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Miguel Mota |
O programa “Olhos nos olhos”, na TV, em 6 de Abril de 2015,
teve como convidado o ex-ministro da Agricultura Capoulas Santos, que fez uma
equilibrada apreciação da agricultura portuguesa, focando o desenvolvimento
dado nos últimos anos e salientando a grande importância do Alqueva.
Referiu a recente diminuição do défice comercial agrícola,
pois agora exportamos mais e importamos menos produtos agrícolas. Lembrou que a
importação de cereais pesa muito no défice, pois a nossa produção de trigo, foi
diminuída.
O Dr. Medina Carreira perguntou “e não tem solução?” Na
sua resposta, o Dr. Capoulas Santos não indicou qualquer forma de reduzir o
défice em cereais, mas disse que a ideia será compensar esse défice com as
exportações de produtos que mais facilmente podemos produzir, como vinho,
azeite, hortícolas e frutas.
O problema do défice do trigo, é grave, não só pelo custo
das importações mas porque é um bem essencial. Se ficarmos sem a importação,
por motivo de guerra, por exemplo, as privações serão muito grandes. Lembro
sempre que os povos são mais facilmente derrotados pela fome do que pelos
canhões. Na Idade Média, a menos custosa forma de conquistar uma cidade era cercá-la
e esperar que a comida acabasse.
Admito que, mesmo no sequeiro alentejano, possa vir a ser
viável a cultura do trigo. Para além de novas e melhores variedades, que a
investigação agronómica portuguesa produzia com regularidade, antes da
destruição a que foi submetida e de que ainda não recuperou, considero
particularmente importante duas práticas agrícolas bem conhecidas: a drenagem
dos solos e as rotações das culturas. Sobre esses dois temas tenho publicado
muitos artigos, vários deles neste jornal, o mais recente “A drenagem” (24 de Abril de 2013), mas também noutras revistas e
jornais para agricultores.
Correndo o risco de me repetir, irei desenvolver mais os
dois temas porque a resposta do ex-ministro Capoulas Santos à pergunta do Dr.
Medina Carreira sugere não acreditar nessa possibilidade. O leitor pode pensar
que sou eu que estou errado, que esses dois temas não têm a importância que
lhes atribuo, e poderá concluir que o Alentejo terá mesmo que deixar de
cultivar trigo ou, como actualmente, em área muito limitada, longe da produção
necessária e obrigando a avultadas importações. Isso seria extremamente grave
para o país, pelas razões indicadas, o que torna importante envidar todos os
esforços para que tal não aconteça ou sejam reduzidas as quantidades a importar.
Os elementos em que me baseio são suficientemente evidentes
para manter a minha opinião. Para os transmitir aos leitores será necessário um
desenvolvimento, que apresentarei em próximos artigos. Mas vi recentemente que,
no último meio século, enquanto Portugal reduziu a sua produção de trigo, a
Espanha triplicou-a.