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Mário Russo |
Os políticos portugueses não estão bem vistos junto da
opinião pública. É a classe menos credível em Portugal. Certamente que alguns
não merecem isto. Aliás, acontece o mesmo em muitos outros países e isso deve
merecer uma reflexão profunda. Com efeito, a atividade política deveria ser
olhada e sentida pelos cidadãos, responsáveis por eleger, em países
democráticos, esses mesmos políticos, com a convicção de que são seus
representantes.
No entanto, o que se verifica é que nós os elegemos de
facto, porém condicionados a escolher numa lista elaborada por um diretório
local que se lá colocar o rato Mickey ele é eleito. Na verdade “somos”
obrigados a referendar aquela lista, e não nomes em que confiamos ou
acreditamos confiar. Ou seja, estamos reféns dum qualquer diretório de meia
dúzia que sequestra os partidos e decide o que quer.
Quem são esses políticos, com raras exceções? São a voz do
dono. Estão ali para servir interesses terceiros, de grupos económicos (banca,
saúde, construção civil, etc).
Vemos políticos negociar PPP e de seguida saírem para a
presidência dessas empresas. Sabemos que banqueiros mandam literalmente no
governo, indicando quem deve ser ministro ou secretário de estado da pasta A ou
B, ou exigir a demissão de quem estragar a sua estratégia (rendas elétricas
excessivas).
É um polvo com tentáculos na sociedade que a manipula. O
sistema faliu e quem está a pagar é o povo e vai pagar ainda mais com a
falência fraudulenta do BES. Por isso a
austeridade imposta por aqueles que levaram o país e a Europa a esta situação .
Os povos continuam a suportar a roubalheira conduzida por políticos
irresponsáveis, ladrões, incompetentes e malfeitores. O recente episódio de
Luxemburgo, mas a Holanda e Irlanda, paraísos fiscais para empresas que deixam
de pagar impostos nos seus países devido a manobras escandalosas que uma União
Europeia é permissiva ou conivente com o roubo, porque deste modo sobra para os
povos onde as empresas estão a operar, para pagar o que elas não pagam. Um
escândalo que só um cego não vê.
Os paraísos fiscais e offshores que servem para legalizar os
roubos continuam como se nada tivesse acontecido. A forma como é feita a
contabilidade das empresas baseada em ciências ocultas, para esconder roubos.
Tudo com o beneplácito deste paquiderme chamado UE.
Esta falência generalizada que bate palmas ao desemprego e à
austeridade imposta aos povos é responsável pela desesperança de milhares de
jovens que vivem nas periferias das cidades europeias, que estudaram e estão
sem emprego, sendo pasto fácil para o recrutamento por extremistas. Um cegueira
política não perceber os sinais.
Num quadro destes fiquei estarrecido com a proposta conjunta
PSD-PS das subvenções vitalícias a políticos. Como é que há coragem de fazer
uma proposta de reposição da subvenção vitalícia aos políticos que não estão no
ativo? Não consigo compreender como é
possível tanta “lata e desfaçatez“ quando o tamanho da ferida aberta entre
eleitos e leitores é evidente. Revela um desprezo tão grande pelo povo que
dizem representar que não há classificação possível para a proposta feita pelos
elefantes em loja de porcelana.
Mas ainda mais me espanta como é que o PS, que tem novo
líder, se deixar enredar numa proposta indecorosa e até odiosa.