13/10/2015

Henrique Neto como Presidente da Republica seria mais previsível do que Cavaco Silva



Henrique Neto - Clube dos Pensadores
Henrique Neto foi o convidado de Joaquim Jorge para um debate sobre política nacional e sobre as eleições presidenciais. A dois debates de ser o 100º do Clube dos Pensadores, JJ, recebeu um pensador que tem visão estratégica para Portugal e é candidato à Presidência da República. Não é de agora, que é candidato, que Henrique Neto se preocupa com as questões estratégicas do país.
Henrique Neto pelo seu exemplo de vida, de intervenção cívica e pela sua inteligência é um dos Portugueses excecionais. Após uma interessante apresentação do candidato por parte de Joaquim Jorge, Henrique Neto iniciou a sua intervenção dizendo que qualquer líder, seja político ou empresarial, deve antecipar o futuro, não adivinhando, mas traçando cenários para evitar “navegar à vista”, sem rumo ou ao sabor do vento.  
Henrique Neto é um autodidata e estudioso, rodeado de livros. Impressionou-o muito um livro de Alvim Toffler, o Choque do Futuro, ainda hoje atual. Critica, por isso, a falta de visão que existe em Portugal. Disse, HN, que até Salazar tinha um plano e uma estratégia para o país centrado nas colónias, podemos concordar ou não, mas tinha uma visão. Hoje é o deserto.
Com o 25 de Abril, perdeu-se a visão, abandonamos a vocação Euroatlântica e redirecionamos os nossos interesses para a Europa. Esquecemos a nossa vocação universalista e transformamo-nos em periféricos na Europa.  Ao limitarmo-nos à Europa, empobrecemos. Portugal desde essa época, jamais traçou uma estratégia, uma visão e continua à deriva e ao sabor do vento.
Quanto à crise que assola o país, ela desenhou-se há muito mais tempo exatamente pela falta de previsão e de estratégia. Era previsível que tal viesse a acontecer. Portugal começou por nacionalizar e depois foi a privatização, privilegiando grupos nacionais, que compraram barato e estiveram sempre protegidos por um Estado que assim criou monstros anquilosados nada competitivos, com o resultado que se conhece. Foi a proteção dos amigalhaços que suportaram e financiaram interesses políticos e estes reverteram os apoios em facilitação nos negócios com o Estado. Não poderia dar bom resultado.
A economia portuguesa é pouco exportadora por falta de investimento em indústrias de bens transacionáveis. Apostou-se nos serviços, quando o país não tinha condições para ser exportador deste tipo. A vocação atlântica e a nossa posição geográfica, disse HN, deveria ser aproveitada para se apostar na mobilidade externa marítima e ferroviária, em detrimento da interna, baseada nas rodovias que apenas vieram para alimentar o monstro da construção civil que teve de importar mão de obra, que depois não teve como manter o mesmo nível de atividade,  contribuindo para engrossar a gigantesca dívida pública.
Henrique Neto criticou a falta de visão e de ação de um Presidente da República que se escuda nos poderes da constituição para nada fazer. Deu exemplos como as PPP, desastrosas para a nação, sem que chamasse o Governo e alertasse para os perigos desse caminho de enfeudamento das gerações futuras.
Sobre a crise, pensa que, nas condições a que o país chegou, seria inevitável, porém a repartição dos sacrifícios é que poderia ser diferente e mais justa, porque houve setores que quase não contribuíram, recaindo sobre os mesmos de sempre, ou seja, o trabalho.
Como Presidente, interpretaria o que a constituição manda, e daria o poder a quem apresentasse maioria dos deputados e estabilidade governativa, mesmo que tal situação pudesse indiciar legitimidades diversas ou que se anulam mutuamente.
Identificou também como um mal nacional, a lei eleitoral que impede a eleição de independentes ao Parlamento, bem como o voto nominal que traria maior aproximação entre eleito e eleitor e maior competitividade política. Os partidos políticos, em Portugal, não têm competição e são donos e senhores do poder. Não se reformam, desde o 25 de Abril.
Henrique Neto disse que já patrocinou fóruns de debate, à esquerda e direita nesse sentido, mas não há vontade política de mudar. O apego ao poder exclusivo dos atuais partidos não vaticina mudanças.
Os problemas de Portugal, segundo HN, não são de esquerda ou direita, tal como as soluções também não. Por isso, é preciso ter uma visão e uma estratégia e não ter tática, que apenas vê o dia seguinte e na defesa de interesses pessoais.
Mário Russo
O Clube dos Pensadores recebeu pela segunda vez um Homem com visão, transparente e um exemplo de vida que não se conforma em ficar num sofá, como poderia fazer. Preocupa-se com o futuro do seu país e está firme nesta candidatura que levará até ao fim.
Parabéns JJ pelo convite. Na eleição anterior, apenas Cavaco Silva não veio ao CdP, porque não concordou com o modelo de perguntas aleatórias e livres, seja do moderador, Joaquim Jorge, seja dos participantes no debate. Mais uma grande jornada, numa noite amena, de Prós-e-contras na televisão, mas que não afetou a afluência ao debate.