Tereza Halliday |
Raiva é
sentimento legítimo, inerente ao ser humano. Temos o direito de senti-la. Mas
não temos o direito de expressá-la violentamente, inclusive com atos de
violência verbal, quando somos contra alguma coisa ou desgostamos de alguém. As
redes sociais da Internet são instrumentos utilíssimos para ajudar pessoas,
promover boas causas, fazer campanhas do Bem. Mas também têm servido de esgoto
para expressões de raiva e intolerância, sem nada acrescentar ao bem estar
coletivo. Caso recente foi o tratamento preconceituoso dado a Melissa Gurgel,
Miss Brasil 2015, por causa de seu sotaque cearense. Os detratores ficaram cegos
- ou, talvez enciumados e invejosos - porque ela é linda, simpática e
desembaraçada.
Quando se tem
preconceitos contra quem não é do mesmo lugar, grupo étnico, cor de pele,
orientação sexual, religião, time de futebol, a parte mesquinha do
preconceituoso aflora e encontra terreno fértil nas redes sociais – as mesmas
que podem dignificar alguém em vez de humilhar. Caçoar de alguém por seu sotaque
diferente é universal. Humor duvidoso, no mínimo. Aqueles poucos sulistas que
praticam o menoscabo contra brasileiros de outras regiões por falarem
“diferente”, não se dão conta de que seus respectivos sotaques também seriam
passíveis de gozação, por gente como eles, que prefere esculhambar a ser gentil.
Troquemos a gozação e
má vontade face ao diferente, por um olhar positivo quanto à diversidade:
variações de pronúncia são riqueza linguística, seja entre os países que usam
um mesmo idioma, seja nas diversas regiões de um mesmo país. Para mim, os
sotaques regionais brasileiros são todos lindos, porque eu os ouço com amor. São
os falares de pessoas particularmente queridas e/ou compatriotas: Olenca, do Rio
Grande do Sul, Heló e Guil, Dejoel e Cula, de Minas, colegas de universidade em
São Paulo, primos e amigos cariocas, baianos e cearenses. Suas particularidades
melódicas enriquecem os ouvidos e embalam o coração.
(Diário de Pernambuco,
20/10/2014)