19/01/2015

Venda da TAP em mais uma trapalhada




Mário Russo
A privatização da TAP já esteve na mesa de mais de um governo como forma de se verem livres de uma praga. Passos Coelho vai no mesmo sentido e já tem nova fórmula para se ver livre da empresa.
Tenho lido opiniões a favor da privatização, cujos argumentos juntam verdades com mentiras ou pelo menos carentes de prova, para concluírem que é inevitável a sua alienação para não falir. Nada que me comova ou me convença da sua verdade. O que se percebeu com a recente negociata do Governo com 9 dos 12 sindicatos da TAP (sindicatos à dúzia é mais barato), é que este e os demais Governos se mostraram ávidos em se verem livres da empresa pública por impotência e incompetência em lidar verdadeiramente com a situação e atiram para o alvo da privatização num misto de raiva e ódio pela constante oposição destes privilegiados e mimados funcionários: “ah é? Então vão ser privatizados para ver o que é bom, seus malandros”.
O que de facto a empresa precisa é de um Governo competente que enxugue a empresa em todas as vertentes, lhe estabeleça com clareza os objetivos, metas, meios, deveres e direitos. O argumento da venda como solução única é igual a tantos outros, do tipo “ou eu ou o caos”.
Agora o Governo apresenta o caderno de encargos em que coloca como condição a quem comprar a empresa não poder despedir trabalhadores e a cumprir o acordo de empresa (cardápio de privilégios indecorosos e ruinosos para a empresa, vulgo erário público). O desastrado Ministro da Economia e o Secretários de Estado dos transportes (e exímio vendedor de Swaps goela abaixo ao Governo, quando estava no privado) veio dizer que a manutenção destes privilégios de Marajá só era para os sindicatos que assinaram o acordo (representam, em número, 30% dos funcionários), numa manifestação de puro revanchismo e raiva, para além de uma ilegalidade que até o meu neto de 4 anos diria que é um disparate. No dia seguinte, depois de alguém do PSD com bom senso ter dito aos (in)competentes Governantes para terem juízo, deram o dito pelo não dito, com a mesma cara de tacho, asseverando que o privilégio é para todos os trabalhadores.
Fazendo fé no discurso, o comprador não pode fazer despedimentos coletivos na companhia e aqui está toda a subtileza. Na verdade, pode despedir como quiser, desde que não seja coletivo. É só começar a despedir seletivamente os que não interessar. Aliás, só assim é que poderá aparecer algum privado interessado…..., porque quem ficar com a empresa vai dimensioná-la para as rotas que interessar (as rentáveis), despachando os que estiverem a mais. Se não for assim, é bom para Portugal porque tenho dúvidas que possa aparecer alguém a comprar a empresa amarrada de pés e mãos e impedido de a reformar à sua semelhança.
Não sou contra privatizações, desde que justificadas, porque o Estado não tem de estar em todos os negócios. Por princípio sou a favor da economia estar na mão de privados com o Estado como regulador, fiscalizador e legislador, com exceção de setores estratégicos e essenciais. O transporte aéreo para um país que foi outrora um império, com interesses em vários continentes, que se mantém e deve ser intensificado, não pode correr o risco de ser vendido a privados que rasgam os acordos de manutenção do centro de decisão em Portugal e as suas rotas diretas a esses destinos. É um caso estratégico que Portugal não pode abdicar e perder como aconteceu com a CIMPOR, PT, EDP, com as consequências que se conhecem.
Este episódio de trapalhadas revela o nível de seriedade e de competência com que somos governados.