19/02/2014

A pobreza dos ricos


Pedro Liverpool
Ser rico é bom para as sociedades onde estes estão inseridos: criam empresas e empregos, pagam impostos, criam riqueza e permitem às pessoas criarem alguma riqueza, também.
Há, porém, os ricos desonestos (que a justiça, em Portugal, não sabe diferenciar), que não são tão úteis à sociedade - como a origem do dinheiro é ilícita, não paga impostos, o dinheiro é fruto de corrupção e está a ser lavado para ser reintroduzido na economia e, finalmente, está a desvirtuar as regras do mercado onde possa estar inserido, criando lucros artificiais em empresas onde há prejuízo, pondo enorme pressão nas empresas honestas.
Há, contudo, uma coisa comum a ricos honestos e ricos desonestos: devido à intensidade das suas vidas, sendo pessoas de negócios 24h por dia, não têm tempo de usufruir das coisas simples da vida - um piquenique à beira mar no Inverno, passear à chuva no campo e cheirar a terra molhada, pedalar de bicicleta à beira rio...
Quem possui qualidades empreendedoras deve aproveitar e rentabilizá-las. Dinheiro faz dinheiro.
Há um limite em que a estabilidade financeira, a que toda a gente aspira, se enrola numa onda de ganância em ganhar mais e mais, a acumular mais e mais império, e a qualidade de vida passa a ficar altamente sacrificada e dependente da luxúria. O único prazer que se retira da vida vem do dinheiro. Em excesso. Manter contacto com o mundo real passa a ser quase impossível, para quem detém mais império, do que aquele que pode abraçar e que precisaria.
Passa a ser escravo do seu próprio talento e obsessão. Sem tempo de ajudar os outros e sem mesmo reconhecer que os outros precisam de ajuda, direito de lazer, de tempo para a família…, em suma, dos prazeres simples da vida.
É assim que começa a escravatura: por aqueles que são ricos mas que já são eles escravos – dos bens materiais.