03/11/2015

O EMBUSTE



As eleições legislativas sancionaram o modo de sair da crise e colocam a questão de maiorias. Deste modo, Cavaco Silva que sempre se refugiou na Constituição e estar por trás da cortina da democracia, tem que manifestar-se. O momento político exige da sua parte, dar a cara e tomar decisões. Não ouviu o conselho de muitos, na antecipação de eleições para Junho de 2015, de modo a precaver um resultado destes e na consequente elaboração de um Orçamento do Estado, a tempo, para 2016.
Tudo que diga Cavaco Silva tem um maior significado neste final do seu mandato. O apoio aos princípios constitucionais e da legalidade como garantia dos direitos e liberdades de todos os portugueses.
Mas é preocupante, a onda de contestação, que coloca em causa a sua máxima autoridade de Estado, desde a sua posição constitucional à margem dos partidos, para manter a unidade nacional, a coesão social, estando em causa Portugal como país viável.
O país está num impasse que pode durar até ao verão do próximo ano com eleições antecipadas.
A crise económica prolongada pôs à prova alguns dos consensos básicos da sociedade e acentuou as desigualdades pré-existentes.
A legislatura foi prolongada um pouco mais, para quatro anos e meio, para haver uma situação mais favorável à coligação PSD/CDS. Todavia o resultado eleitoral foi surpreendente e improvável. Vencer, de novo, depois da austeridade em todo o seu esplendor.
O problema é que na campanha eleitoral não houve verdadeiras explicações e debate sobre projectos, alianças, acordos e divergências.
Tudo isto é um perfeito embuste. A ditadura de Salazar fez o que fez e agora em democracia, estes estão a fazer o que querem.
Um dos graves problemas da nossa democracia é que os portugueses não estão devidamente informados e os políticos não têm memória.
O país está dividido como nunca. O PS com o BE e PCP, numa demonstração de força elegeram Ferro Rodrigues para presidente do Parlamento, que é uma figura importante porque zela pelo normal funcionamento do Parlamento, assim como, é o representante do Estado na ausência do Presidente da República.
O Grupo Parlamentar do PS parece unido, o programa do governo tem os dias contados, só se do lado do PS houvesse nove abstencionistas, o que não me parece.
A pior coisa que poderia acontecer aos portugueses, depois deste esforço hercúleo de tentar endireitar as contas públicas, seria uma política em duodécimos.
Esta crise tem actuado como uma lupa, em que mostra os defeitos da democracia que já existiam, mas não se tinha a exacta noção.
A resposta para a saída da crise está na política e nos políticos, mas por sua vez a política e os políticos estão em risco pelo descrédito e má imagem na opinião pública.

JJ

*artigo de opinião publicado no DE  2/11/2015