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Mário Russo |
O sindicato dos pilotos da TAP,
uma classe de marajás das índias, decidiu uma greve de 10 dias com o argumento
de que o Governo não vai ou não está a cumprir o acordo assinado em Dezembro,
ao contrário do que diz o Governo.
Parece ser a agenda dos senhores
da Direção do sindicato, como de resto se passa com outros sindicatos, correias
de transmissão política dos partidos, sobretudo PC (CGTP), mas também PS e PSD
(UGT). Nenhum tem a menor intensão de defender os seus membros, mas as próprias
carreiras na estrutura sindical e partido correspondente.
Os pilotos querem 20% da
companhia e deveriam ter essa percentagem, inclusive a respetiva
responsabilidade percentual sobre a dívida da companhia. O Governo PPC não tem
sabido resolver este diferendo e teima em privatizar a qualquer custo, dando
combustível a radicais como o Presidente do sindicato que corre não sei por conta
de quem.
Os sindicatos das empresas
públicas de transportes têm causado prejuízos de centenas de milhões cujo
pagamento é feito pelos portugueses através de impostos. As suas greves são
injustificadas no plano racional e odiadas pelos portugueses. Ódio que pode
virar-se contra os próprios e dar uma ajuda ao governo nas próximas eleições,
dependendo do desfecho.
As greves no grupo TAP, só no
último ano ascendem diretamente a mais de 100 milhões de prejuízos. Esta greve
de 10 dias é criminosa a todos os títulos, porque põe em risco muitas empresas
ligadas ao turismo e a negócios, causando centenas de milhões de euros de
prejuízos. Ninguém tem o direito de prejudicar terceiros com a sua atuação,
quando não há alternativas. O Presidente do Sindicato deveria responder em
Tribunal pelo crime que comete. É uma espécie de senhor da guerra, pois vários
pilotos são contra este tipo de atuação, por mais que tenham razão. Este senhor
é uma espécie de Savimbi, o senhor da guerra que quando foi silenciado acabou
imediatamente a sangria que se derramava há décadas em Angola.
Fazer uma greve de um dia para
mostrar o descontentamento e para serem ouvidos, ainda se poderia justificar, coisa
que aliás nem precisam, pois basta ver que marcaram uma coletiva em horário
nobre em todas as TVs para o senhor presidente dos pilotos, alcandorado a
estrela mediática, vociferar as razões (infundadas) da paralisação. Marcar 10
dias é um crime premeditado para arruinar definitivamente a companhia e para isso,
não pode haver complacência. É crime contra a coisa pública. Ninguém tem o
direito de o fazer, por mais que possam reclamar direitos.
O Governo não pode ser tão
displicente com uma empresa em que é o único dono. Ou tem capacidade para pôr
ordem nas tropas, ou também deve assumir as suas responsabilidades políticas
claudicando e demitindo-se por incompetência. Um país ou uma empresa não podem
ser competitivos sem disciplina, ordem, competência e trabalho. Nada é
incompatível com a liberdade, até porque esta termina onde inicia a dos outros.
É o caso. Os pilotos da TAP não são taxistas. Têm sobre os seus ombros responsabilidades
que vão para além de empregados e para isso ganham mais de 20 salários mínimos
nacionais. Estão a representar um país e não podem pôr em causa o bom nome de
milhões de concidadãos e arruinar colateralmente quem não pode prescindir dos
seus serviços.
Este episódio revela a falência
das negociações do Governo, que as conduziu de forma inepta, mas também dos
pilotos sob a batuta do respetivo sindicato e seu presidente, que aceitaram uma
falsa negociação para se livrarem da requisição civil de Dezembro, sabendo que
a qualquer momento meteriam a faca ao peito do negociador.
O PS, na voz de António Costa,
deveria aproveitar a oportunidade para clarificar o que pretende fazer com a
TAP, preto no branco, sem titubear nem ter complacências, doa a quem doer. Os
portugueses querem e merecem veracidade nas propostas dos políticos. Por outro
lado, ninguém gosta de ser liderado por um fraco. É a hora de se mostrar
resoluto e assertivo, evitando o facilitismo.