«Há cinco dias "fora do mundo", tomo agora consciência de que,
como é habitual, as imputações e as "circunstâncias" devidamente
seleccionadas contra mim pela acusação ocupam os jornais e as televisões. Essas
"fugas" de informação são crime. Contra a Justiça, é certo; mas
também contra mim.
Não espero que os jornais, a quem elas aproveitam e ocupam, denunciem o
crime e o quanto ele põe em causa os ditames da lealdade processual e os
princípios do processo justo.
Por isso, será em legítima defesa que irei, conforme for entendendo,
desmentir as falsidades lançadas sobre mim e responsabilizar os que as
engendraram.
A minha detenção para interrogatório foi um abuso e o espectáculo montado em
torno dela uma infâmia; as imputações que me são dirigidas são absurdas, injustas
e infundamentadas; a decisão de me colocar em prisão preventiva é injustificada
e constitui uma humilhação gratuita.
Aqui está toda uma lição de vida: aqui está o verdadeiro poder - de prender
e de libertar. Mas, em contrapartida, não raro a prepotência atraiçoa o
prepotente.
Defender-me-ei com as armas do Estado de Direito - são as únicas em que
acredito. Este é um caso da Justiça e é com a Justiça Democrática que será
resolvido.
Não tenho dúvidas que este caso tem também contornos políticos e sensibilizam-me
as manifestações de solidariedade de tantos camaradas e amigos. Mas quero o que
for político à margem deste debate. Este processo é comigo e só comigo.
Qualquer envolvimento do Partido Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o
Partido e prejudicaria a Democracia.
Este processo só agora começou.
Évora, 26 de Novembro de 2014
José Sócrates»