01/02/2015

Angola, o petróleo e a oportunidade de Portugal




Mário Russo

Angola é um importante player na economia africana e mesmo mundial porque é rica em recursos minerais, em água, terras férteis e superfície. É 14 vezes maior que Portugal, podendo ser o celeiro de África. Um famoso geólogo brasileiro disse que Portugal descobrira dois “escândalos” geológicos, o Brasil e Angola, dadas as riquezas mineralógicas.
Na última década Angola foi de impar importância para Portugal, pois foi refúgio económico de empresas e centenas de milhares de portugueses que demandaram aquele país. Só que a sua economia, pese embora a diversidade dos seus recursos naturais, depende em cerca de 76% do petróleo. A atual luta estratégica internacional tem artificialmente feito com que o preço do barril de crude venha caindo constantemente, sendo cerca de 40% do preço de há um ano atrás, colocando sérios problemas ao plano de desenvolvimento de Angola. E pior que tudo, a única certeza que temos é a incerteza. Não sabemos até quando esta guerra continua e em que valor chegará o preço do barril.
No passado Angola, com as mesmas potencialidades, não tinha divisas para encetar o seu desenvolvimento, pois necessita delas para comprar quase tudo. Ninguém emprestava um cêntimo ao país e foi a China que se apresentou com um cheque de 20 mil milhões de dólares, numa linha de financiamento, em troca do petróleo, a 39 USD o barril como garantia. Durante todo este tempo em que o barril estava a preços elevados a China beneficiou-se da sua “generosidade” no negócio que o Governo de Angola teve de aceitar porque a Europa, EUA e até o FMI, simplesmente negaram-se a acudir às necessidades do país. Estranham porque é que a China domina na economia de Angola?
Neste momento Angola tem as suas receitas diminuídas drasticamente e, por isso, dificuldades de captação de divisas para o seu desenvolvimento. Esta situação já afeta as empresas estrangeiras, e em particular as portuguesas. Poderá causar o despedimento de dezenas de milhares de portugueses que virão engrossar o número de desempregados que o país já tem, para além de lançar uma nuvem de desânimo na sociedade portuguesa que não será saudável para uma economia que pretende sair da anemia em que se encontra.
As riquezas de Angola estão lá, o que precisam é que sejam exploradas. A economia de Angola precisa de ser diversificada e ser desatrelada do petróleo. Este deve ser mais um ingrediente para a sua economia, mas nunca o carro chefe. O Governo tem feito um esforço grande na construção de diversas infraestruturas, de escolas, centros de saúde, mas elas não farão nada sem recursos humanos. É preciso a sua formação. Angola precisa de formação de quadros intermédios e superiores qualificados (nenhuma universidade Angolana está entre as 100 melhores de África, enquanto a de Cabo Verde e de moçambique, fazem). Precisa de técnicos profissionais básicos de qualidade. Precisa de investimentos na indústria, na agricultura e na pecuária para evitar ter de importar tudo ou quase tudo. Esta é a oportunidade de Portugal e das empresas portuguesas não deixarem escapar. Tal como fez a China, que é hegemónica atualmente em Angola, Portugal pode ocupar o vazio que a falta de liquidez do país tem, aportando o financiamento de que o país precisa, aproveitando as facilidades que Draghi concede aos Estados membros da UE. Não será dívida para Portugal, mas investimento com frutos.
Com efeito, para Portugal é estratégico porque é a consolidação de uma ponte forte para o futuro. Nas horas más é que se constroem essas pontes com benefícios comuns. Por outro lado, Portugal evitará despesas sociais astronómicas com os “novos retornados”, como já ouvi dizer, e o efeito moral devastador que o seu regresso forçado causará. O Governo Português tem de tomar a dianteira e sentar-se com o Governo Angolano, de igual para igual, e estabelecer um “Plano Marshal” para Angola continuar na senda do crescimento e Portugal participar e dele também se beneficiar.
Angola precisa que seja garantido o financiamento para a sua economia para suprir as carências na área do abastecimento de água, drenagem de águas residuais, tratamento de resíduos sólidos, vias de comunicação, habitação, educação e saúde. Portugal tem capacidade excedentária na área da formação e com carência de alunos no ensino superior, que pode ser aproveitada em Angola. Empresas portuguesas de vários domínios podem instalar-se em Angola e produzir lá o que o país necessita de modo a reduzir as importações, mas é preciso que isto seja feito num quadro de cooperação entre Estados. É pois a oportunidade que Portugal sempre deixou fugir que se abre, haja ousadia, coragem, inteligência e pragmatismo. Uma oportunidade pode não passar duas vezes no mesmo caminho. Esta é uma delas.