01/05/2015

Manuela Moura Guedes sem papas na língua na Clube dos Pensadores




A jornalista Manuela Moura Guedes (MMG), é uma pessoa incómoda sobretudo para o poder instituído, seja ele qual for. Pelo seu prestígio nacional, Joaquim Jorge convidou-a para dissertar sobre o jornalismo, política e a liberdade de imprensa em Portugal. Depois da habitual bem estruturada apresentação do convidado, neste caso, convidada, Joaquim Jorge deu a palavra à distinta jornalista que começou por fazer uma resenha do início da sua carreira de jornalista e a sua passagem pela política, onde foi independente nas listas do CDS. A sua versatilidade e talento levaram-na ao mundo da música, tendo editado um álbum que foi o mais vendido em Portugal na década de 80.
Na passagem pelo Parlamento constatou que os jornalistas ali baseados, bastas vezes, estavam moldados e no regaço do poder. Não se querem “chatear” e até combinam o que sair na imprensa, o que a desencantou. Contou o caso mediático Freeport que envolve Sócrates, de quem MMG diz nada ter pessoalmente contra, e que nem o conhece pessoalmente, mas foi sua vítima. A uma pergunta da plateia negou que fosse um caso pessoal contra Sócrates. Elencou um conjunto de casos estranhos que suscitou investigação jornalística, como o Portucale, envolvendo figuras públicas importantes, o caso BPN, o GES, sofrendo pressões de todos os lados, aliás, como se deve imaginar. Só não tem culpa, diz MMG, de ao investigar coisas “estranhas” caírem ligações onde está Sócrates: a licenciatura, as casinhas da Beira, a herança, a casa da Brancamp, a Cova da Beira, etc.. Como jornalista sempre teve a convicção de que quanto mais uma pessoa é responsável político, mais de lhe deve exigir. Para demonstrar que não é um caso pessoal, relatou o que lhe aconteceu ao tempo de Cavaco como PM, em que Marques Mendes a pôs na prateleira.
Sobre o jornalismo na televisão diz serem todos iguais, porque bebem a informação da mesma fonte, escasseando o jornalismo de investigação independente. É contra os comentadores políticos profissionais, cuja informação é direcionada aos respetivos partidos, por mais que façam a ginástica de independência. Brincou com o caso, dizendo que não conhece outro país em que tal acontece (um provincianismo, digo eu). O novo Diretor de Informação da RTP, Paulo Dentinho que viveu em Paris, manifestou desejo de acabar com essa prática. Vamos ver se consegue o intento.
Uma constatação da convidada sobre os jornalistas portugueses é a de que sofrem de complexo de esquerda. Dá o exemplo, se o atual PM fosse acusado de corrupção (como Sócrates está sendo acusado com evidências monstruosas), qual seria o comportamento? Seguramente que não seria o de proteção como está a acontecer com Sócrates.
Joaquim Jorge perguntou porque Manuela Moura Guedes retirou a queixa contra Sócrates e a convidada não deixou de contar pormenores do assunto, confessando que chorou no escritório do seu advogado ao tratar do andamento do processo, porque constatou que tudo lhe era hostil, desde o Presidente do ST, Noronha do Nascimento que obrigou um juiz a destruir as provas que incriminavam Sócrates até à proteção que o PGR, Pinto Monteiro, dedicava ao caso. Por isso, não quis reviver as angústias de uma perseguição e difamações em vão.
O comportamento dos portugueses foi também avaliado. Manuela Moura Guedes é de opinião que de modo geral os portugueses não são interventivos civicamente por causas, mas por interesses particulares. Quando lhes toca no bolso vão à rua, de contrário ficam no sofá que é mais cómodo e por isso estamos onde estamos, ao contrário de outros povos, designadamente os espanhóis, com movimentos organizados com peso na vida pública (2 recentes movimentos têm quase 50% das preferências eleitorais).
A cobertura das campanhas eleitorais pela imprensa e o bate boca político que se tem feito também foi tema abordado pela convidada, que refere que a lei que a rege é de 1975, quando os portugueses na sua maioria nem sabiam o que eram partidos políticos e democracia, eleições, etc. Hoje, 40 anos após essa data histórica, há conhecimento e responsabilidades de todos. Não faz sentido que não se distinga propaganda eleitoral de notícias de eleições. Até jornalistas confundem. Faz sentido os horários eleitorais obrigatórios (tempos de antena que são propaganda) e as notícias, que devem ser do foro da liberdade jornalística.
A crise na TAP foi comentada com veemência por Manuela Moura Guedes, que diz que a classe dos pilotos, uma classe privilegiadíssima é desleal com o Governo com quem celebrou um acordo, com os restantes trabalhadores e com o país, dadas as repercussões económicas graves que a irresponsável atitude conduz. Acha que os pilotos são os responsáveis pela empresa ir ao charco. É de opinião que o Governo deveria ser mais enérgico, simplesmente fechando a empresa e abrindo uma outra, limpando a agenda política dos dirigentes sindicais dos pilotos da TAP.
Mário Russo
Do dealbar da sessão, Joaquim Jorge pediu licença a Manuela Moura Guedes e anunciou novo debate a 25 de Maio, de grande impacto, convidando todos à sua participação.
Uma noite de excelente debate com uma pessoa simpática, incómoda e muito direta, que não tem papas na língua. Parabéns JJ e CdP.