24/02/2015

Política S. A.



Está a chegar a hora da verdade. O ano de 2015 será o ano de um tempo novo ou mais do mesmo. Acho que tudo ficará na mesma ou parecido.
O PSD e o CDS, com toda a certeza, irão coligados, até por uma questão de sobrevivência. O PS tenta descolar mas não consegue. José Sócrates, sempre que é notícia, dá uma ajuda ao PSD e CDS e põe os socialistas num ataque de nervos. Todavia a Grécia e o Syriza têm dado uma ajuda à oposição a este governo. Afinal de contas, batendo o pé, consegue-se mais tempo para pagar e suavizar a austeridade.
Não me esqueço que o PSD e o CDS foram os obreiros de evitarmos a bancarrota. Todavia com que custos? Como foi feito? Não me parece que tenha sido a melhor solução. Quem perdeu com esta crise troikaniana foram os trabalhadores por conta de outrem, a classe média ligada à função pública. O ajustamento fez-se à custa de uma enormidade de pessoas que nada teve que ver com esta dívida e estão a pagar de uma forma injusta e torpe.
Os portugueses, em próximas eleições, irão votar sem alegria e sem convicção, outros nem lá põem os pés (a maioria). O PDR, o LIVRE não entusiasmam. O PCP irá ter uma votação recorde, por manter-se fiel aos seus princípios e como voto de protesto e alternativo a esta alternância balofa (PSD e PS). António Costa fala pouco para não se comprometer, mas se vencer será por poucos, sem maioria.
Os tempos de mudança em Portugal vão ter que esperar por melhores dias. Tudo chega a Portugal com muitos anos de atraso e este status quo vai-se manter com mais ou menos nuances. Os ventos de mudança, vindos da Grécia e Espanha, não vão chegar a Portugal.
Era preciso sanear o sistema para evitar que o anti-sistema leve a dianteira. O sistema corrompeu e destroçou a nossa política, a confiança dos cidadãos. Os nossos políticos fizeram um mau uso da democracia. A classe política viveu longos anos sem controlo e a tendência é distanciar-se da realidade dos cidadãos. Quem está na política e em cargos políticos deveria ser exemplar.
A política em Portugal parece Política S. A., quem lá está procura manter oestablishment e não romper o status quo. Não lhes falta nada: bons cargos, dinheiro, comer bem, acesso à saúde e ensino para os seus filhos. Mas quem vem de fora e tenta modificar as coisas não consegue por falta de meios, porventura engenho, mas também por medo dos portugueses e todas as dificuldades criadas por quem está no sistema político.
Como diz Jorge Lanata (jornalista argentino), «perguntar é desobedecer». Há tantas perguntas que esta Política S. A. não têm respostas.
O manter o poder a qualquer custo é o objectivo essencial dos nossos políticos. Não querem saber se lhe chamam: mentirosos, corruptos, ladrões, etc.
A única forma é manter uma militância de cidadania, exigir a prestação de contas e a criação de mecanismos de controlo, independência da política e da justiça assim como do mundo dos negócios. Denunciar e desmascarar situações despudoradas e pervertidas.
Incomodar sempre é o que nos resta e enquanto nos deixarem.
Há-de chegar o dia que se triunfará na política com verdade, exemplo e respeito pelos cidadãos.
JJ
*artigo de opinião publicado no Web notícias