Mário Russo |
Quando o anterior Governo entendeu privatizar os transportes
públicos de Lisboa e Porto achei uma boa medida, porque o Estado não tem de ter
este tipo de negócio que sorve ao erário público centenas de milhões todos os anos
em prejuízos. Acumulando prejuízos por décadas são já biliões de euros e por
isso, ninguém se poderá espantar que os impostos que pagamos é que servem para
todo o regabofe duma classe que não tem o menor respeito pelo contribuinte.
Quanto à TAP, fui contra, não porque não possa ser de um
grupo privado a explorar a companhia aérea, mas pelo perigo que poderia
constituir para uma estratégia (teremos?) nacional junto das comunidades, se
caísse num grupo rival, deslocalizando o hub e centro de decisões.
O argumento do eterno prejuízo desta transportadora é forte
e deve ser levado a sério, porque, lá está, os desmandos ano após ano, quem os
paga somos nós, e cada português deveria ter mais respeito pelo seu dinheiro,
não deixando que um bando de avestruzes se apoderem dele. O Governo de então
disse que o Estado não tinha capacidade para pôr a companhia a render e que só
um Provado o poderia fazer.
Este é que é o argumento que não concordo, porque revela a
maior confissão de incompetência de quem governa. Não é que fosse necessário
tanto para demonstrar essa falta de competência, mas ilustra. Só acontece isso
porque os sucessivos Governos foram incompetentes para traçar uma linha para a
companhia, dando os meios necessários, mas traçando claramente os objetivos e
as penalidades pelo não cumprimento.
A TAP só tem sido boa para a Administração, Pilotos e
funcionários de um modo geral, com salários muito acima do resto da Nação, com
prejuízos bilionários. Acumulando os últimos 40 anos, dava para comprar 4 TAPs.
Resultado, dívida pública portuguesa astronómica, nem é preciso saber muito.
Então, dada esta incompetência, fácil de se verificar, a
privatização é, de facto a solução, com cautelas, transparência, sem cláusulas
confidenciais (basta afastar das negociações canalhas socratistas e seus pares
do PSD/CDS).
Ora, depois de muitos episódios, mal ou bem, um consórcio
luso/brasileiro ficou com 61% da companhia na privatização e já injetou umas
centenas de milhões na empresa e está a começar a limpar rotas ineficientes e
incompreensíveis a quem serviam, etc. Mas contrato feito, contrato honrado.
António Costa parece que se esqueceu que não é o dono do
país. Se antes criticou a arrogância de PPC, e bem, porque não passava cavaco à
oposição, não pode ele, agora, comportar-se do mesmo modo. E é o que está a
fazer.
Se António Costa julga que vai ganhar alguma coisa com esta
reversão está enganado, porque o prejuízo pela aselhice de desfazer o que foi
assinado pelo Estado Português eleva o nosso país à categoria de republiqueta
das bananas. Quem é que doravante fará um negócio com Portugal quando tem
governantes que não têm um pingo de senso (nem sequer reivindico bom senso),
nem se comportam como honradores de compromissos de Estado?
Mesmo que o negócio tenha sido mal conduzido, depois de
concluído e assinado, tem de ser honrado, porque serão infinitamente maiores os
prejuízos do que os benefícios duma reversão, sempre de duvidosa bondade. É
voltar atrás e manter o país a pagar as ineficiências da companhia, os
regabofes dos mimados pilotos e seus pares dos mil e quinhentos sindicatos que
por lá há.
É lamentável que Costa não seja, como representante do
Estado, uma pessoa de bem. Portugal começa a resvalar perigosamente para o
cadafalso. É o facilitismo a reinar e que nada de bom augura.
Será que Costa não tem argumentos para convencer os
parceiros de acordo e ocasião que o apoiam, que o Estado tem de estar acima de
qualquer suspeita e, por isso, terão de ter paciência?
Assim, Caro António Costa, corre o risco de ganhar os seus
amigos, mas perder o país inteiro. Na vida, cada um faz as suas escolhas e
deita-se na cama que fizer. Se pensa que conquistou os companheiros de
percurso, está enganado, quando eles quiserem, cravam-lhe a espada no peito,
porque é assim mesmo, é da sua natureza…