Mário Russo |
Angola é um importante player na economia africana e mesmo
mundial porque é rica em recursos minerais, em água, terras férteis e
superfície. É 14 vezes maior que Portugal, podendo ser o celeiro de África. Um
famoso geólogo brasileiro disse que Portugal descobrira dois “escândalos” geológicos,
o Brasil e Angola, dadas as riquezas mineralógicas.
Na última década Angola foi de impar importância para
Portugal, pois foi refúgio económico de empresas e centenas de milhares de
portugueses que demandaram aquele país. Só que a sua economia, pese embora a
diversidade dos seus recursos naturais, depende em cerca de 76% do petróleo. A
atual luta estratégica internacional tem artificialmente feito com que o preço
do barril de crude venha caindo constantemente, sendo cerca de 40% do preço de
há um ano atrás, colocando sérios problemas ao plano de desenvolvimento de
Angola. E pior que tudo, a única certeza que temos é a incerteza. Não sabemos
até quando esta guerra continua e em que valor chegará o preço do barril.
No passado Angola, com as mesmas potencialidades, não tinha
divisas para encetar o seu desenvolvimento, pois necessita delas para comprar
quase tudo. Ninguém emprestava um cêntimo ao país e foi a China que se
apresentou com um cheque de 20 mil milhões de dólares, numa linha de
financiamento, em troca do petróleo, a 39 USD o barril como garantia. Durante
todo este tempo em que o barril estava a preços elevados a China beneficiou-se
da sua “generosidade” no negócio que o Governo de Angola teve de aceitar porque
a Europa, EUA e até o FMI, simplesmente negaram-se a acudir às necessidades do
país. Estranham porque é que a China domina na economia de Angola?
Neste momento Angola tem as suas receitas diminuídas drasticamente
e, por isso, dificuldades de captação de divisas para o seu desenvolvimento. Esta
situação já afeta as empresas estrangeiras, e em particular as portuguesas.
Poderá causar o despedimento de dezenas de milhares de portugueses que virão
engrossar o número de desempregados que o país já tem, para além de lançar uma
nuvem de desânimo na sociedade portuguesa que não será saudável para uma
economia que pretende sair da anemia em que se encontra.
As riquezas de Angola estão lá, o que precisam é que sejam
exploradas. A economia de Angola precisa de ser diversificada e ser desatrelada
do petróleo. Este deve ser mais um ingrediente para a sua economia, mas nunca o
carro chefe. O Governo tem feito um esforço grande na construção de diversas
infraestruturas, de escolas, centros de saúde, mas elas não farão nada sem
recursos humanos. É preciso a sua formação. Angola precisa de formação de
quadros intermédios e superiores qualificados (nenhuma universidade Angolana
está entre as 100 melhores de África, enquanto a de Cabo Verde e de moçambique,
fazem). Precisa de técnicos profissionais básicos de qualidade. Precisa de
investimentos na indústria, na agricultura e na pecuária para evitar ter de
importar tudo ou quase tudo. Esta é a oportunidade de Portugal e das empresas
portuguesas não deixarem escapar. Tal como fez a China, que é hegemónica
atualmente em Angola, Portugal pode ocupar o vazio que a falta de liquidez do
país tem, aportando o financiamento de que o país precisa, aproveitando as
facilidades que Draghi concede aos Estados membros da UE. Não será dívida para
Portugal, mas investimento com frutos.
Com efeito, para Portugal é estratégico porque é a
consolidação de uma ponte forte para o futuro. Nas horas más é que se constroem
essas pontes com benefícios comuns. Por outro lado, Portugal evitará despesas
sociais astronómicas com os “novos retornados”, como já ouvi dizer, e o efeito
moral devastador que o seu regresso forçado causará. O Governo Português tem de
tomar a dianteira e sentar-se com o Governo Angolano, de igual para igual, e
estabelecer um “Plano Marshal” para Angola continuar na senda do crescimento e
Portugal participar e dele também se beneficiar.
Angola precisa que seja garantido o financiamento para a sua
economia para suprir as carências na área do abastecimento de água, drenagem de
águas residuais, tratamento de resíduos sólidos, vias de comunicação,
habitação, educação e saúde. Portugal tem capacidade excedentária na área da
formação e com carência de alunos no ensino superior, que pode ser aproveitada
em Angola. Empresas portuguesas de vários domínios podem instalar-se em Angola
e produzir lá o que o país necessita de modo a reduzir as importações, mas é
preciso que isto seja feito num quadro de cooperação entre Estados. É pois a
oportunidade que Portugal sempre deixou fugir que se abre, haja ousadia,
coragem, inteligência e pragmatismo. Uma oportunidade pode não passar duas
vezes no mesmo caminho. Esta é uma delas.