Isabel Coutinho |
Que olhar, Deus meu, que olhar!
Raio de passado este, suportado nos pilares do trabalho duro, sacrifício
total, desgaste até o tutano, catano, sempre à espera de um presente que o
futuro nos prometia.
Azia.
E mais um ano passou, mais uma geração desertou, e outra tanta gente finou,
assim, perante tanta gente "séria", que ao ver esta triste miséria ainda tem
força para sorrir.
Que pedir para o próximo ano?
Apenas um pulhado de justiça, que varra toda esta mixórdia que nos encharca
até ao pescoço, nos sufoca e nos tolhe a nossa única fortuna: a
esperança.
Pedem-nos para olhar em frente, que a luz vem aí! Qual luz!?
Só se for a deles!
Os nossos filhos fogem a sete pés, os nossos velhos são tratados como
ralés, e os que se aqui vão aguentando vão sendo espremidos como galinhas para
arroz de cabidela, que uns comem, satisfeitos por mais uma encabadela!
Olhar para o futuro!? Com promessas que nunca cumprem!? Não,
obrigado.
Preferimos então que nos larguem, nos deixem sem nada nos dizer, pois no
silêncio e na nossa ignorância é mais fácil viver, mesmo a sofrer.
Pior que o cheiro da bosta é a ilusão que nos é imposta.
E, aqui, onde tudo é autêntico, preferimos comer palha do que viver de um
caviar que não passa de um cheque para o outro pagar, nós.
O que nos resta?
Acreditar na justiça, venha ela de onde vier.
Manuel Muralhas
(enviado por Isabel Coutinho )