30/07/2014

BES – mais um a caminho do Precipício?



Mário Russo
O BES era um banco liderado por uma família de banqueiros tradicional que passava a ideia de se pautar por gestão rigorosa e séria, à luz dos princípios dos grandes banqueiros. Há cerca de dois anos veio a lume um “esquecimento” de uns milhões a mais nos rendimentos de Ricardo Salgado, o patriarca da família, não declarados ao fisco. Para remediar a situação pagou o imposto e a multa e tudo se sanou. Nada que milhares de portugueses não façam ou tenham feito.
O que me surpreendeu foi o motivo: Ricardo Salgado recebeu uns milhões, de um construtor civil, a troco de informações privilegiadas a respeito de negócios em Angola. Mas de um banqueiro com a reputação de Ricardo é que me surpreendeu. Se Ricardo Salgado intermediasse empresários portugueses com interesses em Angola, beneficiando do seu grande prestígio, sem receber a clássica “luva” à moda de qualquer pato bravo, ainda se compreendia. Mas assim, como qualquer comissionista? O avô de Ricardo deve estar a dar voltas no túmulo.
Nos últimos tempos tivemos a guerrilha em família que só mostrou fragilidade, a que se juntou uma desastrada intervenção do Presidente do BdP que sai de mão a abanar, como Pilatus, depois de mergulhar o Banco em incertezas. Para agravar a situação só mesmo a inusitada detenção de Ricardo Salgado para averiguações, saindo da prisão sob fiança. Uma reputação de décadas deitada na lama num ápice. Uma cena entristecedora.
Ricardo e família eram donos de cerca de 25% do BES. Eram os donos, mas não únicos. No entanto, usaram o banco para financiar 400 e tal empresas do grupo, umas bem, outras mal geridas e que deram para familiares e amigos se aproveitarem e viver como marajás das Índias no mais sumptuoso luxo. Nada contra este tipo de vida, desde que com o próprio dinheiro. O BES está, por isso, muito exposto a todo o crédito concedido que me arrisco a dizer incobrável.
O dinheiro do BES foi usado para a família se movimentar nos vários palcos do mundo dos negócios. Agora o caminho parece ser o de um BPN. Os indícios são mais que muitos. O argumento do “too big to fail” que tantas vezes se ouviu, foi desmentido com a falência do Lemann Brothers. O futuro é negro para o BES e um revés profundo naquilo que ainda há uns anos parecia indesmentível que é a solidez dos bancos. Hoje desponta a ideia de que os bancos são organizações de malfeitores, muito bem assessoradas, que manipulam mercados, que influenciam negócios, que aconselham mal os clientes para se beneficiarem e fogem aos impostos a sete pés, pondo os contribuintes a pagar a fatura com o beneplácito dos governantes.
Não é uma boa notícia para Portugal ter um banco ícone ir por água abaixo. A nova presidência e administração por mais séria e competente que seja tem limitados poderes e pode não ter condições para devolver a confiança de que tanto necessitam os bancos. Infelizmente estou pessimista quanto ao futuro deste Banco que transpirava saúde até há bem pouco tempo. O trilho parece ir direto para o precipício, tal como aconteceu com o BPN. As semelhanças são tantas que dificilmente o desfecho será outro. Espero estar enganado e ficarei muito contente se estiver equivocado.