13/08/2015

Poesia de um homem em momento de êxtase !


 Mijar
O Bus trepida nos paralelos, a vontade difusa ganha proporções de desconforto. Instintos primários assolam-nos o corpo, afogando toda a Humanidade no nosso espírito. Ainda faltam 3 paragens para casa. É impossível aguentar mais. Temos de sair já na próxima, procurar um café, um beco esconso, um arvoredo, tanto faz. É urgente.

Entramos no "Café Avenida" como um tigre obstinado, pedimos um café e o caminho para a felicidade.
Abrimos a porta do WC: sanita imunda, espaço insalubre, papel higiénico pastoso colado em tudo quanto é sítio, espelho amarelado, pastilhas elásticas na parede, “faço broches 91 xxx xxx”, caixote do lixo com restos de tudo, pegadas de lama e merda e mijo. Perfeito. O pénis é retirado das calças, o sangue flui frenético. Um impasse. Silêncio. SPLASH! lá vai ela, meia amarelada, quente e acolhedora, salpicos por todo o lado – que se foda, não é nossa –, todo o nosso corpo torna-se mijo, num processo alquímico misterioso. Desvanecemos. O detector de presenças confirma a metamorfose, a luz apaga-se, a paz é imensa, o que resta da nossa Humanidade debate-se, é preciso voltar… mas é tão bom, aqui, neste lugar… eterno… é preciso voltar… os braços largam o pénis e abanam no ar, numa luta pelo regresso à realidade. A luz acende-se. Um arrepio percorre o corpo, da cabeça aos pés. Estamos de volta. Uma última pinga desenha-nos um sorriso no rosto. Um suspiro enquanto lavamos as mãos. Olhamos o reflexo da nossa satisfação no espelho enquanto sacudimos as mãos. Voltamos ao balcão e o café aguarda-nos com um pires tapando o inevitável. O café está frio. Não importa. A alma já está quente.
10/10
ASS 
enviado por Isabel Coutinho