12/04/2015

Armando Sevinate Pinto



Miguel Mota 
Como foi amplamente noticiado na comunicação social, faleceu no dia 29 de março o Engenheiro Agrónomo Armando Sevinate Pinto. Era um especialista de alto nível em Economia Agrícola, que exerceu elevadas funções no Ministério da Agricultura português, na Comissão Europeia e foi ministro da Agricultura no governo de Durão Barroso. Grande apaixonado pela terra, foi valiosa a sua contribuição para várias instituições.
Estive com ele por duas vezes no seu gabinete em Bruxelas, quando ele era Director do FEOGA (Fundo Europeu de Orientação e Garantia Agrícola), sendo responsável pela distribuição de muitos milhões de contos. Os temas que fui tratar eram principalmente os relativos às escassas verbas que a então CEE dedicava à investigação agronómica, o que eu considerava um erro.
Nem sempre concordei com o Sevinate Pinto. Por exemplo, num jantar na Ordem dos Engenheiros, em que participou quando era ministro, critiquei, no debate, a fusão do Instituto Nacional de Investigação Agrária com o Instituto Nacional de Investigação das Pescas, que só têm afinidade, como com muitas outras, serem dedicadas à investigação científica. E perguntei-lhe o que é que ganhava, apenas economizar um Presidente? A resposta, esfarrapada, foi que era para agilizar.
Neste caso acredito que a imposição viesse de cima. Há muito estava em vigor, como continua, uma “lei” não escrita, que manda destruir todos os organismos de investigação científica públicos que não sejam das universidades. É uma “lei” bastante evidente mas parece que nem os mais directamente afectados querem ver.  Ao abrigo dessa “lei”, usam o conhecido método de não extinguir duma só vez, aquilo que se quer fazer desaparecer. Se o fizessem, isso poderia dar violenta reacção que talvez comprometesse o objectivo. Começa-se por cercear meios para fazer o sector definhar. Depois, vão-se juntando parcelas, para que cada entidade vá ficando mais pequena. Nas instituições de investigação científica começa-se por juntar departamentos; depois juntam-se instituições, mesmo que sejam de campos bem diferentes. Quando tudo já está muito reduzido, a sua extinção já não causa grandes protestos.
Há uma alternativa à destruição. É roubar a instituição ao ministério em que se encontra e entrega-la a uma universidade. Que eu saiba, isso já foi feito, pelo menos, a duas instituições e preparavam-se, recentemente, para o fazer a outra. Numa conferência na Universidade de Évora, há uns anos, declarei que, como Professor Catedrático, me sinto insultado por essa prova de mediocridade e inveja.
Em Portugal, para a investigação científica, este processo está em marcha há pelo menos três décadas e o que o país já perdeu com tal destruição, só em termos económicos, é algo fabuloso. A investigação científica, convém lembrar, é a fonte principal da agora muito badalada “inovação”.
A última vez em que estive com Sevinate Pinto foi há pouco mais de dois anos, em Serpa, em casa dum colega de curso, também grande especialista de Economia Agrícola. Para comemorar o seu aniversário, convidou para um almoço numerosos amigos, entre os quais colegas, alguns da sua especialidade, um deles igualmente antigo ministro da Agricultura, Fernando Gomes da Silva. Calhou-me ficar na mesma mesa que o Sevinate, o que permitiu uma mais longa troca de impressões sobre os problemas da agricultura.
O desaparecimento de tão ilustre agrónomo é certamente uma perda para a agricultura portuguesa.