Miguel Mota |
O
número 148 da "Ingenium", a revista da Ordem dos Engenheiros,
referente aos meses de julho e agosto de 2015, tem como tema os Clusters do
vinho e da cortiça.
Além
do Editorial, assinado pelo Bastonário, Eng.O Carlos Matias Ramos,
um lote de excelentes artigos, da autoria de engenheiros agrónomos e outros
técnicos, dá-nos um excelente panorama da situação actual desses dois sectores
da economia em que Portugal está na linha da frente a nível mundial.
De
cortiça, como já se aprendia na escola, somos o maior produtor mundial.
Produzimos tanto como todos os outros países juntos. E a cortiça é a da melhor
qualidade. De vinho, além do incomparável vinho do Porto, sempre tivemos bons
vinhos, que nas últimas décadas, ainda sofreram notáveis melhorias.
Em
termos económicos, o valor da cortiça exportada em 2014 foi de 840 milhões de
euros. Desse total, 70% foi em rolhas que, apesar de variados ataques, continuam
a ser um vedante imbatível. De vinho exportámos 731 milhões de
euros em 2014. E os nossos vinhos classificam-se entre os melhores, ganhando
prémios em todo o mundo.
Em relação à cortiça, além do muito que tem sido feito
ultimamente, admito ser possível melhoria. A maior parte dos nossos montados
não é o que podia ser. No artigo “O montado português” (Linhas de Elvas de
25-3-2010), cito um vídeo, produzido poucos anos antes pela Fundação João Lopes
Fernandes, em que se mostram imagens de um montado plantado em 1957 em
Montargil por aquele qgricultor agricultor, com aconselhamento de dois muito
ilustres agrónomos, o Prof. Vieira Natividade e o Eng.º Sardinha de Oliveira.
Do artigo transcrevo:
“Que diferença em relação à enorme
maioria dos montados que vemos em Portugal! Árvores bem alinhadas e com o
espaçamento certo. Cada uma com um tronco direito e alto, só então ramificado,
ainda jovens (para a normal longevidade do sobreiro) mas já a darem longas e
perfeitas pranchas de cortiça. Valia a pena que alguém medisse a produtividade
de cada hectare daquele montado e a comparasse com a dum hectare de qualidade
média, com árvores mais ou menos irregularmente implantadas, muitas delas de
tronco tortuoso, ramificado a baixa altura e dando certamente menos e pior
cortiça.”
Não pode ignorar-se a magnífica
actuação da grande empresa Corticeira Amorim, que tem tido uma notável
actividade. Além de exportar para mais de 100 países, com um volume de negócios
de mais de 500 milhões de euros, tem realizado investigação, com novas utilizações
da cortiça e dando aconselhamento – gratuito – aos agricultores. Recentemente,
promoveu a plantação de 2700 sobreiros na Serra da Peneda.
É consolador, no país em estado
miserável, ver que há sectores em que estamos entre os melhores, no caso da
cortiça o melhor – e a grande distância
de todos os outros.