Mário Russo |
No último debate na RTP, duas
questões foram mais notadas, a indignação da subvenção vitalícia dos políticos,
que havia sido interrompida há 5 anos atrás, mas agora ressuscitada pelo
Tribunal Constitucional por ter a norma sido suscitada por 30 deputados, incluído
Maria de Belém, uma das candidatas, e que se escusou ao debate com os restantes
9 candidatos, com o argumento da morte de Almeida Santos, seu apoiante,
evitando, também, ter de responder a este incómodo. Os candidatos manifestaram
desagrado pela decisão favorável do TC à subvenção vitalícia aos deputados.
A outra pergunta, mais
importante, foi acerca da reposição das 35 horas de trabalho semanal na Função
Pública, aprovada por proposta do PS..
Os candidatos mostraram-se
concordantes com a decisão do PS, girando os argumentos entre a reposição do
direito adquirido ou o cumprimento de promessas eleitorais de António Costa e,
neste caso, ser um caso de louvar, porque está a cumprir promessas eleitorais,
ao contrário dos antecessores.
Os argumentos de todos os
candidatos é que me pareceram muito fracos. Precisamente no dia em que num
relatório da Organização Internacional do Trabalho estima a perda de 5 milhões
de empregos no próximo ano devido à robotização e novas tecnologias e que se
repetirá no futuro.
Na verdade, as políticas de criação
de empregos, centram-se sempre no crescimento da produção de bens. Esquecem-se
que as novas tecnologias estão ao virar da esquina e por isso, a inovação e os
avanços são muito mais rápido do que seria se estivessem apenas circunscritos
num perímetro reduzido de laboratórios. A internet das coisas está aí para
incrementar a robotização e automação. Cada vez serão precisas menos pessoas
para o desempenho de certas tarefas. Hoje já poucos vão a agências bancárias,
bem como a agências de viagens, porque as têm em casa e até no bolso. As
indústrias produzem milhões de peças com reduzida mão-de-obra, devido à
robotização. Com isto, há cada vez mais dispensa de trabalhadores.
A tendência é agravar-se esta
situação, sobrando cada vez menos horas de trabalho. O que os economistas
pretendem é aumentar a produção de bens, barateando-os com tal automação, de
modo a terem os mesmos rendimentos e aumentar o emprego. Mas produzir mais
apenas para cumprir este desiderato, é induzir ao consumo e produzir sem
necessidade real, desperdiçando recursos naturais finitos, colocando em causa a
sustentabilidade do Planeta.
O que terá de ser equacionado é
como distribuir o banco de horas disponíveis nos mais variados setores, em
função da automação e robotização e sistemas avançados de produção, de modo a
que a população ativa mantenha o seu trabalho. Esta equação só tem uma solução,
que é diminuir o número de horas semanais por trabalhador.
É esta a mudança de paradigma que
os empresários, inovadores e empreendedores terão de encarar, contribuindo para
a coesão social e a paz, e não a ganância. Por outro lado, permite que as
pessoas tenham mais tempo para viver com felicidade junto dos seus, sem o
emprego instrumental e não um fim em si mesmo. É preciso devolver felicidade às
pessoas, porque não há outro motivo para se viver que não seja o de sermos
felizes. A criatividade e produtividade aumentarão, ao contrário do que se faz
crer que é preciso trabalhar muitas horas para se ser competitivo. Isto é
possível e é a única abordagem sustentável. O contrário é como o que diziam os
economistas e empresários da era esclavagista, que o mundo não podia viver sem
escravos. Afinal pode e muito bem.
Portanto, a necessidade da redução
do horário semanal não é por ser um direito adquirido, mas um imperativo dos
dias que correm por esta evidência atrás exposta.