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Miguel Mota |
Estive com ele por duas vezes no seu gabinete em Bruxelas,
quando ele era Director do FEOGA (Fundo Europeu de Orientação e Garantia
Agrícola), sendo responsável pela distribuição de muitos milhões de contos. Os
temas que fui tratar eram principalmente os relativos às escassas verbas que a
então CEE dedicava à investigação agronómica, o que eu considerava um erro.
Nem sempre concordei com o Sevinate Pinto. Por exemplo, num
jantar na Ordem dos Engenheiros, em que participou quando era ministro, critiquei,
no debate, a fusão do Instituto Nacional de Investigação Agrária com o
Instituto Nacional de Investigação das Pescas, que só têm afinidade, como com
muitas outras, serem dedicadas à investigação científica. E perguntei-lhe o que
é que ganhava, apenas economizar um Presidente? A resposta, esfarrapada, foi
que era para agilizar.
Neste caso acredito que a imposição viesse de cima. Há muito
estava em vigor, como continua, uma “lei” não escrita, que manda destruir todos
os organismos de investigação científica públicos que não sejam das
universidades. É uma “lei” bastante evidente mas parece que nem os mais directamente
afectados querem ver. Ao abrigo dessa “lei”,
usam o conhecido método de não extinguir duma só vez, aquilo que se quer fazer
desaparecer. Se o fizessem, isso poderia dar violenta reacção que talvez
comprometesse o objectivo. Começa-se por cercear meios para fazer o sector
definhar. Depois, vão-se juntando parcelas, para que cada entidade vá ficando
mais pequena. Nas instituições de investigação científica começa-se por juntar
departamentos; depois juntam-se instituições, mesmo que sejam de campos bem
diferentes. Quando tudo já está muito reduzido, a sua extinção já não causa grandes
protestos.
Há uma alternativa à destruição. É roubar a instituição ao ministério
em que se encontra e entrega-la a uma universidade. Que eu saiba, isso já foi
feito, pelo menos, a duas instituições e preparavam-se, recentemente, para o
fazer a outra. Numa conferência na Universidade de Évora, há uns anos, declarei
que, como Professor Catedrático, me sinto insultado por essa prova de
mediocridade e inveja.
Em Portugal, para a investigação científica, este processo
está em marcha há pelo menos três décadas e o que o país já perdeu com tal
destruição, só em termos económicos, é algo fabuloso. A investigação
científica, convém lembrar, é a fonte principal da agora muito badalada
“inovação”.
A última vez em que estive com Sevinate Pinto foi há pouco
mais de dois anos, em Serpa, em casa dum colega de curso, também grande especialista
de Economia Agrícola. Para comemorar o seu aniversário, convidou para um almoço
numerosos amigos, entre os quais colegas, alguns da sua especialidade, um deles
igualmente antigo ministro da Agricultura, Fernando Gomes da Silva. Calhou-me
ficar na mesma mesa que o Sevinate, o que permitiu uma mais longa troca de
impressões sobre os problemas da agricultura.
O desaparecimento de tão ilustre agrónomo é certamente uma
perda para a agricultura portuguesa.