Mário Russo |
O
que vou escrever não é novidade neste espaço de opinião, pois já aqui publiquei
mais de uma vez artigos a criticar a estratégia de empobrecimento adotada pelo
governo de Passos Coelho ante a crise que nos assolou, que à austeridade se
somaria mais austeridade e miséria. Com efeito, bastou-me usar o senso comum do
homem da rua para chegar à conclusão do desastre que seria a manutenção dessa
política de assalto aos rendimentos do trabalho, o ataque aos funcionários
públicos e direitos dos trabalhadores, sem atacar na despesa, nas redundâncias
de instituições públicas, na organização administrativa do país, rendas
excessivas, PPP, corrupção, fraudes, evasão fiscal, tráfico de influências, entre
tantas outras questões evidentes.
Passos
Coelho optou por acriticamente ser um cãozinho seguidor da Alemanha. O que
Merkel lhe impunha ele aceitou com o complexo de inferioridade do bom aluno, vangloriando-se
de ir além da Troika, cavalgando impávido e sereno sobre os esqueletos de um
povo esquálido. A consequência é o que se sabe. O país bateu todos os recordes
negativos (pobreza, miséria, desemprego, emigração para fugir da miséria,
enfim, o que PPC desejou sempre, o empobrecimento para sermos competitivos).
Estruturalmente Portugal melhorou? Não, pelo contrário, piorou.
Esta
receita imposta sem reservas também não ajudou a Europa a sair da anemia. O
Presidente do BCE, Mário Draghi, ao assumir o Banco deu indicações que seria
diferente do seu antecessor, e tudo faria para salvar o euro. Acalmou os
mercados de dívida e Portugal (só por isso) começou a se financiar a taxas de
juro mais baixas. Mas PPC vangloriou-se da sua competência governativa para o
conseguir. Mas a economia europeia continua anémica e ontem finalmente o BCE põe
em prática a promessa de Draghi de despejar dinheiro na economia europeia para
a reanimar e tentar inverter o perigoso ciclo em que está a mergulhar. Solução
que PPC sempre se opôs e negou. Agora está a aplaudir hipocritamente como maria-vai-com-as-outras,
o que antes condenava.
O
preço do petróleo está a níveis tão baixos que era impensável apenas há alguns
meses atrás, de tal ordem que Portugal pode poupar o suficiente para pagar o
seu défice anual. Sobra mais euros na bolsa de quem vai à bomba de gasolina que
vão para a economia real. Ora, um país que foi ao fundo do poço, ao
empobrecimento quase absoluto, qualquer melhoria é um salto positivo. Só que é
ilegítimo reivindicar qualquer mérito deste governo. Por outro lado, as
receitas com as extorsivas cobranças de impostos também redundaram num
superavit superior a 600 milhões de euros e a evidenciar que o saque aos bolsos
dos contribuintes trabalhadores podia ser menos selvagem. Portanto, a reunião
de um conjunto de fatores externos é que está a potenciar ligeiras melhorias,
ou pelo menos a não agravar ainda mais a paupérrima situação da maioria do povo
português. PPC e Portas já vêm a terreiro reclamar os louros pela política
encetada, que é falso.
Nesses
artigos de 2012 dizia eu que “Portugal
precisa de reformas profundas, é verdade, mas são verdadeiras revoluções nas
áreas da administração central e local, na organização administrativa do
território, no modelo de desenvolvimento económico, na justiça e na educação
básica e secundária.
O resultado destas reformas é que tornaria o
país mais competitivo devido aos ganhos de otimização, de melhoria na gestão,
nas poupanças por racionalização de meios, entre outros. Seriam estes resultados
que trariam o tal equilíbrio financeiro, mas demoraria tempo a consolidar-se.
Com o garrote aplicado, teremos a promessa de empobrecimento garantida.
E é sempre a piorar, mesmo que os arautos
venham dizer que os índices apresentam comportamentos de crescimento. Nada mais
ilusório, porque crescimento após uma dieta que nos leva a 1990 não é
crescimento de coisa nenhuma, mas pura propaganda.”
Mantém-se
atual com a agravante de ter razão antes do tempo dos senhores que nos governam
e não conhecem o país real. Agora põem-se em bicos de pé como salvadores da
pátria. É preciso dizer bem alto o que fizeram e em que estado puseram o país
e, sobretudo, que o que se está ou estará a passar é consequência do que se
passa lá fora. No entanto, podem as coisas piorar para Portugal, pois a baixa
acentuada do preço do petróleo pode redundar numa nova leva de dezenas de
milhares de desempregados oriundos de Angola e seria um desastre para a
pretensão destes senhores governantes, que culpariam o exterior (porque é
negativo).