23/10/2015

Nem todos os socialistas concordam



Comissão Política do PS

Numa nota síntese da sua intervenção, António Galamba considerou caracterizados pela "fragilidade" os compromissos que estão para ser assumidas com as forças políticas à esquerda do PS.

"Por escrito e nesta reunião é pouco mais que uma mão cheia de nada. E já não estou em idade de acreditar no Pai Natal, no legítimo ou no das esquerdas à nossa esquerda", refere o dirigente socialista.

Ainda na sua intervenção, o ex-membro do Secretariado Nacional do PS defendeu depois a tese de que, "tanto se serve Portugal no Governo, como na oposição", que "quem ganha governa e quem perde fica na oposição".

"Não o fazer é assumir uma PPP com a esquerda à nossa esquerda cuja factura será apresentada em futuras eleições legislativas, nas regionais dos Açores em 2016 e nas autárquicas em 2017. É que, estando o PCP e o Bloco de Esquerda para deixar de lado as questões da União Europeia, da zona euro ou da NATO, é legítimo perguntar com quem será feita a maioria para sustentar as medidas concretas para cumprir as obrigações nesse âmbito", aponta António Galamba.

Para António Galamba, na presente conjuntura política, "a questão não é de constitucionalidade nem, sobretudo, de legitimidade, sendo antes política".

"Não o fazer, sem ponderar os riscos futuros e sem a participação dos militantes, é hipotecar muito mais do que o resultante da subscrição do memorando com a ‘troika' (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário). Não contam com o meu acordo. Há sempre alguém que diz não", acrescentou.

Mais moderado, Álvaro Beleza, outra uma das vozes dissonantes da posição da direcção do Partido Socialista, disse ao final da noite de quinta-feira, aos jornalistas, que "houve expressão de várias opiniões sobre a questão do acordo à esquerda. Como sabem, nem todos concordam com esse acordo. Depois, dentro do próprio entendimento há opiniões diferentes. É um partido de gente livre e portanto tem várias sensibilidades", explicou o deputado à saída da comissão política, sem dar a entender que possa haver dissidência na votação.

"Mantenho o que disse desde 4 de Outubro. Acho que o caminho a seguir não deveria ter sido este. Chegados aqui, que falei sobre a necessidade de ter cautelas e prudência neste caminho e pisando terrenos bem firmes", disse o socialista aos jornalistas, à saída da comissão política.

Beleza admitiu que há margem para "facilmente" haver entendimentos à esquerda - com PCP e BE - em áreas como a saúde, educação e segurança social, mas matérias como economia, finanças, Europa, sustentabilidade do país, crescimento económico com economia privada são de "muito difícil" concertação entre o PS e as forças políticas à esquerda.

António Costa, secretário-geral do PS, explicou "detalhadamente" na reunião da Comissão Política os contactos e reuniões à esquerda, disse Beleza.

Ideia defendida por Álvaro Beleza junto dos socialistas foi a realização de um referendo aberto a simpatizantes para auscultar a opinião dos votantes no PS sobre o acordo negociado com forças políticas à esquerda. "Para além da Comissão Política, devia haver uma Comissão Nacional e um referendo aberto a simpatizantes, como agora se fez em França", vincou, referindo-se às eleições regionais agendadas para Dezembro e onde o partido socialista do país levou a referendo - com votação favorável - uma unidade da esquerda para o sufrágio do fim do ano.

excerto de noticia no Diário Económico