A
corrupção está generalizada, tendo piorado nos últimos anos, afecta o
dia-a-dia de mais de um terço da população, segundo o Relatório de
Bruxelas da Comissão Europeia. Este resultado é gravíssimo, em que a
eficácia no combate a este crime está longe de convencer os portugueses.
A corrupção é um crime, mas é difícil descobrir o seu rosto por não
haver vontade política em definir uma estratégia de luta contra este
flagelo que assola o nosso país. Infelizmente, do número de casos
investigados por corrupção (838), somente 8,5% resultaram em decisões
judiciais passados vários anos.
É lamentável os portugueses acharem que a corrupção é uma problema
totalmente generalizado no país para 90% dos portugueses assim como a
única forma de ter sucesso no mundo empresarial somente com ligações
políticas para 60% dos portugueses.
Os partidos políticos dão um péssimo exemplo. Como diz Augusto
Branco, “enquanto forem permitidas campanhas eleitorais milionárias
haverá corrupção no governo, pois alguém precisará pagar a conta da
campanha. Ninguém doa tanto dinheiro para uma campanha eleitoral à toa.
Não existe tanto idealismo assim, neste mundo, ou a humanidade não
padeceria de tantos males”. Eu acrescentaria este pensamento ao poder
local.
A corrupção é definida como a utilização do poder ou
autoridade para conseguir obter vantagens e fazer uso do dinheiro
público para o seu próprio interesse, de um familiar ou amigo.
Há várias formas de combater a corrupção, começa logo pelo nosso
comportamento e atitude no dia-a-dia, mas a vida é complicada e injusta.
Ser honesto nesta vida é filha da mãe. Ser honesto num mundo corrupto é
para tótós e tansos. Devemos comportarmo-nos honestamente em todas as
coisas como diz Hebreus.
Todavia ver o parceiro do lado a ser corrupto a corromper e a
enriquecer de forma ilícita de uma forma desmesurada e o honesto com uma
vida digna, humilde e com dificuldades todos os dias, não é fácil.
Por outro lado a corrupção, a partir de certo nível, exige que todos
sejam corruptos. Quem se recusa é alvo de pressões insustentáveis. É um
processo de selecção negativo.
Mas a corrupção favorece as ideias novas como diz Teixeira Pascoaes,
com medidas preventivas, contra práticas de corrupção no financiamento
de partidos e pela existência de código de conduta aplicáveis aos
funcionários públicos que se devem estender aos funcionários privados e
ao sector privado. Para além da prevenção, a investigação criminal e
aperfeiçoamento da legislação. A corrupção começa num pequeno favor e
vai por aí adiante, sem fim, tornando um “crimezinho” num “crime” e num
“crimão”.
É preciso mão dura, um redobrado esforço para combater a impunidade e
que se vejam resultados. Por exemplo, a justiça islandesa considerou
que o antigo primeiro-ministro Geir Haarde foi culpado pelo crime de
negligência que levou o país à bancarrota. Na Roménia foi preso o antigo
primeiro-ministro Adrian Nastase condenado a quatro anos de prisão por
aceitar subornos. Na Grécia o antigo ministro da Defesa Akis
Tsochatzoopoulos foi condenado por lavagem de dinheiro em contratos de
compra de equipamento militar.
Em Portugal os processos demoram uma eternidade de tempo. Há imensos
casos que envolvem suspeitas de alto nível de corrupção e financiamento
ilegal de partidos. Temos o Apito Dourado, Freeport, Submarinos,
Taguspark, Face Oculta, etc.. Só o Apito Dourado teve consequências e
condenações, tudo ligado ao futebol português.
No fundo em Portugal, na prática pouco muda e as reformas são para inglês ver.
E a pior coisa que pode acontecer é a percepção dos cidadãos que não
adianta nada combate à corrupção, os corruptos andam à solta e cheios de
dinheiro pelo que fazem ilegalmente.
Por isso digo que neste país ser honesto é uma anormalidade e é muito
difícil resistir à influência da corrupção. Ver os corruptos a
enriquecer a terem uma vida boa e nada lhes acontece ao contrário de
quem é honesto e incorruptível
Não há corrupção zero, mas é muito importante uma população
esclarecida acerca dos seus direitos, é mais difícil de enganar. A
corrupção é proporcional à democracia como diz Thomas Huxley, deste
modo, a nossa democracia tem um longo caminho a percorrer. A culpa é dos
cidadãos corruptos sem princípios mas também de quem não denuncia por
medo devido à falta de mecanismos de protecção para o denunciante. Entre
se incomodar e fazer de conta que não se passa nada, é mais fácil ficar
quieto e mudo.
Uma das formas melhores de combater a corrupção é cada um de nós no
dia-a-dia ter uma atitude vigilante, firme contra todo o tipo de
práticas ilícitas, a começar pelo pequeno favor.
JJ
*artigo de opinião publicado no PT Jornal