Henrique Neto - Clube dos Pensadores |
Henrique Neto pelo seu exemplo de vida, de intervenção cívica
e pela sua inteligência é um dos Portugueses excecionais. Após uma interessante
apresentação do candidato por parte de Joaquim Jorge, Henrique Neto iniciou a
sua intervenção dizendo que qualquer líder, seja político ou empresarial, deve
antecipar o futuro, não adivinhando, mas traçando cenários para evitar “navegar
à vista”, sem rumo ou ao sabor do vento.
Henrique Neto é um autodidata e estudioso, rodeado de
livros. Impressionou-o muito um livro de Alvim Toffler, o Choque do Futuro,
ainda hoje atual. Critica, por isso, a falta de visão que existe em Portugal.
Disse, HN, que até Salazar tinha um plano e uma estratégia para o país centrado
nas colónias, podemos concordar ou não, mas tinha uma visão. Hoje é o deserto.
Com o 25 de Abril, perdeu-se a visão, abandonamos a vocação
Euroatlântica e redirecionamos os nossos interesses para a Europa. Esquecemos a
nossa vocação universalista e transformamo-nos em periféricos na Europa. Ao limitarmo-nos à Europa, empobrecemos.
Portugal desde essa época, jamais traçou uma estratégia, uma visão e continua à
deriva e ao sabor do vento.
Quanto à crise que assola o país, ela desenhou-se há muito mais
tempo exatamente pela falta de previsão e de estratégia. Era previsível que tal
viesse a acontecer. Portugal começou por nacionalizar e depois foi a
privatização, privilegiando grupos nacionais, que compraram barato e estiveram
sempre protegidos por um Estado que assim criou monstros anquilosados nada
competitivos, com o resultado que se conhece. Foi a proteção dos amigalhaços
que suportaram e financiaram interesses políticos e estes reverteram os apoios
em facilitação nos negócios com o Estado. Não poderia dar bom resultado.
A economia portuguesa é pouco exportadora por falta de
investimento em indústrias de bens transacionáveis. Apostou-se nos serviços,
quando o país não tinha condições para ser exportador deste tipo. A vocação
atlântica e a nossa posição geográfica, disse HN, deveria ser aproveitada para
se apostar na mobilidade externa marítima e ferroviária, em detrimento da
interna, baseada nas rodovias que apenas vieram para alimentar o monstro da
construção civil que teve de importar mão de obra, que depois não teve como
manter o mesmo nível de atividade,
contribuindo para engrossar a gigantesca dívida pública.
Henrique Neto criticou a falta de visão e de ação de um
Presidente da República que se escuda nos poderes da constituição para nada
fazer. Deu exemplos como as PPP, desastrosas para a nação, sem que chamasse o
Governo e alertasse para os perigos desse caminho de enfeudamento das gerações
futuras.
Sobre a crise, pensa que, nas condições a que o país chegou,
seria inevitável, porém a repartição dos sacrifícios é que poderia ser
diferente e mais justa, porque houve setores que quase não contribuíram,
recaindo sobre os mesmos de sempre, ou seja, o trabalho.
Como Presidente, interpretaria o que a constituição manda, e
daria o poder a quem apresentasse maioria dos deputados e estabilidade
governativa, mesmo que tal situação pudesse indiciar legitimidades diversas ou
que se anulam mutuamente.
Identificou também como um mal nacional, a lei eleitoral que
impede a eleição de independentes ao Parlamento, bem como o voto nominal que
traria maior aproximação entre eleito e eleitor e maior competitividade política.
Os partidos políticos, em Portugal, não têm competição e são donos e senhores
do poder. Não se reformam, desde o 25 de Abril.
Henrique Neto disse que já patrocinou fóruns de debate, à
esquerda e direita nesse sentido, mas não há vontade política de mudar. O apego
ao poder exclusivo dos atuais partidos não vaticina mudanças.
Os problemas de Portugal, segundo HN, não são de esquerda ou
direita, tal como as soluções também não. Por isso, é preciso ter uma visão e
uma estratégia e não ter tática, que apenas vê o dia seguinte e na defesa de
interesses pessoais.
Mário Russo |
Parabéns JJ pelo convite. Na eleição anterior, apenas Cavaco
Silva não veio ao CdP, porque não concordou com o modelo de perguntas
aleatórias e livres, seja do moderador, Joaquim Jorge, seja dos participantes
no debate. Mais uma grande jornada, numa noite amena, de Prós-e-contras na
televisão, mas que não afetou a afluência ao debate.