolidação dos valores surgidos como os novos tempos da liberdade e da
democracia. Eram tempos de luta partidária intensos, mas simultaneamente de
partilha e discussão de ideias que, mesmo na diferença, eram vistas com olhares
de grande cumplicidade no sentido da entreajuda mútua para consolidar e fazer
avançar esse tempo novo. Hoje os tempos são outros, a desilusão apoderou-se da
população e essencialmente dos jovens que se afastaram da política e dos
Partidos. Trespassa a ideia que a política não é para os jovens e apenas para
os trapaceiros e os que querem arranjar uma alavanca para subir na vida. E esta
ideia tem afastado os jovens da política e dos Partidos: o medo de serem
etiquetados com chavões de desonestidade, de vigarice e quererem arranjar um
trampolim para terem sucesso. E é pena que assim seja, pois algum comportamento
de gente dessas juventudes assim leva a pensar. Acima de tudo, acho que as
juventudes partidárias atualmente são de um seguidismo pouco conveniente dos
seus Partidos e não têm sequer forma de poder agir autonomamente sobre os mais
variados assuntos. Parecem uns "yes man ou woman" a tudo o que
Partido diz, sem pensamento nem raio de ação próprios de quem legitimamente
gostará de dar a sua opinião de modo próprio e não porque o Partido quer assim.
E existem temas tão fraturantes hoje em dia (eutanásia, adoção por casais de
igual género, violência doméstica, praxes académicas, etc) que deveria colocar
as juventudes partidárias a manifestar-se e a refletir mesmo que tal colida com
as opiniões ou interesses do Partido, mesmo que isso coloque em causa a
"lealdade" e a disciplina partidária. E fora dos Partidos também
existe um sem número de espaços e fóruns de opinião onde se poderão manifestar
e contribuir para uma participação ativa e cívica mais
consentânea com o papel que todos deveremos ter perante a sociedade. Não
aparecer e fazer de conta é que me parece um erro, na forma inquinada e algo
displicente de como exercemos esse direito de ter um papel bem mais ativo e
construtivo.