O
desemprego é um flagelo social e um drama insolúvel. Estamos a cortar
na despesa à custa de quem trabalha por conta de outrem. A maioria dos
portugueses, não todos, tem feito sacrifícios impensáveis e deixaram de
viver. Estão resignados a viver um dia de cada vez sem projectos e
futuro.
A sociedade portuguesa deixou de sonhar e quem não sonha não faz
coisas bonitas. A frieza com que o governo olha para os desempregados é
atroz e fica como uma marca indelével deste governo.
O dever de um governo é olhar pelos seus cidadãos. O governo deveria
fazer ver à troika a necessidade de activar a economia para gerar
emprego. Quanto mais cortes e austeridade há, mais os portugueses ficam
dependentes de subsídios e mais se agrava o défice apesar de estarmos
sempre a cortar.
Muitos dos desempregados de longa duração não vão ter a possibilidade
de arranjar novo emprego e depois de se lhes acabar o subsídio de
desemprego, ficarão à sua mercê e o governo não os abandona totalmente
mas enxota-os para o lado e não quer mais falar com eles.
Muitos desempregados, não todos, podem requerer a reforma antecipada
desde que, cumulativamente, se verifiquem os seguintes requisitos:
• ficar desempregado aos 52 anos
• ter aos 57 anos esgotado o subsídio de desemprego e o subsídio
social de desemprego (este último se a pessoa tiver direito a ele)
• ter mais de 22 anos de descontos
Caso a pessoa consiga a reforma antecipada, terá, até atingir os 62
anos de idade, uma redução de 0,5%/mês por cada ano de idade que estiver
em falta face aos 62.
A partir dos 62, terá um desconto de 0,25% até atingir a idade legal de reforma.
O enquadramento legal desta possibilidade é dado pelo Decreto-Lei n.º 220/2006, de 3 de novembro, no art.º 57.º - n.º 3.
Há também o Guia prático "Pensão de Velhice", disponível no site da Segurança Social através deste link, onde também se encontra esta informação.
Isto quer dizer, que pessoas com descontos feitos ao longo dos anos
podem reformar-se, mas dão com uma mão e tiram com a outra. No fundo
podem reformar-se mas na maioria dos casos vêm super-penalizado.
Um simples exemplo. Um desempregado termina o seu subsídio de
desemprego com 57 anos. Até perfazer 62 anos fica com uma penalização de
6% ao ano. Como lhe faltam 5 anos até aos 62. Fazendo as contas
5x6=30%.
Mas não se fica por aqui, pois a reforma actualmente está nos 66
anos. Daí dos 62 para os 66 anos vão mais 4 anos. Aqui a penalização é
somente de 3% ao ano. Fazendo as contas - 4x3% = 12%.
Somando a penalização antes dos 62 e depois dos 62 anos (30%+ 12%=
42%), a penalização de um desempregado de longa duração é altamente
elevada, penalizadora e indigna.
Alguém que fez descontos toda a vida do seu trabalho, ficou
desempregado por imposição da crise e por muitos patrões sem escrúpulos,
fica como um tolo no meio da ponte. O drama para além do desemprego é
ter que optar por uma solução gravosa e aniquilante.
Entre nada receber depois de terminar o seu subsídio de desemprego,
pois não consegue arranjar, de novo, emprego e ter uma côdea e uma
esmola, opta naturalmente pelo mal menor, pedir a reforma antecipada com
uma penalização à volta de 50%.
Este país não é para novos, mas também não é para velhos. A chamada
geração ex-nova ou semi-velha que são muito velhos para arranjar emprego
e muito novos para se reformar está numa encruzilhada em que até ao fim
dos seus dias vão viver com muitas dificuldades apesar de não terem
culpa nenhuma do que se passa em Portugal.
JJ
*artigo de opinião publicado no PT Jornal